Capítulo 10

57 13 1
                                    

— Eu não sei mais o que eu faço, parece que eu tento tanto e tudo é tão em vão — Solucei — Não entendo, achei que as coisas fossem ficar melhores e então elas pioraram. Já não sei mais o que fazer.

Acariciei o rosto do cavalo e dei um beijinho sem precisar me aproximar mais.

— Você não é tão arisco e selvagem quanto dizem, como eu posso fazer com que ele me mostre esse lado? Dói tanto não poder fazer nada além de estar perdida em uma relação que deveria existir mais que amor e nem mesmo isso consegui alcançar.

Fiquei mais um tempo ali antes de retornar para a casa, olhei meu travesseiro jogado sobre a poltrona e suspirei.

— Vou assar um bolo — Falei comigo mesma em voz alta enquanto ia pra cozinha ainda vestindo a camisola de seda agora com vestígios de terra pela hora passada nos estábulos — Bolo de laranja.

Tranquila, coloquei o avental e amarrei um lenço em meus cabelos. Bolo de laranja é uma das especialidades de minha mãe, o favorito do meu pai.

Lavei bem minhas mãos e organizei a bancada com os ingredientes, primeiro extrai o suco da fruta o deixando separado em um recipiente de vidro e logo em seguida comecei a preparação padrão de um bolo. Ovos, farinha, óleo, açúcar e por fim o suco. Bati com a colher de madeira e provei com meu dedo indicador. Uma pequena colher de fermento, uma forma redonda, limpei toda a bagunça enquanto observava vez a pesada forma no forno a lenha. Depois com facilidade o desenformei e molhei com o que restou do suco, espalhei raspas da casca para deixar o bolo ainda mais bonito.

Sorri satisfeita e quando noitei já estava cortando frutas para uma salada, mexendo ovos e colocando café recém coado sobre a mesa.

— Senhora Benedict — Janete apareceu com os olhos arregalados — O que é isso, a senhora enlouqueceu?

— Estava com insônia — Sorri para ela — Então resolvi cozinhar o que sempre me acalma, anda se sente e se sirva, gostaria muito de sua opinião sobre meu tempero mesmo que o doce.

— Tens febre? Dor? Está enjoada?

— Não sinto nada além de uma enorme tristeza em meu coração então por favor me alegre se sentando e comendo bem, ficarei feliz com isso — Puxei uma cadeira para que ela se sentasse.

— Mas os senhores ainda não comeram e eu devo cozinhar para vocês, se você cozinhar para que serve uma cozinheira?

— Para de sentar e dar opiniões sobre o café recém coado pela senhora da casa, não me faça desfeita e se sente. O duque não descera e sabe que o capitão não virá, me faça companhia.

Me sentei causando ainda mais estranheza.

— Não deves comer na cozinha, imagina se alguém chega e lhe vê assim, de avental com cabelos mal amarrados, comendo na cozinha o que pensarão?

— Janete, sou uma mulher casada, não preciso mais me importar com o que dirão — Tomei um gole do café — Mas por favor não prove do café sem colocar açúcar, está muito forte o que é bem ruim, achei que havia acertado.

A mulher relutante se sentou.

— Disse que seu coração dói em tristeza, quer falar sobre isso?

— Se sentou pelo café ou pela fofoca?

— Pelo conjunto é claro — Observei Estefânia já usando seu típico vestido simples invadir a cozinha — Olha você sentada com os plebeus e má vestida, me sinto até bonita.

— Como é engraçada, se junte a nós — Convidei.

— Se a patroa pede com tanto jeitinho.

Ficamos juntas ali comendo por alguns minutos, preferi não lhes contar sobre a noite passada.

Também não preciso compartilhar minha intimidade com mais ninguém além do major e minha mãe.

— Deveria servir a mesa principal e trazer os senhores para comer, ao menos um deles deve dar a cara nestes dias ou então logo teremos problemas — janete começou a dizer.

— Como poderíamos ter problemas?

— Bom, Bertro tem muitas pessoas trabalhando e também moradores, você sabe, quando o patrão não é visto é como se fosse uma terra sem dono.

— E o que os senhores da casa costumam fazer?

Ninguém mora em Skaevill além de minha família, papai nunca colocaria nossa segurança em risco colocando estranhos para ir e vir em nossa propriedade, isso é o que ele dizia quando questionado em reuniões, que em uma casa onde vive sua esposa e filhos ele precisa saber quem pode entrar ou sair, quando, de onde e porque.

As duas mulheres pareciam ser boas no que eu sempre achei horrível de se fazer, agora me encontro entretida e com opiniões, a fofoca é mesmo algo totalmente contagiante.

Naquela tarde, Estefânia e eu fomos em uma carruagem simples puxada por um cavalo, sem cocheiro e sem cobertura visitar algumas famílias.

Famílias que até hoje não sabiam que o capitão tem uma esposa, me apresentei com muito grado e educação, também perdi a conta de quantas vezes aceitei entrar em suas casas e me sentei sorridente para tomar um café.

Doce, amargo, aguado e ao ponto. Todos os tipos de café acompanhado de boas companhias, quando retornei para casa o sol já começava a sumir então aproveitei um banho para relaxar o corpo.

Como diz Estefânia, minha bunda estava quadrada de tanto tempo sentada.

A noite Janete e eu levamos uma bandeja para o quarto do duque com a refeição da noite, coloquei meu prato sobre sua mesa de negócios agora vazia e jantamos juntos enquanto falava para ele o que havia feito durante o dia.

Também o poupei da situação com seu filho, o duque já não se sente bem, meus problemas não precisam ser problemas de mais ninguém.

Após deixar seu quarto voltei ao meu e me troquei, hidratei meu corpo e peguei meu travesseiro descendo as escadas.

Mas dessa vez não falei uma frase sequer, apenas entrei no quarto e ignorei totalmente a existência do senhor sentado sobre o colchão duro lendo concentrado documentos.

Fechei a janela e também as cortinas deixando o quarto ser iluminado por velas, ajeitei meu travesseiro e me sentei na cama abrindo meu livro.

Não tenho tido tempo de ler ultimamente.

Ouvi quando ele juntou os papéis os colocando de lado e também quando seus óculos de leitura foram colocados juntos.

— Não apague a luz, agora que iniciei minha leitura — Falei com a voz firme.

— Deveria terminá-la em seu quarto.

Virei a página pacientemente.

— Sabe capitão, o senhor pode ser o tipo de homem que não gosta das noites passadas com sua esposa, mas eu não serei a esposa que dorme sozinha, se conforme.

Ele não se importou, esticou a mão e apagou a vela que fica ao lado de sua cama sem nenhum peso em sua consciência.

Fechei o livro sem paciência, ainda deixando a minha acesa resolvi novamente colocar as dicas de minha mãe em ação.

Observei o capitão com seus olhos fechados e barriga para cima, coloquei o livro na cama ao meu lado e arrastei meu corpo para o lado do seu.

Sei que ele percebeu meus movimentos pois ele postou três vezes e preferiu ignorar.

Quando ele voltou a fechar os seus olhos dei um grito silencioso e simulei sufocá-lo com meu querido travesseiro.

Estiquei meu corpo ao lado do seu e deitei minha cabeça sobre seu peito, senti meu corpo se mover com sua respiração, a mudança de calma para acelerada, acelerada como seu coração. Posso ouvi-lo sem nenhuma dificuldade.

— Boa noite meu marido — Sussurro e segui minha cabeça beijando seu queixo onde começa a nascer fiapos que me esperaram e mais uma vez ignorei o incomodo que o futuro Duque de Bertro, o capitão George Benedict me causa.

Cruel Capitão Where stories live. Discover now