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Alexandre Nero

Não sei quantos dias se passaram desde a última vez que tive contato com Giovanna, após decidirmos seguir com essa parceria que ainda era uma incógnita pra mim.

Tivemos algumas reuniões com seu advogado, assinamos um contrato que por incrível que pareça era benéfico para ambos e desde então, não tive mais sinal dela. Tampouco resolvi ir atrás pra ver o que ela estava aprontando, preferia não saber.

Conhecendo-a o pouco que eu conheço, tinha certeza de que ela estava correndo atrás de tudo que havia me prometido e só daria as caras quando tudo estivesse mil maravilhas. Giovanna jamais se mostraria falha, jamais.

— Tá fazendo o que aí, moleque? — me aproximei de Antônio, que estava sentado na mesa da cozinha.

— Tô fazendo lição de casa. — a criança tinha um bico enorme no rosto, e eu não duvidava nada que tinha acabado de tomar um esporro de dona Iracema.

— Pela cara já sei que tomou fumo da mãe, né pirralho? Nem vou te falar nada, que tu já sabe o que eu penso sobre isso. — dei um peteleco na sua cabeça, indo atrás da minha mãe pela casa.

Era início de tarde e eu sabia que ela adorava ficar sentada na frente de casa conversando com uma das nossas vizinhas, que sempre aparecia na rua no mesmo horário que ela.

— Oi, mãe. — deixei um beijo na sua cabeça em sinal de carinho. — Dona Lúcia não apareceu hoje pra conversar com a senhora? 

Apesar de já ser um homem adulto, vez ou outra eu me permitia agir como um moleque que só quer ficar perto da mãe, aproveitando o momento juntos.

— Parece que ela tá com problema na pressão de novo, uma das filhas teve que levar lá no postinho pra ver o que é. — comentou.

Ficamos os dois ali fora por um tempo, conversando e aproveitando um momento de paz que era raro naquela casa. Se não era eu tendo que ir trabalhar quase escondido, era um dos pirralhos aprontando na escola e tomando xingo dela.

A vida sendo mãe de três meninos não deve ser fácil, e ela sabe bem disso.

— Ih, aquela ali não é tua amiga? — minha mãe apontou com a cabeça para o lado oposto onde eu estava olhando.

Eu não precisava me virar pra saber de quem se tratava, porque eu já sabia quem era só pelo cheiro que exalava no ar. Aqui na favela, ninguém tem dinheiro suficiente pra usar perfume importado igual ela.

Me virei a tempo de visualizar ela descendo de uma das motos aqui do morro, em toda a sua grandiosidade e nariz em pé.

— É ela mesmo. — confirmei, já imaginando o motivo da sua aparição. — Vou levar ela no restaurante da Zuzu ali embaixo, quer que traz alguma coisa pra vocês? 

— Precisa não, filho. Pode ir tranquilo.

Giovanna pareceu ler os meus pensamentos e nem ousou se aproximar mais da minha casa, sabendo que aquele assunto precisaria ser conversado bem longe dali, pelo menos até que a gente contasse a nossa historinha inventada para Iracema.

Enquanto caminhava até ela, percebi que ela deu um tchauzinho para minha mãe, sem tirar o sorriso do rosto. 

— Olha só quem resolver dar as caras. — brinquei, me aproximando dela sem saber muito bem como cumprimentá-la.

Optei por só dar um aceno de cabeça, sabendo bem que tocar nela não seria a melhor opção.

— Estava resolvendo os seus b.os enquanto você coçava o saco em casa, badboy. — devolveu a brincadeira. — Podemos conversar?

NocauteUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum