Cap. 11

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Fernando

Sentei no sofá assim que vi Elisa desaparecer junto com sua mãe, indo para seu quarto. Me senti totalmente impotente ao me dar conta de que não poderia fazer nada, eu estava na casa dela afinal de contas. Mas eu sabia... de alguma forma eu sentia que não iria ser algo leve e eu estava disposto a interferir se fosse preciso.

Coloquei os braços sob o joelho e cruzei as mãos, fechei os olhos e fiz uma oração silenciosa, pedindo que eu estivesse enganado quando vi o brilho maldoso nos olhos daquela mulher quando eu disse que ficaria.

Ouvi a porta da frente abrindo e levantei imediatamente. Era o irmão de Elisa, Bruno. Ele tinha minha altura e alguns cachos caiam sob sua testa. Os olhos eram iguais aos da mãe e tinha um sorriso presunçoso no rosto quando me encarou.

— Deveria imaginar que isso aconteceria um dia — comentou. — Minha irmãzinha finalmente fisgou alguém.

Não respondi ao comentário dele e quando sua boca abriu para falar mais alguma coisa, ouvimos o grito de sua mãe.

ACHA QUE EU ME IMPORTO COM ISSO? — E então, silêncio. Bruno e eu paramos para ouvir. Minha angústia voltou com mais intensidade ao imaginar Elisa acuada, ouvindo coisas das quais ela não tinha culpa. — JÁ QUE VOCÊ ABRIU AQUELA MALDITA PORTA E NOS ATRAPALHOU.

— O que aconteceu? — perguntou Bruno, dessa vez com uma voz tensa.

— Abrimos a porta e demos com uma cena... constrangedora de sua mãe e um rapaz aqui no sofá — expliquei.

Bruno tirou a mochila nas costas e xingou algo baixinho. Decidi que não ficaria ali parado e me mexi para subir as escadas, quando a mão de Bruno segurou meu braço, me parando.

— Não.

— Se você está acostumado a ficar parado enquanto sua irmã é atacada por sua mãe, é problema seu — respondi, tirando sua mão de mim.

Ele me olhou com raiva e me empurrou de volta pro sofá.

— E você acha que pode chegar na vida dela assim e se meter como bem entender? 

— Se ninguém está decidido a fazer isso por ela, é, acho que posso sim — respondi me levantando, sem me intimidar com o olhar furioso que ele me deu. — Fomos ao cinema mais cedo, voltamos pra casa e íamos estudar. Ela não sabia que sua mãe estava em casa, nem o que estava fazendo. Então por que ela está lá em cima com sua mãe?

— Eu cuido de Elisa mais do que você imagina — respondeu.

Dei um riso debochado.

— Pelo que ela me conta nada do que você faz é cuidadoso.

— É claro que não, você só conhece o lado da história dela. Não conhece o meu: o irmão idiota que só se preocupa com ele mesmo. Que tal esse plot twist: o irmão que finge não gostar da irmã pra fazer com que a mãe não dê tanta atenção pra ela? Que tal entender o lado da mãe, que foi expulsa de casa para viver um amor, se casa e é abandonada por seu marido pra ficar com outra mulher e a filha mais nova o apoia? Ninguém é inocente nessa história.

— Bem, isso justifica o modo como ela humilha a filha psicologicamente. É mais fácil culpar os outros do que a si mesmo.

Bruno estava prestes a avançar para cima de mim quando ouvimos um estrondo no andar de cima, seguido pela voz de Elisa gritando, pedindo que parasse. Ele estava mais perto da escada e logo correu para cima, enquanto eu ia atrás dele. O irmão dela abriu a porta e eu o alcancei quando estava tirando a mãe, totalmente descontrolada, do quarto. 

O Amor que vem de Deus (Completo - Em revisão)Where stories live. Discover now