Capítulo 31

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|Rafael|

Faz dois dias que não vejo a Solange, nem o Kauã, mas ela mandou mensagens, dizendo que já pegou os exames e o Kauã está apenas com uma pequena infecção que vai ser tratada em poucas semanas com remédios e alimentação adequada. Confesso que respirei aliviado quando soube, afinal fiquei preocupado com sua saúde e não tive tempo de visitá-lo, porque fiquei ocupado demais trabalhando em uma operação para pegar dois criminosos barra pesada no Vidigal.
Escutei alguém tocar a campainha e suspirei fundo, imaginando que fosse a Lívia, mas eu havia proibido a entrada dela no prédio e deixe avisado que se o porteiro deixasse ela passar, eu faria uma reclamação direta com o síndico. Não sei quem poderia ser, já que não recebo visitas há um bom tempo.
— Já vai! — caminhei na direção da porta e quando abri, fui surpreendido pela Solange. — Que alívio que é você e não a Lívia! — soltei o ar preso nos meus pulmões e ela riu.
— Vim trabalhar...
— Mas eu disse que você podia ficar tranquila essa semana cuidando do Kauã. — a adverti.
— Ele está melhor e está com a dona Mara, ela é minha vizinha e cuida muito bem dele pra mim, passei os horários dos remédios, as coisas que ele precisa comer e ela vai tomar conta dele.
— Vem, entra! — dei espaço para que ela passasse. — Fico feliz que ele esteja bem, vou providenciar uma visita em breve.
— Eu fiz o bolo de coco que prometi! — comentou, entrando na cozinha. — Cortei os pedaços e trouxe nessa vasilha.
— Você não esqueceu do bolo! — ri, negando com a cabeça.
— Jamais esqueceria! — arrebitou o nariz. — Eu fiz ele pela manhã, depois coloquei na geladeira, ele é mais gostoso de comer quando está gelado!
— Posso comer agora? — me aproximei da mesa.
— Mas é óbvio, o bolo é seu! — empurrou a vasilha na minha direção. — Espero que goste! Fiz com muito carinho e contei com a ajuda especial do Kauã.

O bolo estava perfeito e eu acho que foi guloso demais, comi tudo que estava na vasilha, ela deve me achar um esfomeado ou exagerado, mas foi impossível resistir a um bolo tão bom e tão bem feito.
Quando terminei, Durval me telefonou, avisando que minha encomenda dos correios havia chegado. Deixei Solange tomando conta do apartamento e desci para buscar minha entrega.
— Obrigado, seu Durval! — acenei na sua direção e voltei para o elevador com minha encomenda nas mãos.
Eu havia comprado alguns livros sobre a segunda guerra mundial, eu gostava de ler sobre o assunto, me fazia ocupar a cabeça e parar de pensar nas coisas que aconteceram em um passado não muito distante, como na morte da minha irmã.
Ao entrar novamente no apartamento, escutei Solange cantarolando baixinho da cozinha. Me aproximei da entrada da cozinha, devagar e ela estava de fones de ouvido, lavando uma restante de louça que estava sobre a pia, enquanto cantava.
— Ainda bem que te encontrei, agora sou mais feliz. Igual não tem, me trata bem, do jeito que eu sempre quis... — fez uma pausava, mexendo a cabeça de um lado para o outro. — Lembro, te olhei, me apaixonei, esqueci o que eu vivi...
— Deve estar apaixonada! — chamei sua atenção e ela pareceu se assustar.
— Que susto! — virou na minha direção e nós rimos. — E não, não estou apaixonada, só estava cantando uma música mesmo. — franziu o nariz. — Você parece até o Kauã, eu não posso cantar nada romântico que ele vem perguntar se estou "de namoradinho"?
— Pareceu que estava de namoradinho... — usei a expressão de Kauã, colocando a caixa sobre a mesa, tentando abrir o lacre.
— Faz muito tempo que não me apaixono por ninguém, nem fico de namoradinho. — virou-se na direção da pia novamente.
— Por quê? — questionei, mas depois me senti um pouco invasivo.
— Eu não sei exatamente, depois que me tornei mãe, as responsabilidades cresceram... — suspirou fundo. — e normalmente, um homem não gosta de sair com uma mulher que já tem um filho. Sempre que a Carol me apresentava um cara novo e ele sabia do Kauã, era só contar os minutos pra ele correr!
— Quem saiu perdendo foram os caras que correram de você. — murmurei, abrindo a caixa com os livros. — Pelo pouco que conheço de você, sei que é uma mulher forte, uma mãe incrível, é divertida, independente e... muito bonita! — esse último elogio escapou quase sem querer e agora meu rosto estava vermelho. — Quer dizer, eu quis dizer... — comecei a gaguejar, deixando tudo pior.
— Muito obrigada pelos elogios. — abaixou os ombros, rindo.
— E também tem o Kauã, que é uma criança incrível, então quem correu de vocês dois, perdeu uma grande oportunidade de viver a felicidade de verdade. — fui sincero e ela virou o rosto brevemente na minha direção.
— Obrigada pelas palavras, quero acreditar que eles que tenham perdido mesmo. — voltou sua atenção para a louça na pia. — Porque às vezes parece que sou quem perde tudo... — riu, levantando os ombros. — Acho que só me mantenho forte, por causa do meu filho! Kauã é a luz da minha vida.
— Você ainda tem ele que é a luz da sua vida, eu tinha uma luz na minha vida, que era minha irmã...
— Ela ainda é, mesmo que você não veja. — virou na minha direção e eu dei um breve sorriso. — Ou talvez ela tenha mandado alguém pra ser a luz da sua vida e você deu bola fora, por exemplo, a tal Lívia. — ironizou e nós rimos.
— A Lívia me trouxe dois belos par de chifres, não tem nada de luz nisso. — revirei os olhos e ela riu mais alto.
— Você também levou chifre? Porque eu levei e pra piorar a situação, eu estava grávida. — ergueu os ombros. — Matheus me deixou sozinha em casa e foi pra rua, saiu com várias meninas, enquanto eu enfrentava os últimos meses de gravidez. No final, eu tive o Kauã na companhia de meu irmão e da Carol...
— Ele não estava no parto do Kauã?
— Ele esqueceu do parto. — soltou um longo suspiro. — Enfim, não gosto de ficar contando da minha vida amorosa, porque as pessoas devem pensar que sou uma grande azarada. — disse e eu neguei com a cabeça.
— Eu diria que você teve a SORTE de se livrar desse cara. Você pode me achar exagerado ou indiscreto, mas Solange, você é mulher demais pra ele!

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora