Capítulo 3

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Os pesadelos estavam longe de ser novidade.

Desde que havia chegado em Nova Maria, há algumas semanas, André era assombrado por sonhos bizarros, perturbadores, sem nenhum tipo de lógica.

Mas todos com um elemento em comum: uma aparição grotesca e cheia de energia, que dizia ser seu médico dos sonhos.

Toda noite, ele sonhava. Toda noite, olhos dourados e um sorriso terrível o saudavam para mais uma sessão de horrores.

Toda noite, André vivenciava seus piores medos com um realismo horripilante.

Não importava o quanto André tentasse escapar deles, os sonhos sempre o levavam de volta ao começo, de volta à sala infantil e claustrofóbica.

De volta às garras de uma criatura que insistia em poder curá-lo de suas fobias mais extremas.

André não era experiente com sonhos, muito menos uma pessoa criativa. O rapaz não tinha ideia de como sua mente havia criado um ser tão assustador, nem qual a razão de sonhar com ele sempre que a noite caía.

Talvez estresse, talvez cansaço, talvez os dois ao mesmo tempo.

Se outras pessoas estivessem no seu lugar, elas pensariam que os sonhos eram uma clara mensagem de seu inconsciente, uma representação bizarra de seu estado mental.

...ou pensariam que a origem do médico era algo mais místico, mais sobrenatural.

"Que ridículo...", André suspirou, pegando uma xícara para se servir de mais café. Ele empurrou a franja para longe dos olhos. "Como se eu fosse ter um bicho-papão particular."

De repente, seus dedos começaram a latejar, a dor se espalhando por toda a sua mão. A xícara escorregou, estilhaçando dentro da pia.

— MERDA! — Ele pulou para trás, rangendo os dentes. O coração batia dentro das orelhas. — Mais essa agora, puta que pariu!

O rapaz apertou o pulso com força, mas a dor não ia embora. Pelo contrário, apenas ficou mais forte, os dedos tremendo incessantemente.

Cenas de seu último pesadelo se instalaram entre seus pensamentos, mas André sacudiu a cabeça, as afastando o mais rápido possível.

"Muito tempo no computador...", ele tentou se convencer, abrindo e fechando as mãos repetidas vezes. "Não é à toa que estão doendo tanto."

André catou os cacos de dentro da pia, os jogando dentro da lixeira. Tristeza encheu seu ser; toda aquela louça havia sido comprada por sua mãe, e ele já quebrara três xícaras em apenas um mês.

"Irei comprar um conjunto novo quando puder."

Estalando os dedos um por um, ele pegou outra xícara com a maior delicadeza possível, a dor diminuindo para uma rigidez incômoda. Despejou o que restava da garrafa; teria que fazer mais depois.

Com a cafeína dançando em sua língua, ele checou o celular, notando novas mensagens.

Giovanna, 10:10

oiiii maninho, tudo certo por aí?

André mostrou um sorriso fraco.

Você, 10:11

tudo, só tá uma manhã lenta

Giovanna, 10:11

puxa, sério? Nenhum plano pra hoje? Não vai à praia?

Você, 10:12

já fui à praia o suficiente pra uma semana

As vezes em que foi à praia eram o mesmo que zero, mas a irmã não precisava saber disso.

OneirofobiaWhere stories live. Discover now