Prologo

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Imagina aquele dia que deveria ser o mais perfeito da sua vida. Imaginou? Pois bem, eu esperava ansiosamente por esse momento.

Como poderia o cara mais lindo do colégio, o melhor jogador de futebol da sala, o mais popular das festas e o personagem principal dos meus sonhos simplesmente ter percebido a minha existência? E, para completar, falou para minha amiga que estava querendo me beijar.

Claro que isso tudo poderia ser perfeitamente normal se o objeto de desejo de Joe não fosse eu, Julie.

Não tem nada de anormal comigo. O destino só não foi muito generoso com alguns acontecimentos na minha vida.

Nunca conheci meus pais. Eles acharam que não estavam preparados para a responsabilidade e resolveram sair mundo afora. Me deixaram com minha avó materna, Helena.

Minha avó sempre lutou sozinha pra que não me faltasse nada e priorizou a minha educação. Conseguiu uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas de São Paulo.

O único problema foi que ela nunca teve muito gosto para moda. Então dá pra imaginar como sempre fui pra escola, né? Vestidos de bolinha, saias de pregas, cores das mais variadas, estampas que iam de frutas a bichos

O cabelo então... O mais moderno foi um rabo de cavalo, que poderia até ficar bom, se não estivesse do lado da cabeça ao invés de atrás.

Acrescentando a isso uma garota tímida, de poucos amigos e que sempre sentou na primeira carteira da sala.

Quando a Meg me disse que ele estava interessado em mim, achei que ia morrer. Talvez eu até tivesse um par para dançar na formatura do colegial que seria dentro de algumas semanas.

Meg é a única a quem confiei o meu maior segredo. Nunca vou esquecer a sua reação quando contei:

- Meg, preciso te falar uma coisa, mas você tem que prometer não falar pra ninguém, nunca, nem sob tortura.

- Pode falar, Julie, eu prometo.

- Olha, é que eu... Nossa, tenho vergonha de te falar isso, mas nunca beijei nenhum garoto... - falo tão baixo que acho que Meg não escutou, mas, pela sua expressão de choque, ela entendeu.

- Meu Deus, como assim?! Nem um selinho, nada?! - ela não estava muito impressionada com minha proeza.

- Nada. Você sabe, nunca fui a favorita dos garotos. - estava envergonhada de dizer isso. Abaixei a cabeça e esperei seu julgamento.

- Olha, é que eles não conseguem ver a garota especial que você é. Mas isso vai mudar, você vai ver. Até o baile isso vai mudar. – e, sem mais uma palavra, Meg foi embora.

Acredito nas palavras dela, Meg sempre esta certa do que diz.

Então, depois de duas semanas, ela traz a grande notícia:

- Você não vai acreditar! Ontem estávamos em uma rodinha brincando de verdade ou castigo e Joe confessou que sempre teve vontade de te beijar! Meu Deus, Julie, você tem noção do que é isso? Ele que ficar com você! - Meg estava muito empolgada, batia palmas e dava pulinhos de alegria.

Eu fiquei sem reação, tentando entender como isso era possível.

- Meg, eu... Eu... - não conseguia falar, nem respirar. Mas um sorriso, que não estampava meu rosto há muito tempo, aparece.

- Olha, eu já combinei tudo com ele. Depois da aula, naquela pracinha da esquina, ele vai estar te esperando. - Meg me abraçou. - Estou feliz por você Julie.

Não aguento de ansiedade e não consigo mais prestar atenção em nenhuma aula. Isso nunca acontece comigo. O sinal me tira dos meus devaneios.

Quando a aula termina, saio e caminho devagar. Minha vontade era correr, mais seria muito humilhante chegar antes de Joe.

Quando me aproximo da praça, vejo ele encostado no muro. Lindo de morrer, com aquele jeito convencido de ser, mastigando chiclete.

Mil coisas passam pela minha cabeça. Se ele vai dizer que sou linda, que gosta de mim, que sempre me amou. Mas quando me aproximo ele me empurra no muro e diz:

- Vamos acabar logo com isso.

Então me perco em uma confusão de línguas, com gosto de menta.

Não vejo estrelas, e sou pega tão de surpresa que antes que eu feche os olhos o beijo acabou.

- Meu Deus, garota, se eu soubesse que você beijava tão mal eu teria pedido o dobro a Meg por esse favor. - com raiva, ele vira as costas e vai embora.

Lágrimas escorrem do meu rosto. Como pude ser tão boba? Nunca tive amigos e achei que Meg realmente era importante na minha vida. E Joe, como pude sonhar com esse monstro?

Corro para casa, preciso que minha avó me abrace e diga que vai ficar tudo bem. Mas, quando chego, várias pessoas estão na porta, me olhando.  Entro e vejo minha avó caída no chão.

- Vó, fala comigo, vó! - grito e sacudo seu corpo, mas ela não responde, está morta.

Sento do seu lado, abraço minhas pernas e choro por tudo, pela minha avó, pelos meus pais, por Meg, por Joe. Choro porque estou sozinha.

- Meu bem, levanta, vamos comigo, preciso ver aonde vou te levar. - um policial se aproxima.

- Não tem pra onde me levar, não tenho ninguém, você não entende! - grito, como se ele fosse o culpado.

- Olha, vou te levar para um abrigo, alguém vai cuidar de você. - me pega pelo braço, mas antes de sair seguro nas mãos da minha avó e juro que vou me vingar de todos. Não sei como, mas meus pais vão precisar de mim, Meg vai ser humilhada como eu e Joe vai implorar por um beijo meu!

O doce sabor da vingança  ( degustação) Where stories live. Discover now