Capítulo 04

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|Rafael|

Por incrível que pareça, hoje estava tranquilo e então só realizamos algumas rondas, com o apoio da polícia militar, no intuito de manter a paz e tranquilidade no morro, principalmente pelo fato de estar cheio de gente, andando de um lado para o outro, subindo e descendo o morro.
Parei na frente da padaria que Durval mencionou e esperei alguns minutos para dar meu horário de almoço, então eu entraria e conversaria com a responsável pelo estabelecimento, a respeito da moça que ela indicou para Durval.
Eu estava distraído, observando o movimento na região, quando tomei um susto, ao sentir algo batendo com tudo na minha perna. Involuntariamente, levei a mão no revólver preso a minha cintura, mas quando olhei para baixo, era só uma criança, puxando minha farda e me mostrando seu soldadinho de brinquedo.
— KAUÃ! — escutei uma voz feminina e no mesmo instante, o menino foi retirado de perto de mim. — Qual é, hein? Ia atirar no meu filho?
— O quê? — pisquei os olhos, assustado e só então percebi que eu estava com a mão no revólver. — Não, eu só...
— Ele só queria te mostrar o soldadinho dele, não precisava pegar uma arma! — pegou o menino nos braços e eu neguei prontamente.
— Moça, foi um mal entendido...
— Ele é um soldado igual o meu, ó mamãe! — o menino continuava, empolgado, acenando na minha direção.
— Eu assustei, mas jamais atiraria em uma criança...
— Que irônico, já vi muita criança morrer por tiro de policial. Temi pelo meu filho! — se afastou bruscamente e eu nem tive tempo de responder.
— Devia ter sido mais grosseiro com ela, ela te faltou com respeito. — o soldado ao meu lado sugeriu e eu fiquei, perdido, acompanhando a moça carregar seu filho pra longe de mim.
— Ela assustou, eu também, fica tranquilo! — balancei a cabeça, sem tirar minha atenção dela, que me olhou de relance, antes de virar a esquina. — E o garoto ainda perdeu o soldadinho dele! — me abaixei, para pegar o boneco no chão. — E agora?
— É só um brinquedo, tenente, temos mais o que fazer!
— Sim, mas pelo visto ele tinha muito apego pelo brinquedo. — retruquei. — Sabe quem é a moça?
— Eu não faço a mínima! — levantou os ombros.
Entrei na padaria, que Durval mencionou e procurei pela senhora Sílvia.
— Bom dia, no que posso ajudar? — uma senhora, com um lenço preso a cabeça, apareceu no balcão.
— A senhora se chama Sílvia? — questionei.
— Eu mesma!
— O seu Durval mencionou sobre a senhora, ele tinha falado a respeito de uma moça que a senhora mencionou, que ela estaria procurando um emprego e...
— Foi a moça com quem o senhor discutiu ali na porta da padaria. — arqueou uma sobrancelha.
Olhei para o soldadinho nas minhas mãos e fiquei em silêncio por alguns instantes.
— Dona Sílvia, a senhora poderia me passar o contato dela? Eu quero falar com ela a respeito do trabalho e me desculpar pelo mal entendido com o filho dela... — fiz uma pausa. — E ah, devolver o brinquedo dele!
— Eu vou falar com ela primeiro, a Solange é muito reservada, não gosta de conversar com quem não conhece e principalmente depois do senhor ter assustado ela, em relação ao menino. Amanhã o senhor me procura de novo, que te aviso se ela passou o contato dela ou não.
— Certo, agradeço! — fui breve.
— Se quiser, posso devolver o brinquedo para o garoto...
— Não, eu quero devolver e me desculpar pessoalmente, mas obrigado. — dei um breve sorriso.
— O serviço que o senhor falou aí, é sobre o quê?
— Eu preciso de uma funcionária do lar, ou uma diarista...
— Eu aviso ela. — puxou um bloquinho de anotações. — Seu nome?
— Rafael.
— Vou avisar, ela está precisando mesmo!
— Obrigado mais uma vez! — juntei as mãos brevemente e me afastei.
Saí da padaria e olhei para os lados com cautela, na intenção de achar a moça no meio da multidão de pessoas espalhadas pela rua, mas foi em vão.

...

SUNSHINE (Luan Santana)Where stories live. Discover now