Capítulo 107

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|Solange|

A mãe de Rafael parecia furiosa e entendo os motivos dela, eu disse ao Rafael que devíamos ter convidado-a nem que fosse por educação.
— Eu jamais negaria a presença da senhora no nosso casamento. — respondi.
— Fui eu quem achou melhor deixar a senhora fora de tudo. — Rafael foi sincero. — Simples assim.
— Você ao menos sabe meu nome? — a mãe de Rafael chamou minha atenção.
— Marcela. O Rafael me disse! — respondi, com medo de ter errado seu nome, mas ela assentiu em silêncio. — Dona Marcela, nós duas nos conhecemos pouco, acredito que a senhora tenha uma imagem distorcida de mim, mas se pudermos conversar melhor, tenho certeza que vamos nos dar bem.
— Talvez. — foi breve.
— Vou providenciar o convite do casamento pra senhora...
— Não precisa, eu não vou a um casamento que fui convidada de última hora. — levantou-se do sofá e eu Rafael nos entreolhamos. — Quero conversar a sós com você Solange.
— Pode ser amanhã cedo na minha confeitaria?
— Nove em ponto estarei lá. — caminhou na direção da porta e eu me apressei para abri-la. — Tchau, Rafael e obrigada por fazer tanto gosto em ver sua mãe depois de dois anos.
Rafael suspirou em silêncio e não disse mais nenhuma outra palavra.
— Não acho uma boa ideia vocês duas conversarem. — Rafael disse assim que sua mãe saiu. — Estou dizendo, ela é arrogante, estúpida e eu não quero que ela te machuque com as palavras e nem... — fez uma pausa. — e nem, enfim.
— E nem o quê? — me aproximei.
— Tenho medo dela ser mal educada com você e você até desistir do casamento. — murmurou e eu ri, incrédula.
— Rafael, eu não desisto desse casamento por nada nesse mundo. — segurei seu rosto com as duas mãos e ele me deu um breve sorriso. — Eu sei como responder à altura, fica tranquilo, sua mãe não vai me colocar pra baixo!

[...]

Como combinado, às nove horas eu já estava na confeitaria, esperando por dona Marcela e ansiosa para podermos conversar.
— Bom dia, dona Marcela! — a cumprimentei. — Eu deixei separado uma mesa pra nós duas ali. — apontei na direção da mesa e ela assentiu, em silêncio. Caminhou na direção da mesa e sentou-se.
— Seu casamento é amanhã e você está aqui trabalhando na confeitaria? — dona Marcela me olhou dos pés a cabeça, assim que me sentei.
— Estou aqui apenas para conversar com a senhora. Depois vou embora para ver os últimos detalhes do casamento. — dei um breve sorriso.
— Eu acho que meu filho está cometendo um grande erro se casando com você. — deu de ombros. — Você tem um filho, é mãe solteira...
— Mãe solo! — a corrigi. — Sou mãe de um menino de ouro e ele estava ansioso pra te conhecer...
— Não faço questão. — me interrompeu. Nem dois minutos de conversa e eu já estava perdendo a paciência. — Voltando, você já tem um filho, o Rafael não tem, então provavelmente você não dará filhos a ele.
— Nós dois pretendemos ter mais dois filhos, nesse ponto, a senhora pode ficar tranquila. Não sou operada e nem o Rafael! Temos capacidade e saúde suficiente para termos um bebê!
— Além do Rafael sustentar seu filho, ele vai ter que sustentar mais dois?
— Eu mesma sustento meu filho. — respondi um pouco impaciente. — Sou empresária, minha confeitaria recebe gente de toda parte do Rio de Janeiro, inclusive famosos nacionais e internacionais, se acompanhasse o perfil da minha loja nas redes sociais, veria o número de famosos que já frequentou o local.
— No que isso muda?
— Olha, dona Marcela, a senhora pode ficar aqui e tentar colocar mil e um empecilhos no nosso relacionamento, mas nós dois vamos nos casar e ponto final. O Rafael já é um homem, adulto e decidido e não precisa de uma mãe descompensada como a senhora pra dar lição de moral. — fui sincera, enquanto ela me encarava incrédula. — Eu esperava que tivéssemos uma conversa adulta e civilizada, mas a senhora age como uma criança mimada. Até meu filho de oito anos tem uma postura mais adequada.
— Eu sinceramente não sei o que o Rafael encontrou em uma favelada como você...
— Ele encontrou amor, carinho, aconchego, ternura, encontrou uma morada em meus braços, coisas que a senhora nunca foi capaz de dar a ele e por isso, ele é distante e frio quando se trata de vocês dois. — fui ríspida. — Pode me chamar de favelada, o nome que for, eu me orgulho de ter sido criada no Vidigal, que mesmo sendo uma comunidade soube me dar uma educação melhor que a sua!
— Escuta aqui...
— Escuta aqui, a senhora! Que atravessou o oceano só pra tentar causar discórdia e destilar seu veneno. Se não tem mais nada de útil ou agradável pra acrescentar nessa conversa, sugiro que levante-se e saia da minha confeitaria.
— Rezarei pelo coitado do meu filho, que vai precisar lidar com uma mulher baixa como você. — levantou-se da mesa e eu fiz o mesmo.
— Reze pela felicidade dele. Porque, graças a Deus, nós dois somos muito felizes e bem resolvidos. Sugiro que a senhora desconte suas frustrações em outro lugar ou de preferência, procure uma ajuda psicológica.
Dona Marcela pegou sua bolsa sobre a mesa, me encarou uma última vez e saiu furiosa da confeitaria.
Olhei para dona Mara do outro lado do balcão e ela me encarava assustada e desconfiada ao mesmo tempo, como se perguntasse: e então como foi?
— Foi horrível. — respondi antes mesmo que ela perguntasse. — Ela é mal educada, estúpida demais, totalmente diferente do Rafael.
— Ele puxou o pai, com certeza. — dona Mara afirmou. — O pai dele é um homem educado, respeitoso, elegante e muito bonito.
— Ah é? — semicerrei os olhos na sua direção. — Então a senhora andou observando o seu Alberto?
— Ai menina, que bobagem! — esbravejou e eu comecei a rir.
— A senhora acha que eu não percebi, né? Ele chega aqui e faz questão de ser atendido pela Mara, ele já te chama com bastante intimidade inclusive. — cutuquei seu braço.
— Tchau, Solange, hoje nem era pra você estar aqui na confeitaria!

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora