Luna 66

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Luna
66

Chegamos na casa do Miguel às nove e meia, com os dois pestinhas.

A apresentação foi um conto de natal, e a Duda estava a coisa mais fofa do mundo.
Ela tem um futuro enorme.

- Bora lá, cada um toma seu banho e depois a gente escolhe o filme.- O Miguel falou com os pequenos e eles subiram correndo.

- Eu vou primeiro!.- A Duda falou e ela entrou no quarto do Miguel às pressas.

- Pegas as coisas no armário lá de baixo e toma banho no banheiro de lá.- O Micael só pegou a mochila e foi fazer o que o Miguel disse.

- Aconteceu alguma coisa com o pai deles?.- Perguntei quando tive certeza que estava só nós dois.

- O Mauro teve que pegar o turno da madrugada, ele não esperava ter que ficar hoje.- O Miguel sentou no sofá e ligou a tv.

- E a mãe deles?.- Sentei ao lado dele e coloquei minhas pernas no seu colo.

A Duda já me falou que não conhece a mãe, mas eu não quis entrar no assunto com ela.

- Uma filha da puta. Deixou o Mauro quebrado, levou o carro, dinheiro e tudo que ele tinha da loja.- O Miguel fez uma massagem nos meus pés e eu me deitei no sofá.

- Ela nunca voltou? Sei lá, só pra dizer que se arrependia ou pedir perdão?.- Perguntei.

Entendo bem a confusão de não ter um dos pais presentes.
Eu tenho raras lembranças do meu pai, quase não lembro do rosto dele.

E sei o quanto isso mexeu comigo quando eu fui crescendo.
Fico com o coração na mão só de pensar no quanto o Micael e a Dudinha vão remoer isso.

- Que nada... A última notícia que o Mauro teve foi de quando ela foi presa, já tem uns quatro anos.- Ele apertou meus pés.

Ouvimos um barulho vindo do quarto e logo em seguida o grito da Dudinha.

- Zé! Foi sem querer, desculpa.- Ouvimos a voz da Dudinha toda chorosa e a gente levantou imediatamente pra ver o que tinha  acontecido.

O Miguel pegou ela no braço e voltou para o quarto com ela.
  Não sei como, mas a porta de vidro do box soltou e ficou pendurada.

  - Tudo bem, amor... Depois eu resolvo isso.- Ele colocou ela sentada na cama e foi fechar o chuveiro.

- Machucou?.- Perguntei e ela mostrou o joelho ralado.- Tá doendo?.

- É que o papai sempre pede pra entrar de chinelo e eu esqueci... Eu voltei rapidinho pra calçar, mas acabei tropeçando.- Ela explicou triste.

  Juro que tô pra ver uma criança mais meiga e dengosa que a Duda.
Não existe, sério.

  - Ajeitei, agora pode terminar o banho. Tô sentindo o fedor de longe!.- O Miguel saiu do banheiro e apertou a bochecha da Dudinha.

- Tia princesa, pode ficar comigo?.- Ela segurou minha mão e eu concordei.

O Miguel saiu e ela voltou pro banheiro.
Achei uma graça ela enrolada na toalha enorme.

Ficamos conversando de longe e logo ela terminou o banho.
Vestiu o pijaminha e eu aproveitei pra tomar o meu banho também.
Por coincidência o nosso pijama era parecido.

Então fomos pra sala e os meninos já estavam deitados no colchão no chão.

  Como a gente já tinha comido na rua, a volta pra casa foi realmente só pra tomar banho e dormir.

- Não gosto desse filme.- A Duda falou e sentou na minha frente pra eu pentear o cabelo dela.

- Ninguém te perguntou, chata!.- o Micael respondeu.

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