Capítulo V

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   Ao se preparar para o encontro com Jungkook, Jimin tentou agir naturalmente, mas por dentro, estava uma pilha de nervos, medo e uma enorme excitação.

   Odiava a sensação de expectativa diante da possibilidade de vê-lo novamente... Odiava querer vê-lo novamente.

   Escolher a roupa foi uma dificuldade. Não costumava ter encontros e não sabia o que vestir. E não se tratava de um encontro, ele disse a si mesmo. Muito pelo contrário. Sabia que não deveria ir todo enfeitado, como se esperasse algo. Jeon só o tinha visto com o uniforme de garçom, ou nu, e ele tinha seu orgulho, não queria que o alfa imaginasse o que poderia ter visto nele...

   Jimin colocou Junghoon na cama, tomou um banho e se vestiu. A noite estava quente e úmida, e uma blusa de botões leve e uma calça jeans, era a única roupa mais adequada que o ômega possuía, e para completar, um sapatênis . Ele colocou ums correntinha de ouro que pertenceu a sua mãe e entrou na sala para ser examinado pelo olhar crítico de seu irmão.

— Nada de maquiagem?– perguntou Taehyung, olhando-o de cima a baixo.
— Só um pouco.
— Dificilmente irá derrubá-lo com esta aparência, não acha?
— Não é esta a minha intenção. – disse Jimin ao pegar a bolsa. — Vejo você mais tarde. – Jimin deu um sorriso nervoso para a irmão. — Obrigado por servir de babá.
— De nada. Telefone se precisar de ajuda.
— Como é que você vai me ajudar?–perguntou Jimin, com um sorriso de ironia.— Mandando a cavalaria?

   Ele pegou o ônibus para a cidade vizinha, uma agradável viagem que acompanhava a costa antes de entrar nos campos verdejantes. Ele teria apreciado o cenário, não fosse a ansiedade e as nuvens acinzentadas difíceis de serem vistas, mas vez ou outra um relâmpago cortava o céu mostrando que em breve uma grande tempestade chegaria.

   Quando desceu do ônibus, Jimin sentiu o suor umedecer sua testa. O Grapevine estava lotado de jovens executivos e de casais que demonstravam seu amor através do contato físico. O ômega sabia que a inveja é um sentimento negativo, mas não conseguiu evitá-la.

   Imaginou como seria fazer as coisas na ordem "certa": apaixonar-se, noivar e casar; ficar de mãos dadas com um alfa que o olhasse como se estivesse no paraíso. Tentou imaginar a alegria compartilhada durante a chegada do primeiro filhote, da comunicação aos parentes e amigos, ao contrário do que aconteceu com ele, com a gravidez não planejada e um filho que não conhecia o pai alfa...

   Jimin viu Jungkook imediatamente.

   Ele havia conseguido a melhor mesa num canto sossegado, com vista para o jardim. Uma garçonete esvoaçava e sorria em torno dele, na tentativa de conseguir uma gorjeta melhor enquanto colocava um prato com pãezinhos sobre a mesa. Jimin rezou para ter forças para enfrentar o alfa, tentou manter uma expressão natural e caminhou até ele.

   Jungkook observou o ômega com um olhar objetivo, o que foi facilitado pela ausência do uniforme. Ele estava com os lindos cabelos soltos sobre os ombros, o alfa percebeu como brilhavam enquanto o outro se aproximava. Talvez não fosse intencional, mas a blusa que o ômega estava usando tinha uma leve transparência, e a calça jeans um pouco colada demais chamavam a atenção para suas pernas. Lindas pernas, ele pensou de repente, como se recordasse por que aquele ômega o cativara tantos anos atrás, e imediatamente lamentou por ele já ter chegado à sua mesa.

— Olá, Jungkook.

   Ele deveria levantar para receber o ômega, mas, de repente, suas calças pareciam ter ficado muito apertadas e ele não ousou se mexer. Aquele não era um comportamento normal, mas ele disse a si mesmo que a situação também não era normal. Não se tratava de um encontro agradável para se conhecerem: estavam ali para conversar a respeito de uma criança. Mais uma vez, ele sentiu uma estranha emoção invadir seu coração.

— Sente-se. – ele disse em tom arrastado.    — Obrigado. – Jimin sentou na ponta da cadeira. Sentia a pele pegajosa e o coração aos pulos. 𝘗𝘰𝘳 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘴𝘵𝘢𝘷𝘢 𝘵𝘢̃𝘰 𝘲𝘶𝘦𝘯𝘵𝘦 𝘢𝘭𝘪?

   Quando Jungkook lhe ofereceu uma taça de vinho, ele a agarrou automaticamente com dedos trêmulos, apesar de ter decidido, no caminho, que seria melhor não beber. Tomou um gole.

— Você... Você esperou muito tempo?

   O alfa ficou em silêncio por algum tempo, reclinou-se na cadeira e o observou. Ele sentava muito reto, com os joelhos juntos, o que demonstrava o quanto estava tenso. Na mesma hora ele soube que sua tarefa não seria fácil.

— Não. Acabei de chegar. – o alfa respondeu, com um brilho nos olhos. —Então... Cumpridas as formalidades, você já contou algo a ele?

   Jimin abanou a cabeça. Queria que ele parasse de olhá-lo daquela maneira, como se o despisse com os olhos. — Não.

Ele se inclinou lentamente para Jimin. — Você já percebeu?  – Jungkook perguntou amavelmente. — Que eu sequer sei o nome dele?

   Parecia uma acusação, e talvez fosse, mas era a primeira vez que o alfa perguntava aquilo. Jimin conteve a respiração, perturbado com a proximidade dos dois. 𝘌 𝘴𝘦 𝘦𝘭𝘦 𝘰𝘥𝘪𝘢𝘳 𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘴𝘤𝘰𝘭𝘩𝘪? 𝘌 𝘴𝘦 𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘴𝘤𝘰𝘭𝘩𝘪 𝘭𝘦𝘮𝘣𝘳𝘢𝘳 𝘢𝘭𝘨𝘶𝘦́𝘮 𝘰𝘶 𝘶𝘮 𝘢𝘤𝘰𝘯𝘵𝘦𝘤𝘪𝘮𝘦𝘯𝘵𝘰 𝘳𝘶𝘪𝘮? – Ele pensou.

— Jung. –disse baixinho. — É um apelido para Junghoon.

   Houve uma pausa, antes de Jungkook soltar um longo e profundo suspiro. Ο nome era parecido com o dele, pelo menos as letras iniciais. E isso na maioria das vezes era motivo de orgulho para um alfa.

— Um nome asiático. – ele observou.
— Sim. De alguma forma, parecia adequado.

   Ele sentiu uma emoção que beirava a fragilidade.

— Numa situação inteiramente inadequada? –Jungkook contrapôs, porque o nome dera à criança um caráter de realidade que uma foto jamais poderia dar. Uma pessoa começava a emergir dos fragmentos de informação que ele recebia. Uma pessoa sobre a qual ele nada sabia. — O que mais você resolveu que seria apropriado?

   Jimin se encolheu diante da onda de raiva que emanava da poderosa figura do alfa. Então o ômega colocou a taça sobre a mesa, antes que ela escorregasse entre seus dedos.

— Não podemos continuar nos censurando!– ele disse em voz baixa.— O que aconteceu é passado, e não podemos mudá-lo... Temos de lidar com a situação atual.
— E qual é a situação? – ele retorquiu. —Um ômega imprevidente, que cuida sozinho do meu filho e herdeiro? Não acha que está na hora de eu participar da vida dele, Park?

— Claro... Claro que acho. É por isto que estou aqui. – torcendo as mãos nervosamente. Jimin olhou para Jungkook. — Poderíamos planejar um primeiro encontro, se você quiser.

   Jungkook deu uma risada. — Vai me incluir na agenda, como se faz com o dentista? Quer que eu apareça num sábado e leve um menino relutante para comer um hambúrguer, enquanto ele conta os minutos que vai passar com um estranho?  — Não foi isto que eu quis dizer. – Jimin mordeu os lábios

— Não? Então o que você quis dizer? – os olhos dele fulminaram o ômega. — Que tipo de futuro você planejava quando me procurou?

   A dominância do alfa era incrível, e Jimin se sentiu aterrado.

— Eu não sei – ele admitiu, desesperado. O alfa apertou os lábios.
— Bem, eu sei. Pensei muito e avaliei todas as possibilidades. –Jungkook também conversou com seus advogados, mas talvez não fosse a hora de lhe dizer aquilo. Ele abaixou o tom de voz, como costumava fazer quando queria fechar um negócio. — Há um tipo de futuro que seria perfeitamente conveniente para todos. É por isto que eu quero que você vá comigo para a minha ilha particular em Jeju, Jimin, na única posição que lhe seria adequado – Jungkook fez uma pausa e seus olhos brilharam. — Como meu ômega. Meu marido!

O Início Do DesejoWhere stories live. Discover now