Capítulo 14

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Luiza acordou sentindo-se extremamente confortável. Mesmo estando numa cama de solteiro. Seu corpo estava quase todo em cima de Valentina .
As pernas entrelaçadas. A cabeça na curva do pescoço alvo. O lençol cinza cobrindo-as até a altura dos seios. Ambas nuas. Lembrava-se de tudo o que aconteceu, e sentiu uma felicidade de tamanho inimaginável.
Luiza nunca achou que poderia ser amada por alguém, resultado das ofensas que sempre recebia na escola. Achava também que sentia uma paixão platônica por Valentina.
Achava muitas coisas até sentir a maciez dos lábios da menor nos dela, e se deu conta que amava a garota de olhos verdes.
Sempre planejou sua vida nos mínimos detalhes, mas se entregar na noite anterior foi melhor do que qualquer planejamento.
A mão pálida descansava na curva da cintura dela . A morena pegou-a entre as suas e depositou um beijo em cada dedo, até a palma, onde plantou um bem demorado.
Valentina remexeu-se preguiçosamente e sorriu abrindo os olhos claros, encontrando os castanhos e um sorriso enorme da morena .
— Bom dia. — A menor falou com a voz arrastada.
— Ótimo dia. — Luiza falou depositando vários selinhos nos lábios rosados de Valentina .
A garota sorriu mais abertamente e olhou o relógio na mesinha ao lado da cama.
— Ainda são sete e quinze. Temos que levantar? — Perguntou enquanto afagava o rosto moreno.
— Meus pais só devem chegar mais tarde. — Respondeu sorrindo. — Mas eu quero tomar café com você a sós.
— Tudo bem. Mas antes, quero te dar isso.
A menor sentou-se na cama, enquanto a morena a olhava curiosa.
Retirou o baú abaixo da cama e fisgou o colar de crucifixo, depositando o objeto rosa no mesmo lugar. Segurou o colar entre as mãos, e abriu o fecho.
— Quero que use e lembre de mim. — Aproximou-se da morena, que levantou os cabelos escuros e Valentina prendeu o colar em seu pescoço.
— Por que você fala como se algo de ruim fosse acontecer? — Perguntou a maior, passando a ponta dos dedos pelo colar, enquanto sentia seu peito encher-se de felicidade e preocupação.
— Porque eu não sei do futuro,Lu . Eu realmente não sei. — Disse e respirou fundo.
— Eu te amo. — Declarou olhando nos olhos verdes. — Tudo ficará bem, eu estou aqui com você, assim como você está aqui para mim. — Completou docemente.
— Eu sempre estarei. — Confirmou beijando a testa da morena . — Vamos tomar café então. Tem uma receita de panquecas que Marina sempre fazia. Quero fazer pra você. — Mudou de assunto, esboçando um sorriso de felicidade.
— Eu vou adorar ver você cozinhar pra mim. — A menor selou seus lábios, antes de ambas saltarem para fora da cama.
...

Anny recebeu toda a ficha de Verônica por um anexo de e-mail horas depois. Imprimiu tudo e leu cada folha atentamente.
A mulher abandonou a faculdade de direito na metade do terceiro ano e no entanto, tinha se tornado chefe dos policiais da delegacia.
Não que fosse um emprego de muita importância. A cidade era absurdamente pequena, mas qualquer um que quisesse o emprego de Verônica , teria que no mínimo possuir uma faculdade ou ter feito um curso rigoroso, como todo policial já fez. Todavia não constava isso na ficha dela.
O pai de Verônica era jardineiro, e a mãe faxineira. Ambos pobres, foram brutalmente assassinados em um assalto. A loira cresceu em um orfanato, e não possuía riquezas. Entretanto o carro que a mulher dirigia dizia o contrário. Assim como o bairro nobre que estava escrito como endereço da mesma, o qual Anny anotou em seu bloco de notas.
O salário de Verônica certamente não pagaria tais benefícios luxuosos.
Levantou-se de sua cadeira giratória e encontrou Verônica sentada, olhando o movimento da delegacia enquanto bebia um café.

— Irei sair para resolver algumas coisas sobre o caso da Albuquerque . — Mentiu.
— Descobriu algo? — Perguntou curiosa e alarmada.
— Não é da sua conta, barbie quarentona. Apenas não me espere. — Saiu da delegacia sem dar tempo de Verônica responder. Entrou em seu carro e partiu para o endereço da loira.
Verônica na mesma hora entrou em sua sala e pegou o celular do bolso da jaqueta, apertando o primeiro número da discagem rápida.
— Ela acabou de sair. — Informou.
—Certo. Apenas aguarde contato. Ela não será mais um problema. — A voz rouca disse, desligando logo em seguida.
...
— Oh Meu Deus, Val! Estão uma delícia! — Exclamava a morena de boca cheia enquanto comia sua terceira panqueca.
Após tomarem banho juntas por muita insistência de Luiza , que achava fofo a outra garota ainda corar depois de tudo o que fizeram juntas na noite passada, ambas desceram para aproveitar que os pais da morena não tinham chegado ainda e fizeram uma bagunça na cozinha.
— Depois de você me sujar com farinha e ficar beliscando a massa, acho que ficaram tão boas quanto as da minha irmã. — Valentina comia olhando divertidamente para Luiza .
— Não acredito que são integrais e vegans. — A baixinha comentou ainda fascinada degustando a comida.
— Pode acreditar que são. Marina tinha essa coisa com comidas integrais e então ela criou essa receita meia maluca com ingredientes light e ensinou para mim quando eu era pequena — Respondeu a menor , suspirando em seguida.
A morena limpou a boca após engolir a comida e levantou de seu lugar, sentando no colo de Valentina em seguida.
— Você sente falta dela, não é? — Perguntou enquanto afagava o rosto alvo.
— Mais do que você imagina. Sempre sentirei falta dela e dos meus pais. — Respondeu apoiando a cabeça no ombro da maior .
Luiza apenas abraçou ela enquanto beijava seus cabelos . Não tinha o que dizer. Sabia que nada do que dissesse iria trazê-los de volta.
O silêncio confortável foi quebrado pelo toque do telefone da cozinha. Luiza levantou do colo de Valentina e foi atender.
A outra garota permaneceu em seus pensamentos e nas lembranças que se apossaram de sua cabeça. Os passeios com Marina ao shopping. O modo como a mais velha negava quando Valentina pedia para brincarem juntas, mas no final sempre passava horas vestindo as bonecas com a pequena .
Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu Luiza sentar em seu colo novamente, enlaçando seu pescoço com os braços.
— Era papai. Eles vão direto para o trabalho. Tomaram café da manhã por lá e só chegam a noite. — Informou, depositando alguns selinhos em Valentina .
— Que bom. Assim eles não vão ver a cozinha suja de farinha. — Comentou a menor com um sorriso maroto.
— Falando em farinha, você pode fazer mais panquecas? — Pediu com os olhos castanhos brilhando.
— Se você prometer não me sujar mais. — Respondeu com as mãos na cintura da maior .
— Eu prometo. — Respondeu rapidamente.
Valentina apenas deu uma risadinha e levantou com uma Luiza saltitando atrás dela. Pegou todos os ingredientes e iniciou o preparo, quando sentiu um punhado de pó sendo jogado contra si.
— Você não falou nada sobre fermento. — Luiza sorria como uma criança feliz, quando sentiu uma porção generosa de açúcar sendo jogada contra seu cabelo.
— Prepare-se para a vingança então. — Valentina agora sorria abertamente, iniciando uma guerra desastrosa na cozinha dos Campos .
...

Anny estacionou o carro na garagem do luxuoso edifício e saiu em passos firmes, parando na recepção. Olhou com desprezo para um sujeito baixinho que trajava o uniforme da portaria.
— Em que andar mora a senhorita Verônica Smith ? — Perguntou secamente.
— Senhora, a senhorita Smith não se encontra, e ela tem ordens para não deixar ninguém subir sem sua autorização. — O homem baixo tentava dar seu melhor semblante sério.
A agente mostrou seu distintivo do FBI para o homem.
— Sou agente especial do FBI e se não quiser desrespeitar ordens federais e sentar com essa bunda branca em uma cela dura e cheirando a ratos, sugiro que não comente isso com ninguém e me informe o andar em que a senhorita Smith reside. — Falou friamente, guardando o distintivo.
— S...sim senhora, me desculpe. — Pediu o homem, olhando algo na tela do computador. — A senhorita Smith mora no apartamento quarenta e dois. — Informou nervoso. — Não faça com que eu seja demitido, tenho uma família. — Implorou com tom de súplica.
— Isso dependerá de você e da sua boca fechada. — Respondeu já se dirigindo ao elevador.
Anny chegou ao andar e rapidamente avistou uma grande porta, que tratou de abrir rapidamente com um grampo que sempre levava consigo. Agradeceu aos céus por ter tal habilidade para abrir portas e adentrou no local.
O lugar era enorme. O sofá era preto e com um couro impecável. Quadros com pinturas abstratas decoravam as paredes e eram assinados por pintores famosos. O chão era de mogno e a sala possuía uma lareira sofisticada.
Tudo era caro demais para uma chefe de polícia daquela cidade . Entrou no corredor lateral esquerdo que era decorado com mais quadros e avistou uma única porta no fim do mesmo.
Entrou como um furacão e olhou minuciosamente o quarto de Verônica . A cama king size estava perfeitamente arrumada. Mas o que chamou a sua atenção foram os porta retratos em uma estante ao lado da porta da suíte. Anny aproximou-se e olhou um por um.
Fotos de Verônica com Jack . Com James . Fotos da formatura do ensino médio. Sempre com eles e...
Anny pegou um porta retrato de cristal e viu Verônica sentada entre Jack e James. Mas o que a deixou boquiaberta foi a quarta pessoa ao lado deles. A maioria das fotos eram compostas pelos quatro.
E quando Anny olhou para a mesinha de cabeceira não acreditou no que viu. Verônica enlaçava os braços em volta do pescoço da figura alva, enquanto a mesma pessoa beijava seus lábios.
Avistou o notebook de Verônica jogado sobre a cama e logo o pegou. Seu e-mail estava aberto e Anny logo tratou de ler todos eles. Seu corpo todo entrou em choque e ela começou a ligar todos os acontecimentos.
Pegou rapidamente o celular e tirou fotos de tudo. Encaminhou os e-mails para o seu próprio e-mail e depois de conferir as imagens, deixou o apartamento às pressas.
Desceu rapidamente para a garagem do edifício e entrou em seu carro. Saiu dali o mais rápido que pôde, e não notou que estava sendo vigiada por uma figura trajando seu típico sobretudo preto, que só não a atacou em razão das câmeras de segurança.
Estava na metade do caminho quando notou que estava sendo seguida por um carro preto. Rapidamente acelerou e achou que o tinha despistado. Pegou o celular e discou o número de sua amiga e assistente. A chamada caiu na caixa postal.
— Becky...ouça isso...se algo acontecer comigo, mostre esse recado para o meu superior. Valentina Albuquerque é inocente...

A chamada foi interrompida pela falta de sinal da estrada e Anny praguejou a cidade por ser tão pequena. Guardou o celular em seu bolso e concentrou-se na estrada.
Faltava apenas uma rua até chegar em sua casa e imprimir tudo para expor o que realmente aconteceu, quando sentiu um forte impacto no seu lado do carro, fazendo o veículo bater em uma árvore.
Seu rosto bateu no volante e Anny desmaiou. A figura de preto saiu de seu veículo e caminhou lentamente até a agente, pegando o celular de seu bolso, jogando-o no chão e pisando no mesmo.
Essa pessoa só não contava que antes de destruir o aparelho, as imagens já haviam sido enviadas para o e-mail da mulher desmaiada à sua frente.

Forever YoursWhere stories live. Discover now