Capítulo 4

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Quando André abriu os olhos, ele estava de volta à sala tão colorida e claustrofóbica. De volta ao pesadelo de sempre.

Mas algo estava diferente.

Ele estava sentado em sua poltrona roxa, uma enorme mesa posta diante dele, lotada até a borda com doces e guloseimas. Brigadeiros, beijinhos, pirulitos, marshmellows...

E no centro de tudo, um bolo de chocolate de dois andares, coberto de granulado colorido.

O rapaz entrou em pânico.

“Mas o quê-?!”

De repente, Bob pulou detrás da mesa, os braços esticados para o céu.

— SURPRESA!

André pulou para trás, o ar preso na garganta, quase caindo da poltrona. Ele apertou o próprio peito, o coração quase explodindo.

— Bob?!

— Como vai, velho amigo?! Feliz em me ver?! — O médico se apressou até ele, lhe dando um abraço tão apertado que o ar escapou de seus pulmões. — Cheguei bem cedo, não é? Mais cedo do que de costume!

André estava ofegante, sem coragem para se libertar, os pensamentos em completo caos.

“Quando foi que eu dormi?!” Ele tremia intensamente. “Eu ao menos cheguei na minha cama?!”

Bob ria, alheio ao sofrimento mental do rapaz. Ele acariciava seus cabelos com um sorriso gigantesco.

— Você deve estar se perguntando por que eu vim tão cedo! — Ele enfim quebrou o abraço, caminhando até o outro lado da mesa. — Uma grande surpresa, eu sei...mas não pude resistir!

— O...o quê? — André respirava com dificuldade, congelado no assento.  

O médico bateu palmas.

— Quando eu vi você fora de casa tão tarde da noite,  fiquei triste...triste porque isso mostra que você não está dormindo na hora certa.

André foi tomado pelo mais absoluto pânico. Mesmo assim, o sorriso do médico não enfraqueceu.

— Mas então eu fiquei feliz, porque aquilo tinha acabado de me dar uma ideia! — Bob se inclinou sobre a mesa. — Sabe que ideia é essa, meu paciente? Sabe?!

— ...q-qual ideia é essa?

Bob girou ao redor de si mesmo, caminhando até o centro da sala. A única lâmpada de lá estava mais brilhante do que nunca, as nuvens espalhadas pelas paredes exibiam um aspecto novo, fresco, como se alguém as tivesse pintado minutos antes; até a grama  parecia quase real.

— Você sabe o pouco tempo que a gente tem um com o outro... com tantos pacientes para cuidar, minha agenda fica um pouco apertada! Mesmo você, meu paciente mais importante, mal consegue terminar um único exame antes que eu precise ir embora. — Ele se virou para André. — E é aí que minha ideia vem para salvar o dia!

Bob deu pulinhos de alegria, abrindo os braços como se quisesse abraçar o mundo.

— Eu decidi que irei visitar você mais cedo de agora em diante! Agora teremos todo o tempo do mundo para fazer o que quisermos!

André não conseguia respirar.

— O-O quê?!

— Você ouviu! Nossas consultas agora serão muito mais cedo! — Ele gargalhava. — O que significa que podemos checar TODAS as fobias de sua lista em uma só noite! Todas as noites! Seu desempenho será melhor do que NUNCA! Seus medos desaparecerão em um piscar de olhos, e você finalmente viverá como um adulto funcional em sociedade! ISSO NÃO É INCRÍVEL?!

OneirofobiaWhere stories live. Discover now