Revolução Arco-íris Jjk+Pjm

Apesar de você

A minha gente hoje anda falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

- Apesar de você
Chico Buarque.

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Os primeiros dias de outono em São Paulo eram de fato caóticos, os dias eram nublados e quentes, pessoas sempre com pressa e medo das nuvens carregadas que nunca caiam água, algumas delas viviam em constante alerta, com receio de pisar fora de casa e ser levada junto ao governo para Deus sabe aonde.

Era início da década de oitenta, onde ao passar pelas ruas podiam ser vistos pequenas tendas de tecidos verde-escuro onde os soldados ficavam a espreita de qualquer imoralidades - em seu ver - que pudesse ser detectadas.

E Jeon Jungkook era de uma enorme imoralidade.

Apesar de Jungkook passar quase despercebido por entre as pessoas - quase pois ter traços asiáticos e possuir várias tatuagens espalhadas pelo corpo naquela época chamava um pouco de atenção - ele guardava consigo, dentro de seu ser, um arsenal de imoralidades muito grande. Em uma época em que expressar suas proprias opiniões era considerado total heresia, ser quem Jungkook era, tornava-o criminoso a cometer pecado contra a própria pátria. E no Brasil esse era o pior tipo de crime a ser cometido.

Sentado na mesinha mais ao canto do pequeno butiquim da Senhora Irís, uma amiga de longa data, bebendo um café deveras amargo, Jeon folheava o jornal comprado naquela mesma manhã onde revelava que um pequeno grupo, denominado pela própria ditadura como "os subversivos", vagaram madrugada a fora espalhando folhetos e cartazes. Protestando contra aquela forma de vida que o governo lhes empunhava. O jornal enfatizava que um dos líderes do vandalismo fora preso e será julgado em Juiz silencioso.

Jungkook suspirou pesadamente, sabia quem eram, aliás fora ele que fez muitos dos cartazes a mão. Mas não estava cem por cento ligado a eles, apenas ajudava e lhes dava assistência quando era necessário, pois lutavam pela mesma causa, buscavam os mesmo resultados.

Silenciosamente tomou o último gole de seu café, enrolou o jornal o colocando na mesa e se pôs a caminhar até a bancada amadeirda do minúsculo butiquim. Onde uma senhorinha de cabelos grisalhos estava enfeitando biscoitinhos amanteigados com grande mestria e concentração.

- Já vai meu filho? - Perguntou dona Irís levantando os olhos dos doces, quando sentiu o moreno se aproximar.

- Sim, volto mais tarde para ajudar a senhora, hoje a casa vai encher bastante.

- Obrigada por isso cafezin. - agradeceu. - Leve esses biscoitinhos aqui para não passar fome trabalhando. - Entregou um pote não tão pequeno na mão do jovem. - Tive um pico de criatividade mais cedo e fiz biscoitinhos para uma patota inteira! - Contou animada.

- São biscoitos amanteigados? - A mais velha assentiu- devem estar uma belezinha, mas agora preciso ir. - O Jeon se apoiou na bancada e deixou uma beijoca estralada na bochecha da senhora, arrancando uma risada gostosa da mesma.

- Se cuida cafezin, tente não ficar perto das tendas, hoje eles estão igual leões.

- Fica fria dona Irís, sei me cuidar. - Lançou uma piscadela, saindo da lanchonete.

Durante todo o percurso até a oficina, pode observar caminhões militares indo e vindo pela rodovia principal, e muitos soldados espalhados por entre a multidão. Jungkook buscava sempre passar despercebido, não por ser delinquente ou um grande causador de problemas, isso jamais, mas com toda a certeza do mundo eles o tinham em sua lista negra.
Não importava o dia ou a hora, se algum soldado o olhava por mais de dez segundos, ele certamente estaria em problemas.
Existiam alguns motivos para essa implicância toda com o Jeon. E alguns deles poderiam estar em seu jeito de andar meio jogado, suas tatuagens e roupas mais escuras com manchas de graxa, mas o mecânico tinha a certeza que o motivo para ser fixado como "alvo" pelos soldados, era por passar muito tempo no butiquim. Aparentemente dona Íris também era uma senhorinha com um alvo bem grande nas costas.