A Dama de Honra: Capítulo 3 (Incompleto)

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Eu posso ouvir o barulho da água do chuveiro caindo no azulejo branco. São como bolhas estourando. Pop! Pop! Pop!
O chuveiro é dentro do banheiro, e este, por sua vez, é bem pequeno. No lado direito, olhando de dentro dele, está o vaso sanitário, com sua cor amarelada como mijo de alguém que não bebe água, algo que é de causar nojo. Claro, já tentei limpá-lo, mas ele está assim desde que me mudei para esse apartamento e parece que continuará assim até que as forças da natureza desintegrem o material por completo.
Já do lado esquerdo do banheiro, uma pia, com sua boca deixando cair gotas transparentes, está instalada. Em cima dela, um pequeno armário redondo com espelho guarda hidratantes, óleos para o rosto, produtos de depilação e várias outras coisas que uso para tentar esconder essa porra de rosto e essa porra de corpo, mas parece que nada funciona. Provavelmente só os usarei até que acabem, e não comprarei novos, já que não aguento mais me render aos padrões de beleza da sociedade. Eu posso não gostar de ser feia, mas ser bonita é tão exaustivo quanto.
De qualquer forma, no banheiro também há um box. É de onde a água cai fazendo seu barulho. Meu corpo está aqui dentro, minha cabeça está embaixo do chuveiro e meus cabelos escorrem como macarrão. Eu ensaboo minhas mãos, passando-as em meu pescoço, em meus ombros pontudos, depois em meus braços que parecem varetas. Eu escorrego minhas mãos sobre meus peitos, sentindo o volume, mesmo que eles sejam pequenos. Passo as mãos em meu umbigo, desço elas até sentir a gordura quando me aproximo da vagina. Afasto minhas pernas um pouco para o lado e vou passando meus dedos pela parte interior da vagina, sentindo-os deslizar com o sabonete, fazendo minhas pernas tremerem um pouco.

Depois de acabar o banho, pego minha toalha, a qual uso para me enrolar, e saio do box. Posso contar meus passos até chegar ao quarto. São 1, 2, 3, 4 e então já posso ver minha cama no canto da parede, com as roupas sujas em cima poluindo o edredom cor de creme. Me aproximo da mesa de cabeceira e tiro de dentro da gaveta uma cartela de comprimidos, que são meus antidepressivos. Eu os tomo pela manhã e à noite devo tomar meus ansiolíticos. Foi um psiquiatra que me passou em uma consulta que tive após a morte de meu pai, quando eu estava morando em um orfanato, então os tomo desde então. Ele havia me diagnosticado: depressão e ansiedade. Eu não sei exatamente se eles (os medicamentos) funcionam, já que não consigo nem ao menos distinguir minhas próprias emoções e não sei como me sinto e como deveria me sentir. E eu também pensei que engordaria e deixaria de ter esse corpo em formato de tábua, mas isso infelizmente não aconteceu, o que é mais um indício de que o medicamento é falho. Mas continuo o tomando mesmo assim.
Em cima da mesa de cabeceira posso ver um copo com água, o qual também pego, com minhas mãos um pouco trêmulas. Tiro um dos comprimidos da cartela, esse que é revestido em uma cápsula de cor branca e vermelha, e o levo até a boca, junto do copo de água, podendo senti-lo raspar minha garganta.
Levanto minha cabeça, respirando fundo, em uma súbita preocupação sobre o dia de hoje. Na minha frente vejo um espelho refletindo meu corpo magricela enrolado em uma toalha, como se fosse um baseado de maconha, enquanto também vejo minha expressão de decepção por ainda estar viva.
Eu tiro a toalha e vou até o guarda roupa que fica do lado da cama para me vestir, mas antes de fazer isso, dou uma olhada rápida em meu corpo no reflexo. Vejo meu pescoço magro, as curvas, como dois chifres, que meus ombros fazem, possivelmente me lembrando de que fui traída. Meus peitos são murchos e meus mamilos são como manchas ardidas na pele, aquelas que causam vermelhidão. Eu os encaro por um tempo, observando os bicos dos peitos e como eles ficam pontudos a cada segundo que continuo olhando. Eu, em meio a uma hesitação, os toco suavemente e posso sentir uma leve excitação quando pareço reviver meu passado. Me lembro de quando Ronaldo chupava meus peitos, os deixando duros e molhados com sua saliva salgada. Também me lembro de outras aventuras perversas que tive ao seu lado.
Arrasto meus dedos pelo corpo, como se fosse uma seta de computador clicando em um site de pornografia, até senti-los tocar minha vagina. Eu acaricio os lábios da vagina com minhas mãos, como se desse beijos neles, beijos ternos e molhados, enquanto fico naturalmente lubrificada. Sinto os ossos das minhas nádegas tocarem a colcha macia da cama. Sinto minhas costelas encostarem na superfície deleitosa, me fazendo afundar dentro da cama, como se eu me perdesse em um espaço entre meus olhos. Começo a gemer quando me lembro de quando gemia nas vezes em que Ronaldo me tocava, de como ele acariciava meu corpo como se fosse um campo de rosas, de quando ele me consumia com seu pecado, como se fosse o lorde do inferno, me tornando tão pecaminosa quanto ele próprio. Talvez eu seja tão viciada em sexo quanto ele.
Mordo meus lábios e enrijeço minhas pernas quando me lembro daquele pênis espesso e cheio de uma carne doce e deliciosa que afagava meus lábios, como se fosse um batom recém-comprado. Lembro daquele corpo reluzente de suor, das costas largas com a escápula marcada, daquelas mãos enormes, com os dedos grossos, daquele olhar selvagem e penetrante. E me lembro como perdi tudo isso de uma forma tão repentina.
Ronaldo. Eu clamo por seu nome dentro de meus pensamentos, querendo que ele os leia onde quer que esteja. Ronaldo, por favor, volte para mim. Eu preciso do seu corpo e do seu amor para satisfazer minha alma tola que anseia por um sentimento intenso como este. Por favor, volte para mim.
Perto de ter um orgasmo, eu afasto minhas mãos. Agora, em vez de fazer minha vagina chorar, faço meus próprios olhos chorarem e sentirem pena de mim. Como eu sou estúpida. Eu sou tão estúpida que preciso criar fantasias para sentir que a realidade é menos dolorosa, mas eu sempre sei que é tudo ilusão e nenhuma das coisas que quero vão se tornar reais. Não novamente.
Me levanto e ando até o armário para que eu possa me vestir e esconder esse corpo que me dá amargura, enquanto me sinto envergonhada sobre mim mesma.

campos de lamúriaWhere stories live. Discover now