Capítulo 1

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Jhony

10 anos de idade.

1 ano depois.

"Faz um ano desde que você levou a minha irmã e deixou um vazio na minha família. Eu não desisti de trazê-la de volta, mas enquanto seu nome ainda é desconhecido, só posso esperar e implorar para que a trate bem.

Ela não merece pagar por um erro que eu cometi".

***

Vesti o cachecol amarelo, a jaqueta azul por cima da camiseta branca do uniforme e desci até a sala para pegar a mochila.

A mãe não falou comigo, não me desejou uma boa aula ou pediu que me agasalhasse, apesar de fazer quinze graus lá fora naquela manhã de segunda-feira. Ela nem mesmo me olhou quando apareci ao seu lado perguntando se queria um cobertor. Trocávamos poucas ou nenhuma palavra. Ela continuava afundada na mesma poltrona em frente a janela, esperando sua menininha voltar. Isso quando não estava dormindo profundamente graças a quantidade de remédios que começou a ingerir. Foi e continuava sendo um ano difícil, o luto se instalou na minha casa mesmo sem a constatação da morte, e piorou quando meu pai saiu de casa e os policiais disseram que o caso da Juciene seria arquivado por falta de pistas.

Eu não entendia o que significava arquivado, mas o pai explicou que era o mesmo que guardado. Guardado soava ruim.

— Joana comeu? — perguntei baixinho, olhando a bebê sonolenta no carrinho ao seu lado. — Mãe? A bebê tomou mamadeira? — perguntei de novo, com medo. Eu tinha medo de respirar perto dela, mas todos os dias, desde que o pai saiu de casa, eu precisava lembrá-la de amamentar a bebê e trocar sua fralda. Às vezes ela se levantava e preparava o leite como se no automático. Nas vezes em que não o fazia e apenas me ignorava, eu precisava tomar uma atitude e reprisar o passo a passo que meu pai me deixou enquanto ainda morava conosco.

Como aparentemente hoje era o dia em que eu seria ignorado, precisei ir até a cozinha. Encontrei uma mamadeira suja na pia, o que significava que Joana tinha mamado, pois eu sempre deixava a mamadeira limpa. A lavei e esterilizei. Antes de sair, peguei as últimas três rosquinhas de chocolate do pacote e enfiei na boca para silenciar a barriga roncando e me lembrando que noite passada não jantei. Eu pretendia descer para preparar comida e então ouvi a mãe chorando na sala e achei melhor não aparecer. O pai avisou que quando ela tinha esses momentos, era melhor deixá-la sozinha. Como Joana já tinha mamado, resolvi dormir sem comer.

Fora de casa, uma manhã nublada e de vento congelante me abraçou. Minhas costas envergaram com a lufada de ar que encontrou caminho pela jaqueta e deslizou por meus braços. Fechei o zíper até o pescoço e coloquei as mãos nos bolsos antes que os dedos endurecessem.

Apertei os passos em direção à escola quando notei que estava atrasado e que não haviam outras crianças de uniforme e mochila pelas ruas. Somente cães abandonados que se amontoavam em algum canto para dormirem quentinhos.

Observei as janelas das casas por onde passava, um hábito que adquiri depois que comecei a procurar por minha irmã, e em uma delas, vi uma menininha assistindo televisão aninhada no colo do pai no sofá. Ela parecia protegida e o jeito como ele a abraçava, era amor.

Desviei o rosto quando os olhos começaram a lacrimejar e fui em direção ao parque que Juciene amava ir. O playground grande de madeira com escorregador, balanço de pneu com corda, gangorra, argolas...

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora