★ 𝟬𝟬𝟰 » Vermelho carmesim

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"Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores;"

Confúcio

MONTAUK, NOVA IORQUE - EUA
26.11.2020 - 03:51 AM

Tinha sono leve, resultado de constante estresse nos últimos meses. Leve o suficiente para ouvir passos sobre os cacos na entrada da conveniência e acordar. Me ajoelhei e recuei mais para dentro das prateleiras, me encolhendo na escuridão do ambiente. A estática de um rádio chia, quebrando o silêncio.

"XxXx... Encontrou algum dos dois idiotas?"

─ Milligan ficou de dar um jeito no maluco, mas sem sinal da loira, sumiu de vez. ─ A voz era desconhecida, mas agora podia imaginar de onde aquele indivíduo sabia da minha existência. A confirmação de que o canibal estava morto não era suficiente para trazer nenhum tipo de conforto no momento.

"É foda mano. Eu falei que era melhor esperar amanhecer, mas o Lucian disse que os rastros iam sumir."

─ Teria sido mais fácil deixar isso pra lá. Eu poderia estar na minha cama quentinha roncando agora.

Sua voz se aproxima conforme a conversa acontece. Me inclinei para trás da prateleira e espreitei sua silhueta. Estava de costas para mim, e carregava uma espingarda em suas mãos. O mesmo observava o caixa dando meia volta no balcão. Seu indicador destro pousava sobre o botão de fala do rádio, enquanto mantinha o canhoto no gatilho.

"Cê acredita que esses dias o Milton tava puxando sardinha pro Howard? Esse desgraçado é um folgado. Anda falando de mim por aí... XxXxX"

Uma gargalhada escapa dos lábios do homem armado.

─ É, eu fiquei sabendo de umas coisas mesmo. ─ Disse em tom de provocação.

Encarei a porta aberta. Eu não tinha absolutamente nenhum tipo de armamento. Entrar em um conflito agora seria assinar um contrato com a morte. Talvez pudesse recuar até conseguir sair sem chamar a atenção.

"Ah, velho... O que esse imbecil disse?"

─ Sobre suas saidinhas pra... ─ Dei alguns passos para trás, mas paralisei ao pisar sobre uma garrafa plástica vazia. O farfalhar interrompe o diálogo, e o homem imediatamente se vira para trás. ─ Tem alguém aí?

"Que saidinhas caralho!? Esse idiota tá alucinando"

Ignorando a fala do companheiro, seus olhos estavam fixos em minha direção, ainda incapazes de reconhecerem minha presença em meio à escuridão.

─ Tá tudo bem, eu não vou atirar. ─ Disse enquanto prendia seu rádio ao cinto. ─ Não vou fazer nada... ─ Sua voz se torna mansa, afável. Agora empunhava a espingarda rigidamente com ambas as mãos, mas mantinha o cano apontado para o chão.

"Jonathan? Ainda tá me escutando!?"

Ouvir seu nome ser chamado me trouxe um vislumbre do primeiro dia, ainda naquela parada de caminhões. "Jonathan". Seu rosto me veio à mente, usando aquele uniforme esfarrapado preto e amarelo: o atendente de caixa.

─ Nós temos abrigo. Comida também. Tá machucado? - Minha mudez permanece ─ Ou machucada...? ─ Seus olhos analisaram o perímetro com desconfiança ao corrigir sua fala, antes de me colocar na mira da espingarda.

A prateleira à minha frente estava pendula, sua madeira teria sido enfraquecida pelas infiltrações durante dias de chuva. A agarrei com as duas mãos e usei toda a força que me restava em meus braços para a derrubar, criando um efeito dominó sobre outras quatro e formando uma barreira de proteção ao meu favor. Um tiro estilhaça a tábua, criando um buraco que poderia ter sido aberto em minha cabeça.

Meat Is Murder: InterritusUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum