Capítulo 19

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Todos levantaram-se das cadeiras quando avistaram Luiza se aproximar com seus pais . Pessoas desconhecidas lhe lançavam olhares penosos. Uma semana havia passado desde o incêndio que abalou a cidade e depois de Anny Jones apresentar todas as provas, e Luiza , Juliana e Camila declararem todo o acontecido, desde a fuga de Valentina , até o ato altruísta de salvá-las e acabar falecendo tragicamente.

De psicopata , assassina e foragida de uma clínica psiquiátrica, Valentina passou a ser uma heroína e a principal inocente de tudo. Finalmente seu nome havia sido limpo. Uma pena ela não estar agora ali para ver isso.
Os corpos haviam sido tão danificados pelo fogo que foi impossível recolher DNA, apenas pelo tamanho puderam deduzir quem eram Valentina e quem era Marina ,depois de garantirem que só havia as duas na casa além de Anny e as garotas no porão.

O corpo de Marina havia sido cremado, já o de Valentina , Luiza e os pais, junto com Cassy ,Maria e as meninas, fizeram questão de proporcionar um enterro como a heroína e a pessoa maravilhosa e bondosa que Valentina foi.
Verônica havia sumido junto de um dos policiais que a ajudava . Quando souberam que a polícia estava partindo para a casa dos Albuquerque , sabiam que tudo havia desmoronado e na mesma hora desapareceram. Todos estavam atrás deles. O outro policial foi preso quando estava prestes a fugir, como cúmplice, e apenas confirmou parte da história, desconhecendo que Marina era mãe de Valentina , o que de fato foi um choque em todo a cidade, inclusive para os pais das garotas.
Luiza chorou em uma semana o que achou que choraria em uma vida. Gritava com o rosto abafado pelo travesseiro e debatia-se em sua cama até ser vencida pelo cansaço e entregar-se ao sono.
Tomava remédios para acalmar os nervos, e tudo piorava quando via os jornais declarando a inocência de Valentina enquanto passava fotos da jovem Albuquerque.
O colar de crucifixo continuava no pescoço, e agora ao lado da cama residia um porta retrato médio que Juliana lhe deu com uma Valentina sorridente trajando um vestido floral branco e um par de tênis amarelos e com seus cabelos longos e soltos caindo sobre os ombros aos doze anos.
Luiza , Juliana e Camila ficaram conhecidas por todo o estado, talvez até por parte da América que acompanhava o caso dos Albuquerque. Mas graças ao depoimento das meninas, a morena ficou conhecida como namorada de Valentina , mesmo não havendo um pedido formal para isso.
Quando Luiza questionou as amigas de o porquê de falarem isso, fora Camila quem respondeu tão serenamente e com tanta certeza que a morena estranhou: ''Ela amava você. Você foi seu primeiro amor e merece ser lembrada como alguém especial que você era para ela, não apenas como amiga.''

E Luiza realmente estava sentindo-se especial como a pessoa que mais teve contato com Valentina antes da explosão e sendo sua namorada para todos. Ela realmente amava ser a namorada de Valentina Albuquerque, mas trocaria isso para tê-la ao seu lado por ao menos alguns minutos.
Enquanto caminhava para sentar-se ao lado de Juliana e Camila , ela podia ouvir as pessoas sussurrando um " Sinto muito " para ela. Tratavam-na como se fosse esposa de Valentina, o que seria engraçado se não fosse trágico e imensuravelmente doloroso no coração da morena.
Avistou Sebastian no final do corredor de cadeiras, ao lado do namorado , e o abraçou forte. O garoto como todo mundo já sabia de tudo e o choque não foi pequeno quando soube que Valentina passou pouco mais de um mês na casa da melhor amiga, e que ambas eram apaixonadas uma pela outra. Todos os dias havia ido à casa de Luiza para confortá-la e prestar seu apoio.

O choro havia cessado desde a manhã quando acordou. De certo as lágrimas resolveram dar um tempo antes que suas glândulas lacrimais secassem, mas o rosto moreno estava sem vida, os olhos sem os brilhos habituais, apenas com expressão de dor e tristeza. O cabelo amarrado em um rabo de cavalo simples e o vestido preto que ia até os joelhos faziam-na parecer mais velha.

Ao contrário de Luiza , Camila ainda chorava baixinho e a face vermelha da garota era de dar dó, sendo amparada pelos braços de Juliana, que tinha os olhos inchados, vermelhos e o rosto opaco e abatido.
Um caixão médio. Preto. Lacrado. Posicionado no centro com uma enorme coroa de flores, e um lindo quadro bem colocado ao lado dele foi o estopim para o sofrimento de Luiza retornar com força:
Valentina com um vestido vermelho e um casaquinho preto juntamente com um tênis da mesma cor que não combinava com o conjunto formal e os cabelos trançados caídos sobre o ombro esquerdo emolduravam um sorriso sincero e doce sem mostrar os dentes.
Luiza não conseguiu mais segurar-se e passou a chorar como uma criancinha desamparada, sendo logo abraçada novamente pelo amigo e logo por Augusto, que também tinha lágrimas escorrendo pela face.
Separaram-se e a morena caminhou até a latina, que logo abraçou-a, seguida por Camila . As três permaneceram unidas naquele abraço, apenas compartilhando do mesmo sofrimento. Juliana já fungava baixinho e quando ouviram a voz do padre, as três sentaram-se lado a lado.
...
Depois de ouvir o padre falar sobre como Valentina ia a todas as missas de domingo e era uma menina adorável, prestar todas as condolências, ler trechos da bíblia, e falar até sobre Marina e sua tristeza ao descobrir que a jovem de aparência doce tenha feito tais atos, o senhor baixinho chamou os amigos mais próximos para falarem algumas palavras.
Maria foi a primeira. Não conseguiu falar direito devido ao choro. Considerava Valentina uma filha. E sentia-se destruída por perde- la e saber que Catarina e Marcos haviam sido em parte responsáveis pela falta de sanidade de Marina , a garota que também era como uma filha para ela.
Cassy também falou sobre como Valentina era mais do que essencial na vida das meninas e na sua. Três famílias unidas. Duas permaneceram. Uma foi destruída pela tragédia. O choro logo veio e ela finalizou como pôde.
Os pais de Luiza foram juntos e o homem era amparado pela esposa enquanto chorava fortemente, enxugando sempre o rosto com um lenço branco.
Engoliu o choro e começou:
— Quando Valentina foi condenada há dois anos trás, eu não acreditei que uma garota como ela poderia ter feito tais coisas. Fui de perto vê-la naquela clínica e desde o primeiro momento que conversamos, nos tornamos amigos. Ela...— O choro já ameaçava voltar. A voz saía rouca e carregada. — Ela foi uma segunda filha para mim. Passamos dois anos conversando. Trocando livros e dando apoio um ao outro. — O homem desabou em lágrimas, e já sentia a mão da esposa afagar suas costas. — Ela era uma menina tão inteligente e mesmo quieta demais, era amorosa e bondosa, e eu...— O choro aumentou de tamanho. — Eu amava essa garotinha.

Forever YoursWhere stories live. Discover now