OITO

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MORANA

PRESENTE

Eu nem estava preparado para desfazer as coisas. Fiquei parado no meio do apartamento, olhando de volta. Procurei por toda parte, ainda procurando por algo suspeito. Peguei uma cadeira da ilha da cozinha e arrastei-a para o outro lado da sala. Subi nele e comecei a tocar o ar condicionado com as mãos para ter certeza de que não havia câmeras escondidas ou insetos. Porque é isso que estou perdendo aqui. Para me entregar em algum telefonema e apodrecer na prisão.
Eu não cometeria os erros do meu irmão e de seus amigos. Enquanto procurava algo suspeito pelo apartamento, totalmente detalhado, ouvi um pigarro e pulei no lugar. Olhei para trás e exalei alto, colocando as mãos sobre o peito.

-O que? - - Disse a respeito de uma preocupação especial no rosto de Kai.

Que mudança. Até duas horas atrás, ele estava parado na frente de Banks, protegendo-a com o peito, o ódio por mim estampado em seus olhos. Já me preparei para ter Kai no bolso. Porém, não foi tão fácil.

- Você nunca confiou em nós... - ele começou a dizer enquanto caminhava na direção, - Mas sem exagero.

- Você é capaz de qualquer coisa para me derrubar.

- Você está confuso, Alex. - Ele mudou de assunto suavemente.

- Ela me encurralou. - Eu me defendo.

- Ela só queria ser legal. E agora ela pensa que você é pior que
Damon.

- Estou?

- Muita coisa mudou, já se passaram cinco anos. Fique de olho nesses dois. - Ele balançou a cabeça e eu mordi o interior da minha bochecha.

Alguma vez eu quis que Will e Kai fossem para a prisão principalmente por minha causa? Nunca. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria naquela noite de cinco anos atrás e simplesmente ficaria em casa.

- Você gostaria de Meridian City. Morando aqui permanentemente.

- Não sei se agüento duas semanas, muito menos o resto da minha vida.

- Você realmente prefere a Espanha?

- Claro que eu faço.

- Com Devon? Para o resto da sua vida?

- Quem disse para sempre? - Franzi as sobrancelhas. - Acidentes acontecem com pessoas, carros atropelam e às vezes algumas pessoas enlouquecem e tiram a própria vida.

- No casamento com você, a pessoa mais saudável ficaria louca.

- Você me lisonjeia, Kai. - Sorri ironicamente para ele.

- E depois de eliminar Devon, você vai voltar? Ter vontade.

- Você ainda está se iludindo, que eu quero você tudo na minha vida.

- Ele não vai parar de lutar por você.

-Ele vai.

- Uma pessoa certa não desistirá de você.

- Eu estava brincando, eu amo Devon.

- Não diga isso de novo.

- Porque? Porque eu encontrei o meu feliz?

- Não, porque você mente. Não há nada para amar em Devon.

- Parece que combinamos. Talvez isso esteja nos conectando?

- Você deveria conhecer alguém.

- Se for outro Alex, não vou conseguir. Vou palar aquela janela e quebrar a cabeça no asfalto.

- Você vê uma solução para tal fim? Mais mudou do que eu pensei.

- Ou... - comecei a terminar minha frase anterior. - Isso vai empurrá-la para aquela janela, e a vida fica mais bonita em pouco tempo.

- É mais parecido com você... - ele admitiu com uma risada gentil, então nós dois olhamos para a porta que se abriu e Will ficou ali parado.

Kai olhou para baixo, tentando reprimir uma risada, então, quando estava prestes a sair, ele parou por um momento no lugar ao meu lado, sussurrando para mim, inaudível para Will.

- Não seja tão... você com Alex. Ele nunca tentou ver você nela.

- Não estou aqui para satisfazer seus caprichos e ser manso.

- Claro que não. - ele riu, e quando passou por Will, fez uma expressão descontente.

Ele era Louco.
Quando Kai saiu, fechando a porta atrás de si, senti uma atmosfera envolvente e o ar ficar pesado. Tive que ficar longe dele nas próximas duas semanas. Caso contrário, eu teria sucumbido a ele novamente e tudo iria para o inferno. Grayson começou a andar pelo apartamento como se nunca tivesse estado aqui antes, mas seus olhos sabiam para onde olhar. Juntei minhas mãos e pressionei meus lábios em uma linha apertada.

- O apartamento de Alex fica do outro lado do meu. - Limpei a garganta e Will bufou, balançando a cabeça.

- Não seja assim... - Ele baixou as mãos resignadas, olhando para mim com seus olhos confusos.

Ele ganhou ainda mais músculos do que antes, e pude ver uma boa quantidade de tatuagens através de sua camiseta preta. Suas maçãs do rosto ficaram mais nítidas e seus olhos escureceram com o tempo.
Eu não consigo tirar os olhos dele. Eu só me perguntei se ele ainda cheirava a Philipp Plein, se ainda tinha os braços perfeitos para se divertir e o que ele sentiu por mim. Seria melhor para ele se me odiasse agora, porque em quatro semanas irei desaparecer e farei com que ele nunca mais me veja e poderei saber pelos outros como está sua vida. Assim como fiz nos últimos três anos.

- Você não quer...

- Oh meu Deus! - - gritei, jogando os braços para o alto. - Se mais alguém disser isso hoje, eu vou queimar a cabeça dele! Como você saberia quem eu quero e quem não quero! Concordo, Will. Eu sigo em frente, agora é a sua vez.

- Você acha que eu não tentei? Eu fiz! Mas tudo não tem sentido!

- Não posso te ajudar com isso, mas talvez Alex ou Winter me ajudem.

- O que aconteceu com você? Você é tão diferente.

- Eu cresci.

- Por que você tem tanto preconceito com Alex? Ou inverno.

- Não estou, apenas falando fatos. - quando me afastei dele e estava prestes a sair para outro quarto, sua pergunta me parou.

- Como você sabe? - ele estava falando sobre sua aventura com
Damon e Winter.

- Eu sei muitas coisas. Nem todo mundo é seu amigo, William.

- Você me censura por isso, e eu devo acreditar que ninguém teve você durante esse tempo.

Eu enrijeci. Ele não entendeu. Ninguém entendeu ou sabia a verdade.
Somente ele, Banks e Rika poderiam me tocar. Aí na igreja, quando éramos crianças, e nos conhecíamos, e ele agarrou minha mão, percebeu que ele era a primeira pessoa que me tocava, sem causar queimadura em todo o meu corpo. Só mais tarde as meninas se juntaram a este grupo. Mas como está agora?

- Sim, exatamente como pensei. É sábado. Todas as noites saímos pela cidade. Esteja pronto.

Ele saiu e bateu a porta com força atrás de si, e eu fechei os olhos com força, cravando as unhas no centro da palma da mão até ver sangue nela. Mas a dor no peito persistiu. Doeu mais do que eu queria que iria fazer. Tantos anos se passaram...

Não sei o que deu em mim naquele momento. Era como se uma pessoa completamente diferente estivesse me dirigindo. Queria sair, correr atrás dele e explicar tudo. Incluindo o que costumava ser no passado. Assim que tirei a maçaneta e saí para o corredor, foi como se o destino estivesse me dizendo para não fazer isso. Alex estava colado ao peito de Will enquanto passava a mão nas costas dela.
Senti um nó doloroso no estômago e não consegui engolir por um momento. Eles eram muito próximos. Mais perto do que eu suspeitava. Mas eu não queria que eles percebessem que eu estava comovido.

- Preciso de um carregador. Deixei o meu em casa.

- Vou trazer o meu para você. - Will disse sem nenhuma excitação.

- Irei para a cidade assim que carregar meu celular para comprar o meu.

- Morana, estávamos só... - Alex começou a falar, mas eu a interrompi.

- Sim, tanto faz.

- Sim, tanto faz.

Deixei a garota, indo em direção à minha cobertura e na minha cabeça as palavras de Will, que há seis anos ficaram gravadas na minha memória, dando uma centelha de esperança, se refletiram na minha cabeça.

Não há ninguém acima de você.

BONITO VENENO, Will Grayson IIIWhere stories live. Discover now