Capítulo 13 - A promessa

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Archie! Era ele. Era ELE! E queria falar com comigo. Pedira segredo e que eu o encontrasse em meia hora no parque de diversões. De acordo com ele, seria melhor assim pois, se ele viesse à minha casa, minha mãe ocuparia todos os espaços, ofereceria lanches, não os deixaria conversar a sós.

A sós! Por que a sós? O que haveria para esconder? Será... será que ele tinha conseguido ler nas entrelinhas das cartas que Betty entregava? Será que ele pudera descobrir... não! E se ele e Betty tivessem brigado e ele afinal descobrira que eu era o seu verdadeiro amor? Bem, isso até que seria de se esperar porque... que nada! Impossível! Como o amor dele por Betty poderia diminuir depois de todas aquelas cartas e poemas? E Betty não lhe tinha dito que era
impossível encontrá-lo sem alguma cartinha? Que "Onde está a cartinha?" era a primeira frase que Archie dizia logo ao se encontrarem? Depois, mesmo que os dois tivessem brigado, por que haveria Archie de lembrar-se dela? Nunca mais haviam se falado desde aquele maldito encontro no laboratório...

* * *

Num dia de meio de semana como aquele, o parque de diversões estava quase deserto. Uma babá uniformizada trocava sorrisinhos com o sorveteiro enquanto a criança de quem ela deveria estar cuidando aproveitava para verificar de que cor ficariam seus sapatinhos brancos depois de mergulhados na lama até os tornozelos. E de repente ele chegou, com sua camisa de capitão do time de futebol americano, seus cabelos ruivos bagunçados e um sorriso encantador, ele estava lindo como nunca. Ou como sempre. Como sempre chegava e nunca saía do meu
pensamento.

— Oi, Ronnie! – me abraça.

— Oi, Archie... – me aconchego em seu abraço, querendo ficar mais. Nisso veio o maravilhoso beijo na bochecha, fecho os olhos sentindo seus lábios em minha pele, e nisso pude apenas relembrar daquela noite no jardim onde ele me encantou. Mesmo que a única coisa que eu pensava era como os beijos soavam diferentes.

— Ronnie... – disse em meio ao abraço.

fiquei apenas ouvindo, quase sem prestar atenção, as palavras que pareciam um discurso de introdução a algo mais importante. Archie falava da sua adaptação à cidade, de todas as cidades onde estudara por causa das viagens do pai, da turma boa que já conseguira formar, tudo entremeado por risadas.

— Quer um cachorro-quente, Ronnie?

— Não, obrigada!

Atrás da montanha-russa, vazia e parada, parecia um bom lugar para conversar. Ali, os dois estariam protegidos dos poucos olhares indiscretos que aparecessem. Um ventinho frio começou a soprar e a enorme estrutura de ferro rangeu enferrujadamente. Archie tinha acabado de devorar o cachorro-quente e de limpar com as costas da mão um
bigode de molho.

— Ronnie, como da outra vez, eu quero lhe falar de Betty... – ouvir sua menção ao nosso último encontro presencial me fez arrepiar com o vento e com o rangido irritante dos ferros.

— Sabe? Nunca encontrei alguém como ela. Nunca pensei que eu pudesse apaixonar-me desse jeito. Não ria, prima, com você eu me sinto tranquilo. Não tenho vergonha de confessar o
que sinto. Betty é linda, mas é muito mais... – as suas palavras tornavam-se cada vez mais claras para mim, e eu apenas senti-me perdendo as forças, não queria que fosse novamente igual ao laboratório, então eu apenas me encolhi, fingindo estar com frio, como se de alguma forma essa posição fosse me proteger de algo mais assustador que parecia estar por vir e que ele provavelmente diria.

— Eu não esperava que ela tivesse tanta sensibilidade, Ronnie. Além da beleza.
Engraçado... você a conhece há tempos, e deve saber disso melhor do que eu: Betty é tímida. Quando estamos juntos, ela quase não fala. Apenas sorri. É muito
carinhosa, é claro, mas pessoalmente quase não dá pra notar a cabecinha maravilhosa que ela tem. Só que, quando ela escreve... – meu coração palpita e não consigo esconder meu interesse sobre.

Os Olhos Errados - VugheadOnde as histórias ganham vida. Descobre agora