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Giovanna Antonelli

Saimos do salão de apostas após mais uma vitória minha, da qual eu não tive dúvidas por nem um segundo de que levaria a melhor, e fomos até um barzinho que ficava aberto durante a madrugada para conversarmos.

Afinal, tínhamos muito o que conversar a partir de agora.

— Você precisa contar para a sua família sobre as lutas, não vai dar pra esconder por muito tempo e eles vão acabar descobrindo por boca a boca. — cortei o silêncio, iniciando pelo ponto mais fácil da nossa discussão.

Não tinha tido tempo de conhecer todos os membros daquela família, mas sabia que para além da mãe, ainda haviam duas crianças que possuíam o mesmo sangue dele. Gente demais pra lidar, gente demais pra ser envolvida nessa história.

Mas não tem o que ser feito.

— Vou conversar com um amigo do meu pai que treinava jiu jitsu comigo, vou pedir pra ele falar que te conhece e me ajudar a contar essa meia verdade. — falou todo preocupado, passando a mão nervosamente pelos cabelos. — Depois que eu contar, não dá pra voltar mais atrás, Giovanna.

Alexandre falava sério comigo, não tinha nenhum tom de petulância ou provocação na sua voz. Esse assunto talvez fosse a parte mais importante do nosso acordo, porque envolviam as pessoas que eram mais importantes pra ele.

— Pode ficar tranquilo, eu sou trambiqueira, mas não sou mentirosa. — tentei aliviar o clima, brincando um pouco. — Vou pedir para o meu advogado fazer um contrato e a gente lê junto antes de você assinar, sem problema algum.

Querendo ou não, se fazia necessário que as coisas fossem para o rumo jurídico, em especial porque eu não iria investir pouca coisa nele. Minha intenção é aplicar grande parte do meu dinheiro nele, sabendo que o retorno seria muito maior.

Não podia deixar tudo na mão da sorte e acreditar que ele seria fiel a mim, já que eu sequer o conhecia direito. Não dá pra jogar dessa forma, é muito arriscado.

— Preciso saber mais sobre você, Alexandre. — soltei algo que estava engasgado em mim já fazia um bom tempo. — Só sei seu primeiro nome, onde você mora e quem é sua mãe. Não dá pra seguir assim.

Como eu seria empresária de um cara que eu conheço tão pouco? Sem chance. 

— E você só sabe essas informações porque foi xereta e se meteu onde não devia. — por mais que a frase soasse rude, sua voz era calma ao falar comigo. — Vai ser uma via de mão dupla? Eu falo e você fala?

Sempre fui uma mulher muito reclusa, que não dava muitas informações sobre a minha vida pessoal para os homens que passam pela minha vida. O esquema era sempre o mesmo: cama e rua. 

Eles nunca ficavam tempo suficiente na minha vida pra descobrir mais do que minhas habilidades durante o sexo, ou até mesmo no jogo.

— É... — hesitei, não querendo entregar tudo de bandeja pra ele.

— É isso ou eu fico calado também, não tem meio termo, Giovanna. — deu de ombros, como se não fosse nada demais.

O barzinho já começava a esvaziar pelo horário, ficando apenas nós dois e mais um grupo de amigos em outro canto. Isso me tranquilava ao ponto de saber que mais ninguém saberia o que nós conversamos aqui, que esse seria o nosso segredinho sujo.

— Giovanna Antonelli, 30 anos, nascida e criada em Bangu. Filha de uma empregada doméstica e de um drogado desempregado. Saí de casa assim que completei 18 anos, porque não aguentava mais viver na insignificância. — coloquei os braços na mesa, olhando diretamente pra ele em um desafio. — Sua vez.

NocauteWhere stories live. Discover now