Capítulo dois

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Christopher

       Não há nada que eu mais odeie do que ver Elena com a sua calça flare branca, e hoje ela usa com a blusa boho xadrez amarela. Na verdade, acho que as saias jeans e as blusas de crochê são vencedoras. Sem falar naquele vestido verde claro que ela ama usar com os seus saltos altos da Prada pretos e com a bolsa Louis Vuitton castanha.
       Eu odeio essa calça flare branca muito mais do que a outra, porque ela também tem uma segunda flare branca com riscas mais acentuada, com a cintura mais alta e com um tecido mais pesado que esse. Mas essa que ela usa hoje, marca muito bem seu traseiro e sua cintura, não consigo ver o que ela calça sempre que usa flare, mas sei que nunca deixa o cabelo solto, seus cabelos estão num coque baixo que ela faz todas as semanas.
       Normalmente às segundas ela usa calças, pode ser jeans, de alfaiataria, terças e quartas só vestidos ou aqueles vestidos que parecem blazers, mas quintas e sextas ela alterna, algumas vezes usa saia lápis, outras usa saia jeans compridas ou seus conjuntos.
      Nem preciso falar sobre o perfume dela, aquele cheiro adocicado que está preso na minha cabeça. É gostoso, é bom, mas nunca diria isso a ela, e parece que meu corpo fica alerta sempre que sinto aquele cheiro, um que conheço muito bem.
      Infelizmente, melhor do que qualquer outro.
      Mas nada sobre Elena me importa, eu não gosto dela, não quero ela na minha vida, apenas tenho que a suportar no trabalho. Quando eu fui estudar no Rutherford West College, conheci pessoas que acabaram por se tornar meus amigos. Quanto mais longe de Elena eu ficava, mais a nossa amizade se quebrava. A gota de água foi no meu aniversário de dezasseis anos quando o meu falecido avô a levou para a festa sem a minha permissão, e a desgraçada contou para todos que eu tinha um diário. Ou quando meus pais viajaram e eu levei uma menina lá em casa, e mesmo que não tenha acontecido nada, ela disse que eu tinha transado com ela. Também não posso esquecer de quando aquela idiota me mordeu porque eu disse que ela era feia. Elena é bastante vingativa, agora que ela é uma mulher adulta mudou bastante. Mas ainda não nos damos bem.
      Meu avô tentou que fôssemos amigos novamente, só que nem tudo tem conserto. Evan White nos ensinou muitas coisas, foi um avô maravilhoso, um melhor amigo e o ser humano mais compreensivo. Ainda dói bastante saber que ele já não está aqui, mas temos que aprender a viver com isso. Elena também gostava bastante dele, no funeral ela estava de rastos, acho que tem voltado ao normal nesses dias.
     Já fizemos a abertura do inventário, Schneider irá ler o testamento nesse sábado. Eu quero muito fazer a vontade do meu avô, mas sei que Elena está nesse testamento, e sinto que alguma coisa irá me desagradar. Ela passava muito tempo com ele talvez a maior parte da herança seja para ela. Se for assim, meu avô que me perdoe, mas irei impugnar contra o conteúdo do testamento.
      Meu telefone vibra por cima da mesa, mostrando o rosto da minha namorada. Ela passa dos limites às vezes, liga sempre para mim e é ciumenta para caralho, mas gosto dela. Minha família também gosta bastante dela, então ainda estamos juntos. Por isso e porque ela tem a postura ideal para ser a futura senhora White.
       — Oi, amor.
       — Lexi, o que você quer? Porque não vem para a minha sala? Não é segredo para ninguém que você é minha noiva.
       Lexi trabalha no Departamento de Reservas e Marketing do hotel. Eu a conheci no seu primeiro ano aqui e como Elena não gosta dela, eu fiquei interessado. Digamos que os seus inimigos são meus amigos.
      — Voltei mais cedo do trabalho, amor. Já disse que o dia de hoje é especial.
      É especial?
      — Por que é tão especial? — pergunto porque não sou muito bom a lembrar das coisas. Só as que me irritam, como Elena.
      — É o nosso aniversário de namoro. Esqueceu?
      — Claro que não iria esquecer do nosso terceiro aniversário. — Minto. — O que acha que eu sou? Eu posso ter muita coisa na cabeça, mas esquecer de você jamais.
       — Espero bem que não. E é o segundo aniversário. Quem me dera que fossem três anos. — Ri. — Você tem muita coisa na cabeça. Não demora, por favor.
       — Claro que não.
       — Até depois.
       — Até depois. — Desligo e disco o número do meu assistente, que atende no mesmo segundo. — Mcguire, vá comprar em presente agora mesmo. Uma jóia ou pulseira, você é que sabe.
      — Tem alguma preferência?
      — Qualquer coisa bonita. Algo que você acha que as mulheres gostam. Pergunte para a atendente da loja, não sei. Desde que seja caro e bonito. — Giro na minha cadeira. — E seja rápido. Daqui a pouco as lojas fecham. Venha ter comigo tão logo você consiga.
       — Entendido. Até mais. — Desliga.
       Não sou bom com essas coisas, há muita coisa na cabeça, ainda mais agora que meu avô se foi. Sempre esqueço dessas datas todas, aniversário de namoro, aniversário de sei mais o quê. Não tenho cabeça para memorizar tudo isso, até do aniversário de Lexi eu esqueço. Tenho que olhar sempre na agenda para lembrar.
      Encaro a minha foto com o meu avô, que tiramos no ano passado. Olhar para ela ainda dói, mas eu não teria coragem de a tirar daqui. Todos os momentos que tivemos estarão guardados para sempre no meu coração. Ele é um dos melhores homens que o mundo já conheceu, não admira que todos gostassem dele.
      Regresso ao trabalho, enfastiado e com vontade de ir para casa também. Eu gosto de trabalhar, no entanto nem todos os dias são dias bons. Os últimos sessenta dias não têm sido bons, para ser mais exato.

FARSA [COMPLETO NA AMAZON]Where stories live. Discover now