O Amor que vem de Deus (Completo - Em revisão)

Cap.10

Elisa

Meu pulso doeu quando tentei empurrar a porta para fechar e logo cedi quando o braço forte  empurrou de vez. Não pude fazer nada se não me afastar e encarar meu irmão, que entrou sem falar nada. Ele olhou em volta: a tesoura jogada próximo a meus pés, algumas mechas de cabelo no chão, o papel higiênico sujo de sangue em cima da cama. Então, olhou para mim.

﹘ Você está horrível ﹘ disse.

﹘ Não me diga ﹘ ironizei.

Ele ficou em silêncio por um instante, parecendo não saber o que fazer. Ainda não tinha parado pra colocar a cabeça no lugar, mas sabia que devia agradece-lo por tira-la de cima de mim. No entanto, não faria isso naquele momento. Dessa vez eu me mexi, procurando uma mochila e reunindo meu notebook, a Bíblia que Fernando me deu, alguns livros e cadernos. Não sabia para onde ia, mas imaginei que não voltaria logo.

﹘ Ela está descontrolada, tive que coloca-la no meu quarto e trancar a porta ﹘ disse por fim. ﹘ Não sei o que fazer.

﹘ Orar. Tenho certeza que ela vai mudar quando conhecer Jesus.

Bruno riu.

﹘ Jesus, Lis? Olha o que Jesus deixou ela fazer com você. Esse Jesus não pode fazer nada por ninguém.

﹘ Ele tem feito muito por mim. A culpa dela ser uma doida e ter feito isso comigo é somente dela.

Peguei outra bolsa e coloquei algumas peças íntimas, produtos para cabelo e maquiagem.

﹘ Você vai embora? 

﹘ Apenas até eu convencer Fernando que é seguro voltar... ele não vai me deixar ficar aqui depois disso.

﹘ Ele gosta de você ﹘ respondeu. 

Balancei a cabeça, confirmando, mesmo que não tivesse sido uma pergunta. Ainda era estranho me dar conta de que estava acontecendo algo, de verdade, entre nós dois. Que as coisas que estive sonhando e imaginando nas últimas semanas eram reais agora, apesar de ter acontecido num momento tão ruim.

﹘ Acho que sim ﹘ respondi, começando a colocar a mochila nas costas. Ele pegou de minha mão antes que eu passasse o segundo braço.

 ﹘ Vem, eu te levo até lá embaixo. ﹘ Pegou a bolsa em cima da cama. ﹘ Vi Pedro esperando do lado de fora do carro.

﹘ Você o conhece?

﹘ Costumávamos sair juntos antes dele virar crente ﹘ murmurou.

﹘ Ele conheceu o amor de Jesus, apenas isso. E eu tenho certeza de que você não se arrependerá quando também o conhecer.

Ele ignorou meu comentário. Não me importei em conferir se faltava algo, pois sabia que poderia mandar uma mensagem para Bruno caso fosse necessário. Essa situação veio para me mostrar que ele ainda era meu irmão, apesar de tudo.

﹘ Você vai ficar bem? ﹘ perguntei sinceramente quando ele abriu a porta que dava para a rua.

﹘ Vou, sou o filho favorito dela, afinal ﹘ resmungou fazendo uma careta e virou pra mim. ﹘ Se preocupe apenas com você, se cuide.

Lembro que antes de papai ir embora, éramos muito unidos. Dois irmãos contra o mundo, que teve seu relacionamento destruído quando cada um teve que ir para um lado. Ele com nossa mãe, e eu com meu pai. O tempo mostrou que não tomei a melhor decisão, pois logo nosso pai esqueceu de mim e hoje sofro as consequências disso. Mas antes, eu e Bruno não desgrudávamos. As pessoas podiam dizer muito bem que éramos gêmeos, sempre brincávamos juntos, comemorávamos juntos... ele foi o melhor amigo que tive na vida, mas o perdi também...