★ 𝟬𝟭𝟬 » Sangria

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"A violência, quando organizada, é, por vezes, confundida com justiça."

Ediel

SAGAPONACK, NOVA IORQUE - EUA
06.12.2020 - 10:20 AM

─ Oito quilômetros até lá. Devemos chegar em três horas, se a nevasca não nos alcançar antes ─ Peter respondeu ao questionamento de Andrew enquanto subia o zíper da jaqueta verde musgo que usava.

O mais novo assentiu em confirmação enquanto checava quantas balas ainda carregava em seus bolsos. Olhou brevemente pela mira do rifle antes de usar o tecido do casaco que envolvia seu pulso para desembaçar a lente. Me mantive de pé de frente para a porta aberta, observando o que teríamos de enfrentar. O vento assombrava toda a floresta de forma violenta, os pinheiros se balançavam de um lado para o outro em uma dança, e o nevoeiro que se aproximava impedia a visão do horizonte.

─ E se nos alcançar...? ─ Indaguei com uma preocupação óbvia.

─ Não vai. ─ O russo respondeu com confiança ao passar ao meu lado, propositalmente batendo seu ombro contra minhas costas e me empurrando para frente. O pastor alemão corre atrás dele.

O acompanhei com o olhar vendo-o tomar a frente e finalmente abandonar a cabana, depois olhei para trás, vendo a feição amedrontada de Peter. Parecia ter certeza do contrário, e isso me fazia não saber em qual dos dois deveria confiar. Acelerei meus passos para alcançar Andrew, consequentemente o pescador veio logo atrás com passos mais lentos e receosos.

Como sabe que não? ─ Sussurrei para que apenas Andrew ouvisse.

Eu menti. Não quero esse bostinha dando o pé pra trás e fazendo a gente perder nossa carona. ─ Ouvir aquilo me fez abaixar o olhar e cruzar os braços. Ele andava com pressa, era necessário tomar passadas mais largas para me manter ao seu lado. ─ Tá vendo aquela nuvem? ─ Apontou exatamente para a direção na qual estávamos indo. Ela se destacava no céu, era mais escura que as outras e era possível enxergar os raios de trovões através dela. ─ É uma cumulonimbus. ─ Ele olha para baixo apenas para notar minha expressão neutra e compreender que eu não tinha ideia do que estava falando. ─ Nuvem de tempestade. ─ Completou, mantendo seu baixo tom de voz.

O clima gélido trazia uma estranha e desconfortável sensação, da qual até então eu desconhecia. A força do vento se intensifica, soprando um assovio mórbido. Tinha o pressentimento de que a morte estava próxima, e com isso, não me referia aos infectados. A revolta da natureza contra a raça humana tentava de tudo para nos extinguir, e uma hora, conseguiria. Quanto mais caminhavamos, mais pareciamos adentrar sob os véus da fúria de Deus. Apenas quarenta minutos de caminhada foram necessários para que nossa visão fosse limitada pelo nevoeiro. Em duas horas, podia sentir a ponta dos meus dedos congelando. Com quatro horas e meia de uma viagem ininterrupta, já tínhamos perdido completamente nossa noção de direção.


"NEBRASKAAAAA"

A voz de Andrew ecoa pelo deserto branco. O pastor alemão que antes guiava nosso caminho até o norte teria desaparecido em meio à tempestade. Suas pegadas foram cruelmente apagadas, soterradas por neve. Seu tutor em um ato irracional teria se distanciado do resto do trio com o objetivo de tentar alcançá-la. Já não podíamos vê-lo, apenas escutá-lo.

─ ANDREW!? ─ Gritei aproximando as duas mãos do rosto em uma formação de cone. ─ PRA ONDE VOCÊ FOI!?

─ Regan... ─ Peter chama minha atenção enquanto retira uma corda de sua mochila. Tendo uma das pontas em mãos, ele se aproximou com passos trôpegos, levando-a até minha cintura e passando através de meu cinto até metade do comprimento. Um nó de marinheiro é dado não só em meu cinto, mas também na arriata de sua calça, unindo nós dois para que não fosse possível nos separarmos. ─ Vamos achar ele.

Meat Is Murder: InterritusWhere stories live. Discover now