11 - SOCORRO!

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"Seja a assombração do medo"

Layla Grinffin,

Deslizei meu dedo no papel, deixando mais uma folha do livro ir embora, enquanto observava Damon dormir pesado ao meu lado na cama. Seu rosto tranquilo, iluminado pela luz suave do abajur, me fazia sorrir involuntariamente.

O silêncio do quarto minimamente arrumado se misturava apenas com as páginas viradas e a respiração profunda e suave do homem ao meu lado. Não existia barulho em um bunker e isso me lembra bem o quanto odeio estar longe da natureza e dos passarinhos cantando ou do vento batendo em minha janela.

Mudei meu foco e encarei a inocência da beleza da criatura demoníaca, assemelhando-se a uma bela noite estrelada. Guiei minha mão para o rosto dele, sentindo a pele quente tocar as pontas dos meus dedos. Eu havia perdido a conta de quantas vezes o acariciei desde que adormecera, mas cada carícia era um gesto de carinho e gratidão por tê-lo comigo.

Ansiava para que ele abrisse os olhos, recuperado. Lancei minha visão para o relógio de parede de moldura preta fosca. Apenas fazia pouco mais de trinta minutos desde que ele dormira, o tempo parecia arrastar-se com uma lentidão quase dolorosa. Não posso negar, estava impaciente.

Queria que os ponteiros rodassem mais rápido, que o tempo se movesse com mais celeridade, trazendo consigo a volta de Damon à vigília.

Depositei um carinho momentâneo e sincero em seu rosto, ainda preocupada, como uma corrente de medo inacabada e resistente que teimava em persistir. Retornei meus dedos para meus próprios lábios, relembrando detalhadamente do que havia experienciado recentemente nessa cama.

Cada sensação ardente dentro de mim, assim como cada toque deslizando em minha pele, pareciam reviver como um sopro de vida, deixando uma trilha de calor e emoção em seu rastro. Era como se cada momento estivesse entrelaçado em minha memória, gravado de forma indelével, fazendo-me ansiar pelo retorno dessas sensações e do amor compartilhado.

Deixei o livro de magia descansar no criado mudo, e me aconcheguei no peitoral de Damon. O corpo sempre quente e acolhedor.

— Você realmente não vai acordar até recarregar toda a energia? — Perguntei baixo, sabendo que não haveria resposta dele.

O silêncio incomodou meus ouvidos, como areia nos olhos. Então suspirei fundo, conformada que o dia seria longo e solitário, como uma madrugada de inverno.

Nunca imaginei que sentiria falta de ouvir a voz dele. Falta das conversas incessantes sobre os inúmeros livros que ele guarda na estante de madeira velha, e até mesmo, me incomodando com seus comentários maliciosos.

— Darles. — Chamei.

— O que desejas, senhorita?

Ele respondeu de imediato, sempre fiel a acatar as ordens ou pedidos.

— Ele vai dormir por quanto tempo?

— Diga-me que não está com saudades dele. — A voz dele transpareceu um leve tom de brincadeira, mas sei que Darles gosta do Damon, mesmo negando.

Saudade.

Sim. O sentimento de necessidade, o querer de ouvir sua voz rouca e lenta encher meus ouvidos. O desejo vivo dele me puxar para seus braços.

— É culpa minha ele está assim. — Murmurei, acariciando o peitoral de Damon, por cima do tecido fino da camisa de algodão.

— Ele vai demorar um dia e meio, no mínimo. — Darles falou, percebendo que estou realmente triste pela falta do homem. — Criaturas normais demorariam uma semana, mas Damon tem a linhagem do próprio diabo nas veias, então não se preocupe, logo ele vai tirar sua paciência.

Chamas Do PurgatórioWhere stories live. Discover now