família

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Draco entrou na cabine, observando cuidadosamente o quarto. Consistia em duas camas, um par de baús e uma mesinha com uma lamparina a óleo. Ele caminhou cansado em direção à cama que pensava ser sua e sentou-se nela.

A conversa com Potter o deixou com uma dor lancinante no peito e uma sensação de solidão que o deprimia. Porque essa era a verdade: ele estava sozinho. Ele havia perdido seus pais, não conseguiu encontrar Severus e agora se encontrava em um navio com uma dúzia de estranhos.

Ele tirou as botas e deitou-se na cama para enterrar o rosto no travesseiro e soluçar livremente. Ele poderia garantir que estava chorando há horas porque seu nariz estava entupido, seus olhos estavam irritados e sua garganta estava seca, quando alguém abriu a porta. Ele apertou as pálpebras e abriu os lábios para respirar lentamente pela boca, para que não ficasse óbvio que estavam naquele estado deplorável.

Ele não era muito bom em fingir que estava dormindo, porque alguns minutos depois ouviu Ginny atravessar o quarto até se deitar em sua cama e abraçá-lo por trás.

— "O que está acontecendo?" – a garota questionou delicadamente.

Seu corpo tremeu dolorosamente. Ele trouxe os joelhos em direção ao estômago, enrolando-se em uma bola.

— "Foi minha culpa" – ele soluçou baixinho. – "Eu estava distraído e não vi um grupo de caçadores de recompensas vindo em nossa direção. Eles já estavam muito próximos quando contei aos meus pais...."

— "Tranquilo, Draco. Respira fundo"

— "E... e então eu os abandonei" – ele continuou, chorando ainda mais. – "Eles ficaram lá para que eu pudesse escapar, e tudo que fiz foi correr sem olhar para trás. Eu não consegui nem dizer adeus. Eu deveria ter ficado. Eu deveria ter protegido meus pais."

Foi a primeira vez que ele pensou nisso desde que fugiu.

— "Você não poderia ter feito nada para salvá-los." – a ruiva consolou.

— "Mas eu deveria ter tentado!" – exclamou – "Agora não tenho família, não tenho ninguém".

— "Você nos tem, todos nós. É verdade que às vezes não somos os melhores, mas estamos sempre presentes um para o outro. Nós podemos ser sua família Draco."

Ele gemeu, fechando os olhos com força. Parte dele queria acreditar nas palavras reconfortantes de Ginny. Ele não se lembrava de quando adormeceu, mas acordou com o corpo dormente, os olhos inchados e uma forte dor na garganta. Ele se endireitou, percebendo que a ruiva também havia adormecido com ele.

Ele sorriu tristemente, levantando-se da cama, tomando cuidado para não acordar a menina, pegou o abajur da mesa e saiu da cabine.

O vento frio atingiu seu rosto quando ele saiu para o convés. Ele caminhou silenciosamente, observando que Rony estava na parte mais alta do navio, provavelmente vigiando, então se deslocou para o lado oposto, onde se deitou no chão para poder contemplar as milhares de estrelas que naquele momento coroavam o céu.

Draco sentiu-se desanimado, mas liberado e, de certa forma, relaxado. Talvez tenha sido porque o som das ondas do mar batendo contra o navio o acalmou ou porque ele chorou mais do que jamais chorou em toda a sua vida. Ele começou a cantarolar uma canção de ninar baixinho enquanto contava as constelações que encontrava. Ele poderia ter ficado naquele momento para sempre.

Foi uma pena que esse momento maravilhoso tenha durado tão pouco, pois toda a sua tranquilidade foi quebrada pelo grito de Ernie lá de cima:

— "Navio a vista!"

Ele se endireitou rapidamente, olhando em volta. Ele viu Rony correr para o lado do convés, bem onde Ernie estava apontando, e erguer sua luneta para olhar ao longe. Draco tentou vislumbrar alguma coisa, mas na escuridão da noite era impossível.

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