Capítulo 17 - Dúvidas

12 4 4
                                    

A campainha toca. Desço correndo para ver quem é, por mais que não me venha na cabeça quem poderia me visitar hoje após todo o conflito na escola. Abro a porta e me surpreendo ao ver Juggie me frente à minha casa. Desço meu olhar de seu rosto, olhando inconscientente seu corpo. Ele estava lindo. Trajado com seu típico gorro, uma jaqueta de couro preta e blusa branca, voltando meu olhar para cima pude ver um sorriso pequeno em seus lábios, e não pude deixar de reparar na moto atrás dele.

Jughead tomou delicadamente a minha mão, assim que me recuperei do choque e abri melhor a porta de casa. Olhou firme para meus olhos.

— Veronica, eu preciso falar com você.

— Jughead... – merda eu suspirei? – Ah... Oi. Pode entrar... – me afastei da porta para dar passagem e o rapaz caminhou em direção à mesa coberta de livros e papéis.

— Você estava estudando? – passa os dedos pelas folhas, me olhando de relance.

— Não... eu...

— O que é isto? — perguntou Jughead levantando uma folha de fichário.

— Nada... é... – vou em sua direção e tento pegá-la, mas pela diferença de altura ele levantou ela e começou a ler.

Há o instante da chegada
E o momento da partida.
Quanta vida eu já vivi?
Quanta resta a ser vivida?

São dois espelhos quebrados,
Dois vezes sete de má sorte,
lá vivi quatorze anos,
quanto resta para a morte?

É fácil vê-la chegando
em cada instante que passe,
pois se começa a morrer
no momento em que se nasce.

Vou caminhando pra morte,
não decidi meu nascer.
Da morte não sei o dia,
Mas posso saber!

— É do Augusto dos Anjos. Acabei de copiar... – invento.

— Do Augusto dos Anjos? – ri fraco – Quando ele tinha quatorze anos? – droga! Suspiro e me jogo na poltrona, abraçando minhas pernas e apoiando a testa nos joelhos.

— Está bem, Jughead. Se você quiser conversar sobre poesia, vamos conversar sobre poesia. – murmuro.

O rapaz veio até mim e se ajoelhou em frente à poltrona e, com as mãos, me obrigou a erguer o rosto para ele.

— Olhe para mim, Veronica. – diz rouco num sussurro – Acho que seria bom conversarmos depois daquela loucura toda. – ganhou minha atenção – Durante o interrogatório, eu senti que você tinha alguma coisa a dizer. Alguma coisa que a incomodava...

— É claro — sorrio. — Um cadáver incomoda qualquer um. – fico na defensiva.

— Não brinque, Veronica. Você pode enganar a todos, que eu sei. Mas comigo é diferente. Você não consegue me enganar.

— Eu não quero enganar ninguém.

— Só a você mesma, não é? – diz irônico.

— Você veio aqui para brigar comigo, é? – me irrito e levanto, indo para a mesa e arrumando as coisas.

— Eu só queria te ouvir – me segue – Passamos por isso juntos e talvez você precise de alguém para conversar sobre.

— Mesmo que eu tivesse alguma coisa a dizer, de que adiantaria? – olho para ele – A polícia já encerrou a investigação, não foi? Já concluíram por suicídio, não concluíram?

— E você? Chegou a alguma outra conclusão? – diz sugestivo.

— Não importa se cheguei ou não, Jughead. O que importa é a conclusão da polícia. E eles já têm a deles. – junto as coisas e vou em direção à escada.

Os Olhos Errados - VugheadWhere stories live. Discover now