Capítulo 5

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André acordou com alguém o sacudindo.

Sentindo mãos agarrando seus ombros, ele se sentou de supetão, olhos tão arregalados quanto os de uma corça no meio da estrada.

A pessoa que o havia acordado era a moça do supermercado, parecendo mais nervosa do que nunca. Alguns de seus cachos caíam sobre a testa, seu rabo de cavalo levemente bagunçado, como se ela tivesse acabado de correr uma maratona.

Ambos estavam dentro do seu quarto, sentados sobre o colchão, encarando um ao outro sem nem ao menos piscar.

Ao vê-lo de olhos abertos, a moça exibiu uma expressão de alívio.

— Você acordou, ainda bem! — ela exclamou, ofegante. — Como se sente? Alguma coisa dói?

André sentiu seu cérebro se rachando ao meio.

Em reflexo, ele empurrou a moça para longe, se apoiando na parede colada à cama. Seus olhos pareciam que iam saltar das órbitas.

Tantas eram as coisas que queria falar, mas uma superou todas elas.

— O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI?! — Ele olhava desesperado para todos os lados. — COMO VOCÊ ENTROU NA MINHA-

De repente, ele agarrou o próprio pescoço, não conseguindo respirar.

Alguma coisa subiu pela sua garganta, quente e áspera, bloqueando sua respiração.

Ele começou a engasgar e a tossir, o mundo girando ao seu redor. A moça arregalou os olhos, o segurando para que não caísse.

Antes que algo fosse feito, André vomitou uma fumaça preta, grossa e densa, preenchendo o quarto com uma escuridão sem fim.

O rapaz caiu para trás, ainda tossindo, mal conseguindo respirar. A garganta ardia como fogo, sua língua tão seca quanto um deserto.

— M-MERDA! — Ele ouviu a moça falar. — DEVIA TER FEITO UMA ARMADILHA ANTES!

André se forçou a erguer a cabeça, os braços tremendo, sua visão finalmente parando de girar.

Mas o que viu foi a coisa mais horrenda que já havia visto em toda a sua vida.

A fumaça escura flutuava próxima ao chão, gradualmente tomando uma forma mais sólida, mais humanoide.

Mais alta do que eles dois.

Então, um par de olhos dourados se destacou na escuridão, pousados diretamente sobre o rapaz.

Tão familiares. Tão reais.

André gritou, apavorado, se agarrando ao próprio travesseiro,  o usando como um escudo contra a assombração.

A silhueta gigante se retraiu, e seus olhos dourados foram tomados pelo desespero; seu corpo instável se apressou para fora do quarto, rastejando até a porta da frente.

A estranha logo pulou da cama. Seus olhos brilhavam com raiva e urgência.

— VOLTA AQUI, SEU COVARDE! — Ela disparou quarto afora. — NÃO VAI FUGIR NÃO!

Seus passos ecoaram agressivamente pela casa, diminuindo de volume conforme a moça se afastava.

E André se viu sozinho, jogado sobre uma cama desarrumada, o silêncio afundando as unhas em sua pele.

Seus pensamentos soavam como a estática de uma TV, incapazes de processar o que havia acabado de acontecer. Ele apertava o próprio travesseiro com tanta força que a fronha parecia prestes a romper.

Sua casa havia sido invadida.

Por quem, não sabia dizer.

Não, ele sabia. Ele sabia melhor do que ninguém.

OneirofobiaWhere stories live. Discover now