5. As recrutas

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Ela não sabe exatamente quanto tempo passou confinada naquele quarto, mas tem certeza de que foram anos. O processo de cura foi um verdadeiro tormento, repleto de uma dor intensa e insuportável. As feridas externas deixaram cicatrizes grotescas em seu corpo, mas, felizmente, agora estão cicatrizadas. No entanto, as dores crônicas e debilitantes persistem, causadas pelos fragmentos de divinium ainda percorrendo seu sistema.

Até agora, uma série de procedimentos foi tentada para removê-los, cada um mais doloroso que o anterior. Desde permitir que ela quase sangrasse até a morte, até cortes e queimaduras em seu corpo, as soluções tornaram-se cada vez mais extremas. Infelizmente, nenhum desses métodos foi bem-sucedido.

Assim, ironicamente, ela se vê presa em uma cama, uma cruel semelhança com sua infância. Exceto que, desta vez, sua imobilidade não se deve à falta de sensações em seu corpo, mas sim ao excesso delas. A situação é tão absurda que, às vezes, Ava se pega rindo maniacamente, lutando para não ser consumida inteiramente pela dor.

Ao longo dos anos, Reya sempre a visitou, e apenas sua presença foi capaz de aliviar o tormento. A cada visita, parece que um alívio temporário toma conta de seu corpo, uma sensação que desaparece completamente sempre que a deusa parte.

Dia após dia, o tempo arrasta-se dolorosamente. O quarto tornou-se sua prisão, suas paredes seus únicos amigos. Por alguma razão, além de tentar novos procedimentos ou ajudá-la com necessidades básicas, ninguém ousa falar com ela, quanto mais tocá-la.

O isolamento a faz desejar por Francis, pelo orfanato. Lá, pelo menos, ela tinha a companhia de Diego. Agora, tudo o que resta são as dores lancinantes que a consomem, transformando cada movimento em verdadeira tortura.

Emocionalmente, Ava luta contra a escuridão que ameaça envolvê-la. Inicialmente, buscava conforto em Beatrice, Camila e Madre Superiora. O pensamento de vê-las novamente era a única coisa que a impedia de cair no desespero e implorar pela morte.

Mas gradualmente, encontrou-se ansiando cada vez mais pela presença de Reya.

Era somente ela quem conseguia verdadeiramente aliviar sua angústia e dor. E mesmo que Reya não a visite com frequência, sempre ocupada com várias atividades, toda vez que o faz, é como se sua aura divina trouxesse consigo uma sensação de paz e serenidade.

"Ava, me dói ver você assim. Sinto o seu sofrimento e desejo nada mais do que aliviar a sua angústia", ela diz com uma voz suave e reconfortante.

"Então, por que você não faz isso? Você me disse que em dez anos... e tenho quase certeza de que estou confinada nesta cama há muito mais tempo, consumida por essa maldita dor que não vai embora", ela responde, exausta. "Por favor, quando você está aqui, tudo melhora. Por que você não me cura? Por que me abandona?"

"Nós conversamos sobre isso inúmeras vezes. Eu só posso ajudar aqueles que desejam a minha assistência. Você está sofrendo porque não me aceitou completamente. Sua dor persiste por causa de sua teimosia. É a sua escolha sofrer, não a minha."

"Isso não é verdade. Eu te aceitei. Fiz o que você pediu, matei Adriel, e deixei seus lacaios me experimentarem. Eu desejo sua companhia, sinto saudades de você. Como isso é te rejeitar?"

"Você tem reservas, minha querida. Construiu barreiras entre nós. Você se sacrifica com expectativas. Porque quer alguma coisa. Você não se entregou completamente a mim. Resiste à minha vontade, e é por isso que sofre."

"O que mais você quer de mim? Dei a você tudo o que pude!"

"Você sabe que não é verdade. Seus desejos pessoais impedem você de me aceitar completamente. Você não pode me servir se continuar se apegando aos deveres e desejos das amizades que formou. Se sua alma ainda anseia por outro."

Sombras do destino: Parte I (A Warrior Nun Fanfic)Where stories live. Discover now