Capítulo quatro

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Christopher

      Regresso ao hotel com Lexi, porque decidimos almoçar bem longe daqui. Separamo-nos depois de um beijo e vou para o meu piso de elevador, já cansado para continuar o dia. A verdade é que o simples facto de saber que Elena trabalha aqui acaba com a minha motivação. Gostaria até que não fosse tão boa no que faz para a demitir, mas como o meu pai sempre diz: temos que suportar qualquer coisa ou pessoa para atingir os nossos objetivos.
      Outra coisa que incomoda é que ela é muito atraente, alguns funcionários e hóspedes deixam muito claro quando a vêem, ela adora se gabar por isso. Só não pensei que ela fosse do tipo que trai porque mesmo que o namorado dela pareça chato, não justifica tal ato. Além de vampira é uma traidora.
      Dorian conversa com a minha secretária, quando chego, ela está toda corada e não para de brincar com seus cabelos dourados enquanto meu amigo apoia as mãos na sua mesa e sorri, talvez contando as mesmas mentiras que contou para a idiota que ele levou para almoçar hoje.
       Arqueio a sobrancelha para eles quando percebem que vejo toda a cena. Obviamente, Dorian não parece envergonhado, ele afasta as suas mãos da mesa e finge que nada aconteceu, mas não posso dizer o mesmo de Havana, que nem consegue olhar para mim agora. Ela é boa demais para ele, sei que é o meu amigo, mas é a verdade.
       — Esperou demais? — pergunto para ele.
       — Um pouco, mas tive uma boa conversa com essa linda jovem. — Ele sorri.
       Aceno em negação. — Vamos para a minha sala.
      Dorian se mudou para São Francisco há um mês e tem tentado conhecer mais a cidade, mesmo que tenha passado os dois últimos finais de semana em países diferentes. Eu o conheci porque ele é sobrinho de um amigo do meu pai. Eles têm várias empresas, Dorian comprou várias ações recentemente numa das grande aqui em São Francisco. Uma grande construtora, tem em mente novos projetos e parece que vai ficar por algum tempo.
       Entramos na minha sala, e ele se põe confortável no sofá, pegando numa revista que Lexi deve ter deixado lá. Ocupo a minha cadeira e observo o homem, lembrando da barbaridade que ele fez.
       — Como foi o seu almoço com a minha nêmesis? — pergunto. — Deve ter sido ruim para flertar com a minha secretária depois.
      — Na verdade foi muito bom. Tinha esquecido de me dizer que Elena é uma mulher encantadora. Muito bonita e muito sexy. — Começa a ler a revista.
      — Não faça isso. Você pode se apaixonar por qualquer mulher, menos a Elena.
      — Por que não? — seus olhos estreitam para mim.
      — Porque merece alguém melhor.
      — Primeiro lugar, eu não me apaixono. Segundo, seria apenas para desanuviar. Terceiro, se ela não presta, eu também não presto, então merecemos um ao outro. — Volta a atenção na revista.
       — Ela tem namorado. Você não quer problemas com ele.
       — Ela disse que não tem. Você não sabe tudo sobre ela. — Sorri.
       Gostaria que isso não fosse verdade.
       — Se eu pedir para se afastar dela?
       — Se me der um bom motivo, posso fazer isso. Se não, vou insistir nela até conseguir o que eu quero. Ouve, Chris, se você não gosta dela não deve se importar. — Volta a olhar para mim.
       — Faça o que você quiser.
       — Isso significa que não tem motivos. Que bom. Já estou louco para saber se ela beija bem e também se rebola bem. — Ri.
       — Ela não tem medo de barata, sabia? — insisto.
       — E daí?
       — Mulheres têm medo de barata. — Dou de ombros.
       — Ainda bem que ela não tem. Você só me deixa cada vez mais interessado com cada notícia. Eu gosto de mulheres que matam baratas.
       Suspiro. — Eu acho que ela não vai querer algo casual.
       — Chris, por favor, para. Sei que não a suporta, mas tem que aceitar que é muito atraente e que alguns homens não podem resistir. Você vai afastar todos os seus amigos dela? — pousa a revista no sofá.
       — Como você quiser, só não diga que não avisei.
       — Não se preocupe. Meu paraíso é inabalável.
       — Mudando de assunto, teremos vários eventos em breve, espero que apareça.
       — Se a Elena estiver, claro que vou.
       — O que essa mulher tem? — levanto, irritado. — Primeiro o Mark, agora você?
       Eu estou cansado que ela tente fazer parte da minha vida de qualquer forma. Já tenho que conviver com ela no trabalho, agora quer namorar com os meus amigos? Como se não bastasse, meu avô cuidou dela e também vai receber uma parte da herança.
       — Mark conseguiu levá-la para sair? — Dorian pergunta.
       — Não.
       — Então vou dizer a ele para se afastar, só por enquanto. — Cruza os braços. — Mas isso não importa agora. Seu casamento sai em breve, como se sente?
       — Ainda não temos data, e acho melhor não pensar nisso agora. — Encaro a parede de vidro. — Tenho muitas coisas para lidar.
       — Entendo. Está preocupado com o testamento do seu avô?
       — Não. Nem tanto, apenas sei que tenho que respeitar o que quer que ele decidiu.
       — Sim. Se precisar de mim para beber umas cervejas depois...
       — Eu acho que vou precisar. Também vou precisar de umas férias da Lexi no sábado. Vou chamar o Mark e vamos.
       — Combinado.
       Dorian conta sobre seus novos projetos antes de abandonar a minha sala e me permitir trabalhar. Havana parece envergonhada sempre que está perto de mim, tenta fugir do meu olhar porque a encontrei com meu amigo, quando não me importo com isso. Sim, ela não deve fazê-lo no trabalho, mas é livre para ficar com quem quiser.
      Quando me despeço dela, já sei o que tenho que fazer antes de sair do hotel. Como o bom amigo que sou, tenho que manter eles longe da Elena. Ela é manipuladora e deve fazer isso só para me irritar.
      Espero Elena no estacionamento, apoiando me no seu jaguar, e felizmente ela não demora para aparecer. Ela surge com o vestido de estampa vintage, com colarinho e saia evasê que deve ser novo, porque nunca tinha visto antes e um blazer preto que também deve ser novo. Ela deve ter uns três blazers pretos, esse é diferente, os botões são dourados e grandes, com certeza que é novo também. Seu cabelo está em um coque baixo, obviamente, e usa os saltos altos pretos da Prada que ela adora usar com vestidos.
      — O que você quer? — pergunta, revirando os olhos.
      — Eu sei o que tem tentado fazer. Quer usar os meus amigos para se aproximar de mim. Mas saiba que não vou permitir.
      — Porquê se importa tanto? Ao ponto de nos seguir até ao restaurante? A ponto de vir até aqui?
      — Fica longe do Dorian, entendeu?
      — Eu acho que ele não precisa que ninguém fale por ele. E eu escolho com quem sair. Dorian e eu temos uma conexão que não dá para explicar.
      — Eu não sei porquê perco o meu tempo com você.
      — Porque você gosta.
      — Vai sonhando. — Rio sem humor. — Tenho até pena do seu namorado.
      — Acha que sabe tudo sobre mim, mas não sabe nada. Se queria ouvir da minha boca, então está bem. — Ela vira e vê os dois homens engravatados que descem do carro e o homem que sai do elevador. — ESTOU SOLTEIRA! — grita e volta a olhar para mim. — Então, saiba que é verdade. Está feliz com a notícia?
       — Você é uma oferecida, sabia?
       Ela não responde, dá a volta para entrar no carro. Sigo-a porque ela não pode me ignorar desse jeito, estou farto das suas atitudes, desse jogo de ódio sem fim. Mas é claro que não quero tréguas, com ela, nunca.
      — Eu não acabei de falar com você! — digo quando ela baixa os vidros e liga o carro.
      — Hoje eu não tenho paciência, Chris. Amanhã prometo que te dou atenção.
      — É senhor White para você. E não preciso da sua atenção, só preciso que me deixe em paz.
      Suspira. — A mim parece que há outro motivo.
      — Vai sonhando.
      — Deve ser você que sonha comigo. Até mais, Christopher. — Sopra um beijo para mim.
      Afasto-me quando ela sai do estacionamento com o seu carro, mais uma vez irritando-me furiosamente. Com essa mulher por perto, terei cabelos brancos antes dos trinta anos.

FARSA [COMPLETO NA AMAZON]Where stories live. Discover now