Capítulo 7

197 28 40
                                    

Jhony
Sons estranhos penetraram na minha consciência e me despertaram antes mesmo do Sol despontar no céu. Joana também foi acordada com essa brutalidade que vinha do andar de baixo. Um barulho metálico com sequências de gritos dizendo o meu nome.

Não era um pesadelo. Dessa vez, era real.

Me remexi até abrir os olhos. Minha mão buscou o despertador na mesa de cabeceira, até eu me lembrar que o troquei por um relógio menor e menos barulhento que passei a esconder embaixo do travesseiro para não incomodar a neném.

4:45 da manhã.

Eram quatro e quarenta e cinco e alguém gritava.

Metade da minha mente ainda estava sonolenta quando calcei os chinelos e desci a escada. Descobri que o escândalo vinha do portão e, independentemente de quem fosse, essa pessoa não tinha planos de se calar.

Esfreguei o os olhos remelentos e puxei a maçaneta da porta. Me deparei com um casal de vizinhos, que eu pouco conhecia, batendo uma chave no meu portão freneticamente. Ainda estavam de pijama e se preparavam para chamar o meu nome, pelo que devia ser a quinta vez, quando me viram.

— Jhonathan, graças a Deus. Seu pai está aí? Se não estiver, você precisa ligar para ele agora! — disse a mulher com agitação. A forma como a faixa de cabelo se enrolava entre seus fios crespos, dava a entender que fora colocada de última hora. — Anda, liga pra ele.

— Ligar pro papai? — Pisquei, a voz fraca, esperando que a cena fizesse algum sentido.

— A sua mãe... Sua mãe invadiu a nossa casa e está revirando tudo. Não queremos chamar a polícia por respeito a tudo que vocês têm passado, mas alguém precisa tirar ela de lá, menino. Eu tentei acalmá-la e ela me arranhou. Arranhou a minha cara — explicou seu marido.

E a explicação desfez meu sono.

— M-minha... A minha mãe? — Me abracei como se fosse frio e corri até a sala para verificar a poltrona. Meu coração disparou. Estava vazia. Como isso era possível? Voltei para perto deles. — Por que ela tá lá? O que a mãe foi fazer na casa de vocês?

— Ela colocou na cabeça que estamos com a sua irmã. Deus que me perdoe, mas precisei amarrá-la no banheiro para conseguir vir até aqui. Você tem que ligar para o seu pai, menino. Ela quebrou a nossa janela para entrar e só Deus sabe tudo que pode quebrar se conseguir se soltar — respondeu a voz masculina.

— Tá — engoli uma saliva com gosto de queimada. — Sinto muito... E-eu vou ligar pro papai, tá? Desculpem por isso.

Assim que foram embora, o medo andou de mãos dadas comigo até o telefone. Joana berrava no quarto, mas eu não conseguiria dar atenção para duas coisas ao mesmo tempo.

Ergui os olhos para a parede da sala. Os ponteiros do relógio ainda marcavam quatro e pouco da manhã. Precisaria contar com a sorte pro pai não estar em um sono pesado e ouvir o celular vibrar.

Fiz a ligação. Para meu terror, chamou até cair. Não desistiria fácil assim, não podia. Liguei de novo e depois de muitos toques, ele finalmente atendeu.

— Alô?

— Pai...

Arfou.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora