Capítulo Seis

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Pete

  São 6h da manhã. Acordei sem o despertador. Por que os pensamentos são altos demais e nenhum deles me faz bem.
Tudo o que aconteceu nas últimas semanas causam uma angústia enorme no peito, o medo ainda está aqui, ainda existe e faz questão de me atormentar nos sonhos.

    No meu lado direito estava o meu pequeno príncipe, às vezes sinto uma inveja absurda o desejo de ter noites bem dormidas me tornam um homem invejoso. Vicen dorme profundamente enquanto eu vivo de cochilos, quando consigo fechar os olhos é o momento de estar acordando para o trabalho.
Em uma manhã comum estaria terminando de me vestir para a faculdade e deixaria um beijo em meu irmão para comer algo na cozinha que minha mãe havia preparado, mas dias comuns não existiam desde que a perdi. Apenas uma sombra escura que atormenta minha mente e sela meu coração.

     Minha vida sem a mulher que a deu, nunca mais será a mesma.

   Vicen é a única pessoa que resta em minha vida, minha mãe havia partido. Meu pai nunca apareceu e o pai do meu irmão faleceu poucos dias antes do seu nascimento.  Minha vida foi cercada por perdas desde que comecei a criar memórias.
Não conseguia acreditar que alguém iria amar uma pessoa infeliz como eu, mas então ele apareceu.

     Vegas surgiu com aquele jeito bagunçado e com aquela aleatoriedade que fez um sorriso aparecer em poucas horas de conversa. Um sorriso que não brotava a meses e que não tinha desejo de liberar.
Ele chegou com palavras confusas e um pedido diário, com rosas, sorvete de menta e uma conversa esquisita sobre sentimentos.

     E como um grande medroso, fugi.

   Situações que não consigo controlar e que exigem entrega de sentimentos, me assustam. Fugi do Vegas, de mim e dos bons sentimentos que fizeram as borboletas mortas renascerem e retornarem a dançar em meu estômago.
Como consequência dos meus atos, Vegas não apareceu novamente na cafeteria, no quarteirão ou próximo a praça onde existia o lago da foto que ele havia me enviado, procurei por ele e o esperei pacientemente por quatro dias. Quatro longos e torturosos dias.

     Vegas não apareceu.

    Durante a madrugada enquanto Vicen dormia e eu caminhava pela casa com uma caneca de chá em busca de algo que obrigasse meu cérebro a desligar, parei em frente ao pote de cinzas.
Minha mãe, estava dentro daquele pote com a data de seu nascimento e infelizmente o ano que morreu.

       Peguei-a com cuidado e sentei no sofá com alguns rasgos por conta do pequeno príncipe. Meus olhos marejados não conseguiram conter a saudade e derramaram lágrimas grossas, funguei ao perceber que minha mente havia apagado a memória da voz doce que Anne sempre teve, minha mãe, ainda consigo me lembrar de seus fios castanhos tingidos toda semana para esconder os fios brancos que nasciam, o sorriso bonito que faziam as covinhas surgirem e iluminarem tudo.

    Querida Anne, amada mãe.

   Você sempre será a luz da minha vida.

Limpei as lágrimas que insistiam em descer com a barra da camisa. Durante aquela madrugada eu conversei com ela, contei sobre Vegas e o quanto ela queria que eu amasse alguém, contei que fugi, contei meus medos, angústias e frustrações e ditei o quanto Vicen cresceu, principalmente a falta que ela faz. Por fim, dormi no sofá com o porte sobre a mesa.

    Vicen me acordou aquele dia, me falou as horas e percebi que dormi bem pela primeira vez desde a partida dela. Dormi o suficiente para me atrasar pela primeira vez em três longos anos, para muitos atrasos significa tristeza e que receberam um esporro do chefe, mas eu abri um sorriso e enchi o príncipe de beijos, por que ele não merecia sofrer e por que eu não merecia me entristecer. Afinal, Porsche era meu chefe e além de Vicen, era o único que sabia o que acontece por trás da máscara de garoto feliz.

𝐒tories 𝐂afe × VegasPeteWhere stories live. Discover now