Luna 85

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Luna
85

Eu nunca passei por nenhum situação de perda em toda a minha vida.

Quando meu pai sumiu, eu não sofri tanto porque não entendia e isso não chegou a ser uma dor.

Hoje, tendo a certeza de que estava grávida e que no curto período de tempo descobri a perda, foi tão...

É, a explicação exata não vem!.

Só fica aquele pensamento de "perdi meu bebê".

A sensação é a falta de alguém, mesmo que eu não tenha tocado ou visto.

Dói pensar que se não fosse por um exame de rotina, talvez eu não saberia jamais sobre meu bebê.

Perdi a conta do quanto chorei escondida de ontem pra hoje, do quanto revirei a minha memória procurando por algum traço... Um pequeno traço que eu tenha deixado passar.

Mas é isso que me pega, eu não senti exatamente nada e muito menos notei.

  Eu também já me analisei várias vezes no espelho, me imaginando com a barriga crescida e mais uma vez senti a falta de alguém... Do meu filho ou da minha filha.

Por isso, fiz questão de passar o tempo que pude com o Micael e a Duda.

Nós jogamos vídeo game, brincamos de mímica, fomos pra piscina - eu fiquei só com os pés na água - e também fiz um skin care com a Duda.

Acredito que eu precisava deles nesse momento, cuidar dos dois me deixou menos triste.

E quando o Mauro foi buscar os dois, e eu vi que minha casa estava vazia e silenciosa, a tristeza veio com tudo.

O ruim de tudo isso é não conseguir falar pra ninguém e não ter coragem pra abrir essa ferida.

Por isso, antes da despedida  da Aya, eu chamei a minha mãe pra sair.
Da minha família ela é a única que sabe.

  - Eu também perdi um filho.- Minha mãe disse depois que acabamos nosso sorvete.

A olhei confusa e a mesma deu um sorriso triste.

- Na verdade eu perdi três. Antes do Dante, tive uma gestação que foi até a trigésima semana.- Ela deu de ombros.- Foi dolorido, eu queria muito.

- E os outros dois?.- Perguntei curiosa.

  - Você e o Dante, fui perdendo vocês ao longo da vida.- Ela falou e isso de alguma forma me doeu.

  Eu nunca imaginei que ela tivesse esse tipo de pensamento.

- A senhora não nos perdeu...- Tentei conforta-lá.

- Perdi. Não vi a primeira formatura de vocês, não te ensinei sobre como usar  absorvente, não levei o Dante pro primeiro corte de cabelo!.- Ela falou e eu vi uma lágrima escorrer pelos seus olhos.

É, ela realmente nunca esteve presente nesses momentos importantes.

A maior parte do tempo a minha mãe estava sobre o efeito de álcool ou tomada por calmantes.

Então, por causa disso, a tia Rita que foi me preparando pra vida e me ensinando a ser uma mulher.

Ela que me levou ao ginecologista, ela e meu tio que conversaram comigo sobre sexo e isso tudo foi passado pro Dante também.

Meus tios fazem grande parte de tudo que sou e de tudo que aprendi.
Amam a mim e meu irmão como se fôssemos seus filhos, isso é genuíno.

Quando vejo quem sou hoje, tenho certeza de que minha tia quem  me tornou assim, que por um lado é até triste... Já que a maioria das mulheres tem sua mãe como a mulher mais importante da vida, exemplo e tudo mais.

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