Alfombra Cósmica

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[Verso 1]
Olá, digo à alguém
Não sei a quem falo, se falo ou se calo
Ruborizado, porém
Deixando o pudor de lado, pois fui ordenado, e sou conformado
O que falarei, não sei
Mas, encarando algo, até olhos vagos, o silêncio pode por mim ser apreciado

[Refrão 1]
Porque eu já estou acostumado com tudo isto
Observando o desenrolar do mundo com olhos vítreos
Do embalar materno, até o empurrão, alcancei meu pico
Passado de amor preocupado, feri meu irmão, ‘inda estou aflito
E agora a única coisa que posso fazer é sentar-me em minha alfombra cósmica
Pose de lótus, lixo sob o tapete, tecido drapeado faz-me angustiante cócega
Longe de fotos, sem brilho no dente, coração em pedaços, e esta tristeza tórrida
Queria dar meia-volta

[Verso 2]
E agora há um conflito entre os infantes e o mundo adulto
Estes com essa outra libertinagem que corrompe o coração puro
Porque, tu bem sabes, os vermes apodrecem os frutos ainda não maduros
Fazendo de suas esperanças de crescerem acima do nulo
Pisoteáveis: ninguém colhe frutos do chão túrgico
Mas não havia como esperar coisa menos fútil

[Refrão 2]
Porque eu já estou acostumado com tudo isto
Observando o desenrolar do mundo com olhos vítreos
Do romance terno, ao rompimento da união, fiquei enraivecido
De jazer no berço, até a oração, sou Gardner dormindo
E agora a única coisa que posso fazer é deitar-me em minha alfombra cósmica
A savasana, eu sendo o tapete, ou um pano plissado, sou eu a quem dobram
Vivo sob a lona, sou como um enfeite, ou um esfomeado, o que causa revolta
Queria fazer essa troca

[Saída]
Mas é somente por mim que tal dor perpassa os dentes
Irreprimível sensação vampírica
Eu posso até, em vão, tentar com mais gente
Mas, no final, esta dor mímica
Com gestos enigmáticos e feição de palhaço
Sou apenas eu quem a decifra
Olá, outro alguém
É comigo que tu falas
Chamada encerrada
Agora é seguir a vida

campos de lamúriaWhere stories live. Discover now