Vestido perfeito e o tipo de problema errado

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Elena

      Não sei porquê estou tão nervosa se já sou casada. Talvez porque dessa vez será diferente e haverá muitas pessoas para testemunhar, talvez porque vou seguir a tradição? Talvez porque vou planejar tudo como eu sempre quis.
      Christopher fez o pedido há dois meses e escolhemos a data no dia seguinte. Não queríamos mais esperar, é como se esse casamento fosse tornar tudo mais real. Contratei uma especialista de eventos que não me deixa em paz nas últimas semanas, mas ainda bem porque ela tem feito bastante. Sinto que ainda não estou casada, é estranho.
       Provamos o bolo na semana passada, agora estou com as minhas madrinhas e minha mãe para provar o vestido. No começo disse a mim mesma para não exagerar, mas agora quero exagerar. É um casamento de verdade, não aquilo que fizemos às pressas com a minha mãe e Henri. Dessa vez usarei um vestido branco e vou jogar o buquê.
       Primeiro provo um vestido justo do peito até a cintura e largo até ao chão. Foi fácil escolher os vestidos das madrinhas e até da minha mãe, no meu estou há horas nisso. Os vestidos me agradam à primeira vista e depois já não gosto.
       — Você gostou? — minha mãe pergunta. — Porque o mais importante é você gostar.
       — A não ser que vá passar vergonha. — Lindsay diz. — Não que seja o caso.
       — Eu gostei, mas não é muito o meu estilo. Eu não consigo encontrar um perfeito.
       — Ainda há tempo. — Minha mãe sorri.
       — Tinha que ser mais fácil. Mas vou tentar outro. — Suspiro.
       — Tem muitos vestidos que pode verificar, senhora White. — A atendente da loja sorri.
       — Farei isso nem que tenha que ficar aqui o dia todo. — Caminho até o provador.
       — Não exagera. — Alaia respira, entediada. — Algumas de nós têm outras coisas para fazer.
       Vou trocar de vestido novamente. Dessa vez visto um com mangas compridas transparentes, calda de sereia. Tinha esperança quanto a ele, mas não acho que é o vestido que eu quero. Parece que nada me agrada.
        — Eu gostei. — Veronica diz.
        — Bem, eu não gostei. — Encaro o vestido mais uma vez no meu corpo.
        — Ah, essa mulher não gosta de nada? — Lindsay levanta e endireita o vestido em mim.
       — E tem alguns que nem preciso provar. Vou verificar outros, sinto que alguma coisa me escapou.
       — Esteja à vontade. — Alaia responde. — Mas seja rápida.
       — Vou tentar. Imagino que com Christopher também deve ser difícil. É algo que exige delicadeza, percebe? — Digo.
        — Duvido. Tudo é mais fácil para os homens. — Lindsay olha para mim.
        Vou procurar mais vestidos, dessa vez com mais calma e parece que uma luz ilumina o vestido perfeito quando olho para ele. Eu sei que disse isso já com muitos outros, mas dessa vez não acho apenas interessante ou bonito, dessa vez estou apaixonada.
        — Eu preciso experimentar esse vestido. — Toco a seda e fico toda arrepiada. — Eu preciso desse vestido.
        — Finalmente? — Veronica levanta, esperançosa.
        — É o que vamos descobrir agora mesmo.

Christopher

      — Como assim já está? — Mark olha para mim, indignado.
      Eu escolhi o meu terno rápido, mas isso porque eu gostei e não achei que precisasse de horas para escolher um.
      — O que você queria? Que eu escolhesse durante horas? Deixo esse trabalho para Elena.
      Dorian sorri. — Você foi rápido como o trovão. Mas não é sua culpa, você não é vaidoso mesmo.
       — Eu não me importo muito com o que vou vestir. Só quero casar e ir de lua de mel. — Digo.
       — Tudo bem. Vamos fingir que não escolheu o primeiro terno que apareceu, mesmo que seja bonito para caralho. — Mark diz. — Vamos pagar e comer qualquer coisa. Estou com fome.
       — Claro.
       Fazemos o pagamento e saimos da loja. Talvez Elena também tenha escolhido o vestido com facilidade. Não deve ser assim tão difícil, além disso já estamos casados, não precisamos exagerar. A não ser que ela queira exagerar já que não tivemos um casamento de verdade na primeira vez. Bem, isso terei que perguntar e não esperar que me diga em seus momentos de sonambulismo.
       Não sei se é bom eu gostar que a minha esposa seja sonâmbula. Ela prepara a minha roupa, organiza algumas coisas que esqueço, conta os seus segredos, embora também o faça mesmo acordada. Mas também acho que precisa de ajuda.
       — Minha agenda está tão preenchida que sei que só terei tempo depois da lua de mel. — Ocupo uma cadeira.
       Vamos para um restaurante perto da loja em que acabamos de sair. Mark e Dorian se ofereceram para me ajudar, Henri está na cama por causa de uma gripe, meu pai anda mais preocupado com a minha mãe, então sobrou para eles. E às vezes me pergunto se apenas Elena e eu estamos levando à sério demais.
       — Como se fosse uma coisa ruim. — Mark bufa.
       Harper, a nossa organizadora do casamento, liga para mim, quando estou prestes a fazer o meu pedido. Na verdade, ela liga para mim várias vezes, todos os dias, apesar de eu insistir em dizer que Elena entende melhor do que eu.
       — Harper. — Atendo já sem paciência.
       — Senhor White, houve um pequeno problema com a decoração. Podemos nos encontrar para discutir melhor? — ela sempre insiste.
       — Não será possível. Qualquer coisa que você quiser, melhor tratar com a Elena.
       — Mas ela não atende e é super importante.
       — Onde você está?
       — Posso ter com o senhor.
       — Está bem. Vou enviar a localização. — Desligo após dar a localização. Nem espero ela dizer mais nada.
       Bebo um pouco de vinho. — Mulher chata!
       — Ela não é chata, apenas está interessada em você. — Dorian diz.
       — O quê? Não. Ela tem trabalhado com a minha mulher.
       — E daí? Você é atraente, rico, quem não ia querer? — Mark come um pouco de pão.
       — Ela quer resolver apenas um problema. O casamento também é meu, então é normal ela querer que eu participe também.
       — Está bem. — Dorian sorri. — Mas esteja atento. Não queremos que você perca a vampira.
       Depois de alguns minutos, Harper aparece no restaurante com uma saia justa e decote chamativo. Ela sorri para todos e ocupa uma cadeira ao meu lado. Pelos vistos, ela estava por perto. Não acredito em coincidências.
       — Ainda bem que o encontrei, senhor White. — Sorri. — Boa tarde a todos. — Vira para meus amigos, que apenas acenam.
       — O que aconteceu? — pergunto.
       — Bem, os arranjos que a senhora Elena escolheu. Não estão disponíveis. Temos que escolher outros. — Ela tira um caderno da bolsa.
       — Imagino. — Mark dá atenção ao telefone.
       — Eu não entendo dessas coisas. Com certeza Elena poderia ajudar a resolver. — Digo o que sempre digo.
       — Mesmo assim, gostaria que ajudasse a escolher algumas opções. — Seus olhos azuis voltam para mim.
       Suspiro e vejo todas as opções que Harper encontrou, enquanto fazemos isso almoçamos, já que estamos num restaurante, mas meus amigos estão entediados que me deixam sozinho com a mulher. Não devia ter dado o endereço, não devia aceitar ajudar. Podia escolher com a Elena.
       Por que não disse que não?
       — É só uma sugestão. Por que não fazemos isso com a Elena? — proponho.
       — Claro que sim. É melhor ter o ponto de vista dos dois. — Ela sorri para mim. — Melhor ir para casa, tenho muita coisa para fazer. O senhor se importa de me dar carona?
       Dorian tinha razão.
       — Claro que não. — Ligo para Charles, que está lá fora à espera. — Charles, a senhorita Smith precisa ir para casa, leve-a, por favor.
       — O senhor não vai?
       — Não. Pode sair, o carro está na frente do restaurante é um Audi prateado. Boa viagem.
       Ela está boquiaberta, mas recupera. — De qualquer forma, muito obrigada, senhor White. O senhor é muito gentil.
       — Até mais, Harper. Ah, dá próxima vez, ligue para a minha esposa, por favor.
       Ela sai do restaurante com seus saltos muito alto, que sempre me faz perguntar se as mulheres se sentem confortáveis com ele. Seja como for, Elena fica muito bem com eles, realça as suas pernas.
       Ligo para Elena ainda no restaurante. Acho que já deve ter escolhido o vestido, provavelmente está à caminho de casa e vamos poder falar sobre os arranjos de flores e também sobre a tentativa de Harper. Dorian me diria para não contar e fingir que não aconteceu, já Mark diria para contar. Fico do lado de quem sabe o que é estar apaixonado.
       — Amor!
       — Vampira, escolheu o vestido?
       — Claro que sim. Não é como se fosse um trabalho tão difícil assim. — Ela diz e ouço várias pessoas tossir. — Precisam de remédio para tosse? Cobras! — parece que fala com as suas amigas. — Adiante, o vestido é perfeito. Como correu com você?
       — Acredita que não diz nem cinco minutos na loja?
       — É sério? Eu estou há horas aqui.
       — Você disse que não foi difícil.
       — Mas também não disse que é fácil. Não importa, Harper não atendeu as minhas ligações o dia todo e estou preocupada.
       — Sobre isso, precisamos conversar pessoalmente.
       — Por que eu sinto que são más notícias?
       — É o que vamos descobrir. — Digo embora saiba que são.
       — Então nos vemos em casa.
       — Te amo, beijos. — Desligo.
       Chamo o garçom e peço uma sobremesa antes de ir embora. O almoço não me caiu muito bem, talvez porque me sinto mal por minha esposa não saber que almocei com outra mulher. Mas já vou conversar com ela. Nada irá estragar o nosso casamento. Muito menos uma mulher que não sabe nada sobre nós.

FARSA [COMPLETO NA AMAZON]Where stories live. Discover now