capítulo 6

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Ainda não fui devidamente apresentada ao capitão, o duque acredita que seja melhor que ele se recupere por completo então tenho gasto meus dias no projeto de horta.

Hoje estamos começando a preparar a terra para o cultivo, uso um chapéu maior que minha cabeça para tapar o sol e as botinas não são de grande diferença, já que posso sentir a barra do meu vestido pesar com o barro.

— Acham mesmo que esse é o lugar certo? — Estefânia apoiou sua mão sobre a testa parando o movimento da enxada — É uma terra seca, nem mesmo minhoca você aqui quem dirá couve e beterraba.

Respirei fundo me afastando para pegar a garrafa de água.

— Eu tinha quase certeza, mas agora começo a achar que tem razão — Lamentei — Desculpem-me por fazer vocês preferem tempo com isso.

— Não é uma perda de tempo, talvez se aguarmos bem a terra durante o dia mudemos sua realidade — Edmund tentou ser menos pessimista que nós.

— Sim, aí quando o mundo estiver seco por conta do desperdício de água iremos carregar a culpa — Tomei um gole da bebida gelada.

— A gente já vai estar morto se pensarmos bem — A frase de Estefânia levou nossa atenção a ela, a empregada auxiliar tem se tornado uma boa companhia desde que nós conhecemos e penso em fazer dela minha dama para que ela não precise fazer mais do que eu já a obrigo a me acompanhar.

Edmundo e eu seguramos o riso, é errado pensar que ela tem razão.

— Vamos tentar por alguns dias — Concordei — Se falharmos farei um cronograma para que alguém sempre busque verduras frescas sem que se sinta sobrecarregado.

— Então a gente já pode parar de cavar?— Estefânia perguntou cansada.

— Não estamos cavando, mas sim, Podemos — Fui a primeira a deixar a terra seca e começar a caminhar em direção a casa — Descansem pelo resto do dia, é uma ordem.

— Olha ela, dando ordens enquanto nós deixa terminar tudo sozinhos — Ouvi Edmundo brincar para que eu pudesse ouvir.

— Você terminar sozinho, eu vou respeitar a ordem da minha patroa e ir tomar um banho antes de ir relaxar na minha cama  — O ouvi reclamar antes de tirar as botas e entrar descalça na mansão dos Benedict.

A sala como de costume estava vazia, os poucos funcionários pouco vem aqui assim como os moradores. Cheirei os lírios que recém foram colocados nos pés da escada e sorri antes de subir as escadas, como se estivesse lendo meus pensamentos Janete já havia preparado meu banho precisei apenas esperar mais um pouco mais até que a água estivesse morna.

Depois de um banho trancei meu cabelos em uma trança que cai sobre meu ombro e um vestido azul claro também prendi um fitilho azul marinho em minha cintura fazendo um laço solto em minhas costas. Não calcei sapatos, tinha a intenção de passar o resto do dia lendo em meu quarto.

Me deitei de barriga para baixo e balancei meus pés no ar enquanto procurava a página que parei, a história de um monstro criado em laboratório tem me prendido totalmente nos últimos dias.

Mordi a ponta do meu dedo lendo o início de uma página antes de perceber que já havia lido, então folheei o livro mais algumas vezes e ali estava eu na página certa.

Já estava totalmente envolvida na história quando um som alto seguido de um grito tirou toda a minha atenção, me levantei na mesma hora e descalça abri a porta descendo as escadas.

O duque tem estado muito mal de saúde nos últimos dias e a melhora de seu filho não tem ajudado com isso, pelo que eu soube através de empregados o capitão se nega a esperar por ajuda, se nega a tomar o medicamento e até mesmo tenta fugir do repouso imposto pelo médico.

— O que ouvi? Ouvi algo e quebrar seguido de um grito — Comentei com Janete que segurava uma vassoura do lado de fora da porta fechada.

— O duque mandou que trouxesse uma refeição ao filho, mas ele não parece estar com fome — Disse com a expressão cansada — Estou esperando que ele se acalme.

— Ele gritou, talvez tenha se machucado, não verificou?

— Não sou paga pra tanto, senhora.

Revirei os olhos.

— Irei eu mesma verificar então.

— Mas o Duque disse.

— Não me importo — Decidida girei a maçaneta e entrei no quarto.

— Está descalça — Ela me alertou antes que eu fechasse a porta, realmente não pensei sobre isso.

No chão havia cacos de louça quebrada e também de vidro, além de grãos de arroz e água.

Deitado com os olhos abertos encarando o teto, George Benedict se manteve e não se moveu um pouco sequer para me encarar.

— Janete já tem muito trabalho, se não quer comer pode apenas deixar a bandeja de lado — Tentei passar firmeza em minha voz — Também grite se for alguma emergência as pessoas se preocupam.

Ele não disse uma palavra, apenas se manteve como já estava.

— Meu nome é Miriane, gostaria de ter me apresentado antes, mas seu pai achou que não era um bom momento então decidi eu mesma que esse seria o momento.

Silêncio.

Dei um passo adiante e precisei retornar sentindo um leve beliscão em meu pé.

— Acredito que tenha sido um acidente, vou pedir que preparem um outro prato, quer comer algo especial?

Silêncio.

— Irei eu mesma escolher então

Silêncio.

— Certo, está passando por um momento complicado e não quer falar — Fiz uma pausa — Talvez queira ouvir sobre seu cavalo, ele é arisco, ainda não conseguimos tratar suas feridas como deveríamos.

Um leve remexer com a cabeça, um cavalheiro sempre sente mais a dor de seu cavalo que a sua, mas ainda silêncio.

— Mas vamos continuar tentando, porque ele precisa estar 100% caso você volte, digo caso você volte porque se não voltar precisarei solta-lo, não manterei um cavalo selvagem preso em minha propriedade pode ser perigoso.

Eu não soltaria o cavalo, ele é sim selvagem e arisco de acordo com os cuidadores que contratei, mas eu não teria coragem de levá-lo.

Suspirei.

— Agora preciso ir, sua bagunça infelizmente me causou um ferimento e precisarei de cuidados.

Três coisas que mexem com o ego de um homem de acordo com os ensinamentos de mamãe.

1- seu cavalo
2- suas terras
3- sua esposa.

Talvez ele ainda não esteja ciente, mas com o tempo vai entender que deve cuidar de sua esposa tão bem quanto cuida de seu cavalo e suas terras, só então colocá-la em primeiro lugar.

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