Miguel 51

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Miguel
51

[...]

Olhei o relógio mais uma vez e e já era quase oito e meia.
Já tá todo mundo lá na Eliza e só falta a Luna terminar de se ajeitar.

- Qual é, Luna? Não precisa desse negócio todo porque é só um jantar entre amigos.- Reclamei quando vi ela caçando um salto no shopping que ela chama de closet.

Ela deu de ombros e continuou caminhando no corredor.
Como se a gente não estivesse passado trinta minutos do horário.

- Miguel! Para de me rodear, porra. Você me atrasou.- Respirei fundo e tentei não me irritar.
Duas coisas que me tiram do sério é atraso e desorganização.

Talvez porque meu pai sempre cobrou muito isso, e principalmente de mim e do Lucas.
Nosso pai já nos dava um previsão da vida em um batalhão.

A Luna ainda estava calma olhando dois pares de saltos não tão altos e eu desisti de me irritar.

- Vou te esperar no carro, se caso a gente sair daqui hoje.- Ela me encarou pelo espelho e não me dei ao trabalho de ouvir o que ela ia dizer.

Peguei minhas coisas e saí do quarto dela.
Quando passei pela cozinha, já no andar de baixo, encontrei a Carla vindo do jardim e a gente se olhou brevemente.

- Vão sair?.- Ela me seguiu até a porta e eu assenti.- Como se chama? O Giovane falou, mas acabei esquecendo.

Ela sorriu e por um mísero momento eu até cogitei achar ela um pouco mais inocente.

Mas não, o motivo da Luna ter tomado uma cartela inteira de calmante foi ela.

- Você esquece rápido das coisas?.- Perguntei de volta e ela me olhou séria por alguns segundos.

É inegável o quanto as duas são parecidas, só muda um pouco a cor dos olhos e o tom do cabelo.

- Pensei que a senhora não falasse ou o silêncio é só com a Luna?.- Cruzei meus braços e ela abriu a boca pra me responder, mas logo ficou quieta.- Boa noite dona Carla.

- Eu não... Quem é você pra falar alguma coisa de mim?.- Ela falou debochada.- Conheceu a Luna e já tá desse jeito?.

- E você conhece?.- Ergui minhas sobrancelhas e falei bem mais sério porque deboche não é meu forte.

- Pelo visto você é igual, realmente faz o tipo de mulher que ela é.- Ela riu e voltou pra sala.

Fiz o trajeto de volta e segui a velha que ferra a cabeça da minha garota.
Porque ela precisa ouvir umas verdades e foda se que depois eu me arrependa.

- O tipo de mulher incrível! E que se foda tudo se você não acha.- Tentei controlar minha língua.- A Luna é uma das mulheres mais incríveis que conheço e não é essa aí que você tem na mente.
Ela é forte, decidida, uma boa filha e dedicada em tudo.- Sorri de lado e ao mesmo tempo tive vontade de esculachar a Carla por fazer outra cara de deboche.

- O que a senhora faz com ela é sujo e é crime. A Luna merece a mãe de volta. Só que a senhora não merece ter ela como filha.- Falei curto e grosso.

- Ela te pediu pra dizer isso? A Luna é exatamente igual ao pai.- A Carla olhou em direção a escada

- A senhora tá perdendo tempo em ser essa filha da puta. Sinceramente? Espero que a Luna canse de gastar energia pra fazer você se importar com ela.- Cansei de ser bom e cuspi a verdade na cara mãe da Luna.

Talvez assim essa velha louca acorde e veja o que tá fazendo.
E talvez eu também tenha exagerado, porque vi uma lágrima escorrer do seu rosto.

Me senti um cara terrível, mas não voltei atrás e assim que ouvi a Luna gritar que já estava descendo.
Olhei pra Carla e ela limpou a garganta.

Incomum Where stories live. Discover now