Capítulo Quatro

62 18 25
                                    

   Pete significava amor não correspondido, um romance que tinha fim antes do começo e que partia meu coração apenas em pensar sobre nosso péssimo encontro. Fazia dias que não colocava meus pés para fora de casa, não via ninguém e nem queria, Matias me ligava diariamente mas não queria contato com ele, não queria encontrar nenhum ser vivo a não ser Grey, o gato da vizinha que sempre pulava minha janela.

    Não tinha contado para meu único e melhor amigo sobre o fracasso de quatro dias atrás, ele não precisava saber que além de um péssimo escritor, também era péssimo flertando e que não conseguia controlar minha própria língua. Se era frustrante para mim todos os sentimentos de ser um fracasso ambulante quem dirá para o único humano que ainda se disponibilizava para ouvir todas as minhas queixas e surtos sobre absolutamente tudo.

     Às vezes queria entender como Matias ainda conseguia lidar comigo.

       Olhando pela janela vi que o dia estava amanhecendo e atualmente eu tinha treze capítulos prontos e tentava enviar e-mails para meu antigo designer que fez as ilustrações do meu livro lançado, seria o primeiro romance homossexual que eu escreveria afinal sempre fui voltado para o público heterossexual mas aquele garoto, maldito, Fez minha mente entrar em combustão e tudo virar de cabeça para baixo.

     Quando me deitei para dormir eram oito da manhã e sorri lembrando-me que se estivesse em uma rotina normal, com tudo o que antes fazia facilmente com toda certeza estaria sentado na cafeteria lutando para que minha mente focasse em algo que não fosse Pete caminhando de lá para cá enquanto ainda não chegava em minha mesa segurando seu bloquinho azul e anotava o mesmo pedido desde que o encontrei pela primeira vez e o novo pedido se tornou monótono, Cappuccino junto com bolo de morango eram as coisas que faziam parte do meu cotidiano. Virei de lado e meus olhos encaravam a porta fechada junto das cortinas fazendo o quarto ficar escuro e em um clima noturno mesmo que o sol irradiasse fora dali.

         Certamente o meu caso não era alarmante, apenas estava sofrendo de amor.

     Por que dormir parecia tão difícil? Talvez por ter tantas coisas fora do lugar, talvez por não saber como lidar com a rejeição ou apenas culpa da minha confusão. Solidão não era um problema real, pois em todos os anos de minha vida apenas tive a presença de Matias e alguns dos pequenos rasgos da mente traumatizada de uma criança a memória dos meus pais surgiam mas claramente nenhuma era realmente boa.

     Nenhuma fazia meu coração se aquecer em saudades dos meus progenitores. Minha mãe usuária de drogas que faleceu em uma noite qualquer por conta de uma overdose e meu pai que a deixou ser enterrada como indigente por não ter condições de pagar um velório e dar um enterro digno a mulher que jurou amar até os últimos dias, talvez, apenas talvez por isso que ele me deixou com os pais de Matias e sumiu do mapa. 

     Agora entendo por que minha mãe o chamava de canalha e descontava toda sua fúria sobre uma inocente criança que de nada tinha culpa, ela sofria de amor. Um amor que cortava-lhe os ossos e gelava o coração, minha mãe sofreu por amar um homem que estava mais interessado em ir para motéis e trepar do que cuidar da própria família. 
Mas não culpo nenhum dos dois, eram jovens demais. Pelo menos foi o que me convenci a acreditar durante todos esses anos.

      Virado de barriga para cima encarei o teto branco e respirei profundamente ao que minha mente trazia a imagem daquele sorriso de covinhas, Maldito Saengtham. Você não sabe o quão odeio não conseguir parar de pensar em ti, em um segundo você parecia feliz em me ver e no outro já estava atravessando aquela porta e saindo sem se despedir de mim, ou do meu coração idiota.

   Senti meu celular vibrar e o peguei com certo receio, 10 mensagens do Matias, 3 de um grupo aleatório que havia entrado alguns dias e 5 do Pete.

    PERA, CINCO DO PETE SAENGTHAM!?

𝐒tories 𝐂afe × VegasPeteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora