C. 3

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Luna

O barulho da gota caindo sobre a poça de água no chão, fazendo aquele som tenebroso ser meu pesadelo. Sempre era assim. Todas as noites. A gota caía, como se me avisasse a sua chegada. Avisando-me que meu inferno começaria de novo, como todos os dias. E então as pisadas vieram, cautelosas e cuidadosas, não atraindo atenção de ninguém além de mim, porque eu sabia quem era o alvo delas.

Eu.

Sua silhueta apareceu ali, atrás da minha cela. O macacão amarelo da prisão escondendo seu corpo aparentemente curvilíneo. Seu cabelo preto preso em um coque desarrumado que fazia alguns fios soltos balançou. Ela causava medo em todas as outras prisioneiras. Seus dentes quase podres causavam um odor horripilante, transbordando sua sujeira. Ela exalava sujeira.

Eu me encolhi na cama dura, minhas costas forçando os ossos a se sentirem confortáveis naquela merda de concreto. Minhas mãos apertando com força a finura do pano que os guardas nos davam para enrolar nosso corpo, forçando meus dedos entre o tecido enquanto meu medo e desespero tomavam conta.

Porra.

Ela estava ali.

"Chorona, queremos brincar com você hoje de novo."

Apertei os olhos, tremendo e fingindo estar dormindo. Talvez se Deus ainda me amar, vai fazer que Berenice acredite que eu esteja dormindo. Ou, talvez, acorde um guarda para me salvar. Só me salve dessa merda.

Mas, quem eu queria enganar.

Todos os guardas gostavam disso. Se excitavam com a dor das presas. Era como se isso melhorasse a vida de merda deles.

"Não me venha com suas brincadeiras. Eu sei que você não está dormindo. Venha logo aqui."

Pressionei os lábios, começando a chorar enquanto meu corpo se movia automaticamente, sentando na cama. Evitei olhar para ela. Eu sabia que se eu fizesse isso e mostrasse ainda mais o medo que eu sentia, ela acabaria comigo. Levantei da cama, arrastando-me devagar, ajeitando a manga do macacão amarelo que eu usava também. O frio bateu no meu rosto, tentando acariciar minha pele dolorida da surra da noite passada.

Eu ainda tinha alguns machucados e feridas não curadas. Talvez nunca curem se eu continuar sendo espancada todos os dias. Limpei o rosto, esfregando as lágrimas em minha pele.

Que merda...

Eu poderia acabar com isso se roubar alguma coisa que possa ferir alguém aqui. A chave de algum guarda ou a caneta da médica, ou corpo de vidro da psicóloga. São tantas opções para uma pessoa sem coragem.

A cela sendo aberta me fez olhar para frente, notando seu corpo ainda ali, me esperando. Continuei avançando até sair.

O que elas farão hoje?

Me prender a uma corda e sorrir enquanto levo socos consecutivos?

Me torturar com facas?

Existem inúmeros jeitos que elas podem me fazer sofrer.

Sua mão agarrando meu braço e puxando-me com ela. Eu sabia o que iria acontecer. Se tornou rotina. Todos aqui fechavam os olhos. Não sei se algum parente dela pagava a polícia para manter a boca fechada e não interferir, ou se as detentas ameaçavam eles também. Muitas mulheres como eu sofrem aqui. Torturas. Espancamento. Humilhação.

O tilintar das chaves agonizou meu ouvido, meus olhos encarando o grupo ali no canto da sala um pouco escura. Estávamos na solitária. Berenice conseguiu as chaves de lá mais uma vez.

Flames Of RevengeWhere stories live. Discover now