Got'ya

Eu estou grávida!

Ryunjin ainda permanecia ao meu lado, abraçada comigo. A enfermeira terminava de ajeitar a maca que eu baguncei durante minha crise e se aproximou de mim com todo cuidado.

-Sua pressão voltou ao normal. Se sentir qualquer outra coisa, não hesite em apertar o botão ok?

Concordei com a cabeça e ela saiu da sala deixando a porta fechada. Soltei um suspiro alto o suficiente para ecoar na sala toda. Ryunjin permaneceu quieta, eu já não sabia se eu estava confortável ou não naquela situação.

-Que horas são?

Ousei quebrar o silêncio. Ela soltou um dos seus braços de mim e se inclinou pegando o celular em cima da poltrona ao lado esquerdo da maca (lado da porta da sala).

-Quatro e meia

-Você precisa ir dormir

-Você também

-Eu não estou com sono

-E eu não vou sair daqui até você dormir

A conversa encerrou com a fala dela e permanecemos nos olhando. Ela me encarava com um olhar cansado e preocupado. Suas olheiras se faziam presentes e sua pele branca fazia questão de marcá-las ainda mais.

-Ryu... Me desculpa por tudo isso.

-Está tudo bem. Na minha adolescência eu tinha que tomar soro quando menstruava de tanta cólica que eu sentia.

-Não

Ela estava sorrindo quando eu a cortei séria. Ela me olhou confusa, engolindo a risada como uma criança engole o choro.

-Eu quero dizer... Me desculpa pelo que vai passar apartir de hoje.

-Como assim? Do que está falando?

Me desencostei dela enquanto seu olhar me acompanhava minuciosamente. Olhei para minhas mãos entre minhas pernas e tentei buscar a coragem e as palavras certas para contá-la.

-Não estou com cólica. Eu não sinto mais cólica. Bom... Pelo menos não a menstrual.

-Ah! Já entendi!

Ergui o olhar pra ela temendo que ela tenha entendido mesmo.

-Está com dor de barriga? Entendo super. O famoso "cu envergonhado". Está tudo bem, Ji. Todos nós usamos o banheiro. Era só ter ido depois que eu já dormi.

-Não menina, eca!

Fiz careta.

-Mas é normal! Todos nós sentimos isso um dia.

-Para com isso!

Joguei o travesseiro nela que o segurou com facilidade antes dele cair no chão devido á pequena distância que estávamos uma da outra. Estava rindo e ela me acompanhou.

Respirei fundo me recompondo.

-Não estou falando de cólica menstrual muito menos da intestinal.

Ela segurou o travesseiro como se ele fosse um bicho de pelúcia e pois-se a me observar novamente.

-Eu estou grávida, Ryunjin. E acho que quero ter o bebê.

Aquelas palavras mexeram tanto com ela quanto comigo. Eu não tinha dito alto e claro que estava grávida e queria ficar com o bebê até agora. Confesso que foi um choque pra mim também. Mas minha preocupação maior era com a loira travada á minha frente. Ryunjin não esboçou uma reação sequer. Nem sorriu, nem esbravejou, nem falou nada.

-Ryunjin?

Ela permanecia imóvel. Agora quem precisa de uma maca de hospital é ela.

-Ryunjin fala alguma coisa. Está me assustando.