o sonho

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Sonhei que a casa tinha passado 10 anos fechada mas, mesmo assim, estava habitável. A escuridão do interior logo foi substituída pela luz do sol que entrou pelas janelas. No ar, partículas de poeira com ácaro flutuavam. As camas estavam na mesma disposição da minha infância, mas havia muita coisa diferente, principalmente as janelas. As janelas eram grandes e sem persiana, apenas vidro. Além delas, o piso estava diferente, muito mais moderno e claro.

 Seria esta a casa de hoje em dia, se ela tivesse sobrevivido ao tempo, às mortes? Seria este o meu maior desejo, morar naquela casa, comprá-la, torná-la minha e modernizá-la? Estaria esta ânsia escondida neste sonho que me acordou de maneira tão abrupta e me deixou pensativa o dia inteiro? Seria esta uma maneira de visualizar o que poderia ter sido?

Lembrei de texturas das quais havia me esquecido, sensações há tanto tempo não sentidas, relegadas àquele espaço especial da infância, tempo insuperável e transbordante de magias. 

Em meu sonho, eu morava lá sozinha. Em meu sonho, eu reconstruía a casa sozinha. Em meu sonho, eu previa parte do fim da minha vida. Mas a casa dos meus sonhos estava vazia e continua vazia. Nada trará de volta o que ali aconteceu: momentos lindos e inesquecíveis envoltos de amor e ternura. Não há sonho que sobreviva à morte.

Acordei com mais desejos e com a sensação de que perdi o futuro hipotético da minha vida. Acordei num misto de alegria, por ter revisitado uma versão diferente daquela casa. Mas também acordei com uma tristeza profunda e amarga do que nunca mais será, do que nunca mais terei.

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⏰ Last updated: Mar 17 ⏰

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