Capítulo 7 - Parte Dois

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De todas as revelações que havia recebido naquela caótica manhã, aquela havia sido a mais impactante.

André demorou a responder, a achar uma resposta apropriada para aquilo; várias emoções o atingiram ao mesmo tempo, sacudindo seu ser.

Choque. Confusão. Melancolia.

E, estranhamente, alívio.

— Você... você também teve...?

Letícia assentiu com a cabeça. Ela se sentou de novo, ajeitando o ângulo de sua câmera.

— Tive pesadelos terríveis também! — Ela ergueu os braços para o teto, as mãos balançando com falso entusiasmo. — Somos iguaizinhos neste quesito, YAY!

André a fitava, estudando sua aparência e seu jeito de agir, e de repente se sentiu um idiota.

Claro que ela era uma vítima também, como não seria? Com sua maneira de falar sobre o assunto, tão confiante em seu conhecimento, informando sobre cada mínimo detalhe... nenhuma pessoa falaria daquele jeito se não tivesse visto tudo por si mesma. E isso sem mencionar as gigantes olheiras que ela exibia. André nunca achou que olheiras poderiam ficar tão grandes assim.

— Mas não foi com Bob?

Letícia negou com a cabeça.

— Foi com outro... foi ele que me fez começar esta investigação em primeiro lugar. — Ela soltou um longo suspiro, se inclinando sobre a cadeira. Com os olhos parcialmente fechados, parecia lutar contra a exaustão. — Mas isso não faz muita diferença. No fim, os três são o mesmo tipo de parasita repugnante.

André engoliu em seco, apenas assentindo com a cabeça, como se entendesse o que a moça queria dizer.

Por mais aterrorizante que aquela situação tivesse se tornado, ver que tinha alguém que passara pelas mesmas coisas que ele... diminuía um pouco do seu desespero. Claro, haviam as supostas vítimas, cujos relatos leu em sua breve pesquisa, mas falar com uma cara a cara era bem diferente.

O rapaz já não se sentia tão isolado quanto antes, quando a ideia de falar sobre seus pesadelos com seus pais doía só de existir. Por algum milagre do destino, ele agora tinha alguém para contar sobre todas as loucuras que vivenciava.

Alguém que parecia prestes a desmaiar e dormir por um ano inteiro, mas era alguém mesmo assim.

— Todos eles então agem do mesmo jeito? — ele ousou perguntar. — Tipo... entrar no corpo das pessoas e tudo mais?

— Isso mesmo! — Letícia cruzou os braços. — Se lembra da aparência de Bob na noite passada? Como se ele fosse feito de fumaça?

André estremeceu, uma óbvia confirmação. Como esqueceria?

— Eles tomam essa forma e invadem seu corpo pelos orifícios de seu rosto, como suas orelhas, sua boca, seus olhos... — Letícia cutucou o próprio nariz. — Até mesmo suas narinas.

O rapaz foi tomado por um calafrio tão forte que quase desabou no chão.

— QUE NOJO! — Ele esfregou o rosto em reflexo, tentando limpá-lo de qualquer sujeira que estivesse por lá. De preferência, sujeira sobrenatural. — QUE HORROR, CRUZ CREDO!

Letícia soltou uma risada amarga, parecendo mais exausta do que nunca.

— Eu sei, também fiquei enojada quando descobri...

André esfregava os braços arrepiados, imaginando aquela criatura nojenta rastejando para dentro de seus lábios, invadindo seu organismo enquanto estava adormecido. Se sentiu imundo, asqueroso. Tomaria dez banhos assim que possível. Talvez nunca mais saísse de debaixo do chuveiro.

OneirofobiaWhere stories live. Discover now