Desta vez não dormi por dois dias seguidos. Não só a droga colocada estava menos concentrada (embora não parecesse) como quase metade do vinho havia sido derrubado em mim no processo.
Acordei no meio da tarde, zonzo e fraco, sentindo-me péssimo. Eu nunca gostei de beber e era fraco com álcool, então minha cabeça doía como se fosse explodir e meu estômago reclamou de fome ao mesmo tempo que eu sentia náusea. Que bela combinação.
Minhas roupas foram trocadas por roupões internos brancos e eu estava limpo e fresco, como se tivesse acabado de sair do banho. Eu estava no mesmo quarto de antes, mas meus pertences foram todos confiscados. Suspirei impotente.
Deveria estar agradecido por não estar em uma cela da prisão. Lembrei-me vagamente do Wo da-ren dizer para que eu não saísse do quarto até ser chamado, mesmo assim fui pé ante pé espiar por uma brecha da janela.
Resmunguei baixo, havia alguns guardas guardando minha saída. Voltei para a cama amuado. Quando pudesse pegar minha cítara, talvez fosse melhor eu dar um jeito mesmo nesta minha situação. Se bem que se eu tivesse que morrer, poderia não ser por este juiz, mas por qualquer outro que colocasse as mãos sobre mim.
"Bom, tudo bem, contanto que eu não tenha que atender nenhum pedido egoísta desse juiz." Pensei comigo mesmo. Ouvi a porta abrir, aparentemente Yang Ming estava vindo de tempos e tempos ver se eu havia acordado.
"Senhor Li, hã... Du, eu trouxe uma refeição leve para você."
Encarei-o cheio de suspeita, mas o jovem oficial pareceu ficar um pouco constrangido com esta atitude.
"Eu sinto muito por ontem a noite, mas foi necessário. Por favor, não leve a mal Wo da-ren. Ele não fará mal algum a você."Não respondi e nem olhei para a bandeja de comida. Vendo que palavras seriam inúteis agora, Yang Ming retirou-se com uma breve reverência que eu nem merecia receber. A princípio pensei em não comer, mas como meu estômago doía, acabei cedendo a fome, não sem antes não sentir raiva e engolir as colheradas de congee entre lágrimas. Por que eu tinha que ser tão fraco?
O juiz Wo não me chamou tão cedo. Pelo visto ele queria me deixar a beira da loucura, cozinhando-me no vapor. Descontei toda minha raiva e frustração chutando as almofadas, depois dormi novamente, exausto. Acordei no fim da tarde e nada de me chamarem...
Foi só na hora do jantar que Huo Mao apareceu. Eu ainda estava desabado sobre a cama, mordendo os lençóis depois de ter outro ataque de raiva e este capanga me flagrou xingando Wo Dan pela quinquagésimo vez naquele dia.
Como usei o lençol para abafar o som, as palavras saíram como pequenos grunhidos abafados, mas ainda compreensiveis.
"MALDF-DIHTO-JUFIZ-WO!"
Huo Mao "......"Por um momento pensei que ele fosse me repreender, pois sua testa tinha uma leve rusga.
"Senhor Du, o juiz Wo gostaria que você o acompanhasse no jantar."
"Espero que eu não seja o jantar dessa vez." Grunhi, levantando da cama rapidamente.Huo Mao me entregou uma muda nova de roupas, as outras foram manchadas com vinho e eu o acompanhei até uma sala menor, reservada apenas para Wo Dan jantar em paz.
O próprio Wo Dan dessa vez estava mais a vontade. Geralmente ele estava usando sempre seu guan [1], com os cabelos impecavelmente presos, porém hoje, ele estava usava apenas roupas leves e seus cabelos estavam frouxamente presos em um coque. Sua aparência desalinhada tinha um charme magnético que faria qualquer um ficar de joelhos diante de sua beleza afiada.
"Ah, que bom que você aceitou o convite." Ele disse com um sorriso zombeteiro.
"Eu teria alguma outra escolha?" Retruquei sem um pingo de respeito dessa vez, o que deve ter deixado Huo Mao mais desconfortável do que antes.
Mas Wo Dan apenas riu.
"Que bom que você decidiu ser mais sincero. Fica mais fácil conversarmos assim. Sente-se."
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Protagonista é um Bastardo!
RomanceDu Fushi é um contador de estórias. Ele vagou por quase todos os lugares e conhecer os enredos mais incríveis que existem, seu talento é incomparável. Contudo, Du Fushi também é alvo de estórias, de que foi abençoado pelo deus dos Viajantes com capa...