Capítulo seis

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Christopher

       A minha cabeça dói depois de toda essa confusão. Meus pais não param de brigar sobre o assunto desde que Elena saiu. Nunca pensei que o meu avô faria isso comigo, ele sabia que não suporto a Elena, também sabia que prometi cumprir com o que ele queria, mas desse jeito não dá. Como é que ficam as coisas com a minha verdadeira noiva? Eu prometi para Lexi que iríamos marcar a data no mês que vem.
      Meu pai acompanha Schneider até a porta, enquanto permaneço sentado no sofá, após remover o CD no computador para mostrar para o Henri. Minha mãe anda de um lado para o outro, sem parar de reclamar dos seus cinco milhões de dólares, descontar a raiva em mim e lembrar que foi ela que me colocou no mundo, por isso devo tudo a ela. Que eu e meus irmãos devemos tudo a ela.
       Vai ser assim nos próximos mil anos.
       —... por isso, tudo o que é vosso, é meu também.
       — Mãe, por favor! — levanto o rosto na sua direção.
       — Eu sempre fui boa para o meu sogro. Como ele pode não retribuir? Se eu soubesse, aquele velho ia sofrer nas minhas mãos. — Cruza os braços e continua a andar.
       Todo mundo era bom para o meu avô, infelizmente por causa do dinheiro dele. Eles queriam sua amizade por ser muito rico, mas poucos realmente o amavam. Admito que Elena sempre gostou dele, ela é uma das poucas pessoas que se importava. Deu para perceber todos esses anos, deu para perceber quando ela chorou bastante no funeral e ficou uma semana sem trabalhar e também hoje quando tentava evitar as lágrimas ao ver o vídeo.
       Levanto, já sem paciência. — Eu vou para casa. Estou cansado e com dor de cabeça, preciso relaxar um pouco.
       — Pode ir, mas não esqueça o que acabei de dizer. — Vira para me encarar.
       — A senhora devia ficar feliz. Cinco milhões de dólares é muito dinheiro. A senhora é milionária também.
      Quer dizer, a uma infinidade de coisas que ela pode fazer com esse dinheiro para poder multiplicá-lo. Sei que também queria ações de nas empresas, sei que queria uma das casas ou a fazenda, os carros, mas pelo menos não foi esquecida como o meu cunhado foi. Qualquer um agradeceria esse dinheiro, mas como a minha mãe não é qualquer pessoa, é claro que não está satisfeita.
       — Você diz isso porque não é você que recebeu essa miséria. Está feliz com os seus oitocentos milhões. — Para seus passos. — E mais casas e um iate. Vocês três se beneficiaram bastante.
       — O meu pai também e a senhora é casada com ele. — Digo, lembrando desse pequeno detalhe.
       — Já chega desse assunto. Preciso ir para um SPA. Preciso de um cuidado intensivo para relaxar. Você devia conversar com a Lexi.
       — Eu já disse que vou para casa. Converso com a Lexi amanhã. — Deixo a minha mãe na sala de estar e como não há nenhum sinal do meu pai, nem de ninguém, saio e caminho até meu Audi, cansado.
       As palavras que Schneider leu para nós ainda ecoam pela minha cabeça, deixando-me cada vez mais perplexo sobre o assunto. Eu quero tomar a decisão correta, mas qual é? Fazer o que o meu avô quer ou fazer o que vai beneficiar a todos?
      Lexi liga para mim quando já estou na estrada e não quero atender, mas sei que se não o fizer, ela vai insistir o dia todo e vir atrás de mim. Como não estou com vontade nenhuma de vê-la hoje, atendo.
      — Oi, amor. Já terminaram com o advogado? — pergunta.
      — Sim, acabei de sair da casa dos meus pais. — paro num sinal vermelho.
      — Então vou ter com você agora mesmo.
      — Não será possível. Tenho muitas coisas para resolver hoje, amanhã nos vemos, está bem? — não quero conversar com ela sobre o que aconteceu hoje.
      — Mas combinamos de passar o dia todo juntos depois da sua reunião com o advogado.
      Combinamos?
      — Eu sei. — minto. Esqueci completamente. — Mas não estava nas minhas mãos. Tenho assuntos urgentes, amanhã te conto tudo.
      Suspira. — Está bem. Até amanhã. Te amo!
      — Até amanhã. — Desligo.
      Amanhã terei que inventar qualquer mentira, mas penso nisso depois. Vou para o apartamento do meu irmão, para conversar com ele sobre a merda que foi essa manhã, assim vou para casa depois para me arrumar para sair com os meus amigos.
      Henri me recebe e me leva na sua cozinha, onde tira duas cervejas para nós. Sento na ilha, e penso se dou primeiro as boas notícias ou as más, porque sinceramente há más notícias e elas envolvem Elena Ronalds. Parece que ela me persegue, não importa o que aconteça na minha vida.
      — Você não está com uma boa cara. Dá para perceber que as coisas correram mal. Ainda bem que fui embora. — senta ao meu lado.
      — Você não imagina como hoje foi uma confusão.
      — Imagino. Esse assunto de herança sempre causa desavenças, problemas e complicações nas famílias. — Bebe a cerveja.
      — Há muita coisa para dizer. Quer as boas notícias ou as ruins primeiro?
      — As ruins. — Olha para mim, esperando.
      — Nosso querido avô colocou uma cláusula em que me obriga a casar e morar com a Elena. — Conto.
      Henri arregala os olhos. — O quê? Isso é sério?
      — Muito sério. Se eu não fizer isso, ninguém recebe a herança, vai toda para a Fundação.
      Meu irmão ri. — Eu já imaginava que haveria alguma coisa que ninguém iria gostar.
      — Não tem graça. Eu sei que é isso que ele queria, mas não posso fazer isso. Eu vou impugnar esse ato, para que o testamento seja anulado. — Seguro a garrafa gelada.
       — Se eu disser que não quero isso? Você não é o único herdeiro, não pode decidir isso sozinho.
       — Mas você não entende que uma coisa dessas não pode ser válida? Vou conversar com outro advogado, vou provar que o testamento não tem validade. — Dou um grande gole. — E o que eu farei com a Lexi? Ela é a mulher que eu quero.
        — Sinceramente, irmão, não parece.
        — O que quer dizer com isso? — pergunto. Meu amigo Mark também já me disse isso.
        É verdade, não estou apaixonado, mas ela é a escolha perfeita e quem sabe com o tempo meus sentimentos mudem.
        — Não parece apaixonado por ela. Quase nunca conversa sobre ela, esquece dela, dá para notar essas coisas.
       — Eu estou apaixonado e quero ficar com ela, você está enganado. Mas isso agora não importa. — Já vou a meio da minha bebida.
       — E quais são as boas notícias? — ele levanta para pegar mais alguma coisa.
       — Você é bilionário.
       Henri para os passos e vira para mim. — Não brinca!
       — Isso mesmo.
       — Mas... minha nossa. — Sorri. — Isso é muito bom. Acho que assim finalmente serei respeitado, pena que sou rancoroso.
      — Se refere aos nossos pais?
      — Obviamente. — Tira mais duas cervejas. — Depois saberei tudo o que o avô nos deixou. Agora tenho uma coisa para te contar.
      — Não quer saber do dinheiro?
      — Isso também é importante. — Fica na minha frente, do outro lado da ilha, em pé.
      — É algo bom ou ruim?
      — É bom. Eu tenho uma namorada.
      Levanto a garrafa para brindar com ele. — Isso é maravilhoso. Eu conheço?
      — É a Clara.
      — Ah. — Respondo um pouco confuso porque ela parecia gostar de mim. Aqueles toques, os sorrisos e olhares deram a entender que era a mim que ela queria. Meu irmão é um prêmio de consolação?
      — E quanto tempo vocês estão juntos?
      — Dois meses. Decidimos que seria segredo porque ela não quer perder o emprego e porque você sabe que dona Olive não iria gostar.
      — Entendo.
      Henri conta mais detalhes do seu namoro, e eu ainda acho estranho, mas como não sei nada sobre Clara melhor não me meter. Mostro também o vídeo que vimos com Schneider e conversamos sobre a herança. Deixo claro para ele que vou anular o testamento, não importa o que digam. Já me decidi.

                                     ****

      Saio para descontrair um pouco com os meus amigos na Seven, uma boate que gostamos de frequentar. Visto uma camisa preta e jeans, algo bem discreto. Minha intenção é beber alguns copos e conversar, talvez dançar um pouco, mas com o ânimo que estou, talvez fique só pelas bebidas.
     Estamos numa mesa com uma das melhores vistas, recebendo olhares de várias mulheres interessantes, mas como sou comprometido, presto atenção na bebida e na conversa. Mark pede mais uma tequila para o garçom, porque parece que ele não fica bêbado. Peço uma margarita e observo Dorian admirar as mulheres com o seu copo de Whisky na mão.
      Levo Mark comigo desde a faculdade, quando nos conhecemos. Ele é do tipo de homem que ama festas, baladas e essas coisas, mas é muito sério. É o claro exemplo de "não julgue o livro pela capa".
      — Como os dias estão difíceis ultimamente. Ainda não me acostumei com São Francisco. — Dorian vira para mim. — Mas amei as mulheres daqui.
      — Porque é só nisso que você pensa. — Reviro os olhos. — Cuidado, as mulheres podem ser a sua ruína.
      — Mas ele tem razão. As mulheres daqui são bem interessantes. — Mark levanta a bebida para duas mulheres que sorriem para nós.
      — Talvez.
      E de repente quatro mulheres entram rindo, chamando atenção pela beleza e roupas. Uma delas é Elena, que veste um cropped de crochê branco, uma saia de couro preta justa e curta e saltos altos. Está com sua amiga loira, que veste um vestido rosa brilhante e curto, a outra amiga negra que veste uma saia branca curta, blusa prateada sexy e a japonesa que trabalha no hotel, usando um vestido preto também curto. Resumindo, todas mostram suas belas pernas.
      — Porra, as mulheres mais bonitas acabaram de chegar. — Mark nota a presença delas também.
      Elena fala alguma coisa para as amigas, e começa a rebolar ao ritmo da música de um jeito muito sexy. Quero desviar o olhar, mas não consigo, infelizmente ela chama muita atenção. Não devia usar uma saia dessas em público.
      — Aquela é a nêmesis do Christopher. — Dorian sorri. — Minha nossa, olha como ela rebola.
      — É verdade. É a Elena. — Mark também reconhece.
      — Pode esquecer Mark, eu tive uma conexão com ela recentemente. Sinto que essa noite vou descobrir do que ela é capaz. Talvez a noite vai acabar no meu apartamento. — Dorian pousa a bebida e endireita a camisa.
      — Fazemos assim, quando ela estiver sozinha eu vou lá primeiro, se ela me rejeitar eu vou atrás de uma das amigas dela. — Mark propõe.
      — Não. Eu vou lá primeiro. — Dorian insiste.
      — Claro que não. Você sempre chega e já começa beijando, assim ela não vai te rejeitar. — Mark quer levantar, mas seguro o seu braço.
      Estou com tanta raiva desse assunto que decido fazer algo que eu sei que vou me arrepender bastante, mas faço pelos meus amigos e não por mim. Eles precisam ficar longe dessa mulher.
      — Porquê não vão atrás das outras? Elas são lindas também. — Digo.
      — Eu sei, mas já coloquei na minha cabeça que por enquanto quero a Elena. — Dorian responde.
      — Mas vocês não podem querer ela. — Estou cansado de repetir isso.
      — Já conversamos sobre isso. — Dorian dá um gole no whisky. — Eu vou até lá, vou beijar ela e vai ver que o mundo não vai explodir.
      — Ela é minha noiva.
      Ambos olham para mim em choque, depois começam a rir como dois bêbados. Eu também não acredito no que acabei de dizer, mas sei o que disse.
      — Isso não tem graça.
      Mark olha para mim. — Chris, você passou dos limites. Nós sabemos que a sua noiva é a Lexi.
      — Meu avô queria que eu me casasse com a Elena, por isso só vou receber a herança se casar com ela.
      — Mas como vocês não se suportam acho que não faz mal eu...
      Nem deixo Dorian terminar. — Claro que faz. As pessoas vão saber e vão dizer que sou corno. Não quero aparecer nas revistas de fofoca como corno.
      Mark ri. — E a Lexi?
      — Ela vai ter que me esperar.
      Dorian suspira. — Está bem. Eu vou pegar uma das três amigas. — levanta e vai falar com as meninas, ainda feliz. Não ficarei admirado se ele ficar com as três.
      Mark e eu fazemos o mesmo, saímos da nossa mesa para ter com as meninas. Elas olham para nós quando nos aproximamos e não digo nenhuma palavra ou mesmo sorrio para elas. A primeira coisa que faço é segurar a mão da Elena e levo ela comigo para fora da boate, mesmo que lute para se soltar.
      — Precisamos conversar.

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