A carta

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Era um dia frio e chuvoso na cidade onde o jovem rapaz estava morando. Ele tinha acabado de voltar pra casa depois de um dia exaustivo de trabalho, estava ensopado e congelando. O grosso casaco que usava não era suficiente para aquecê-lo naquele vento assustadoramente forte. A antiga casa que vivia temporariamente era emprestada de um primo distante, pois ele não podia pagar por uma melhor. Ela estava cheia de goteiras, e com enormes infiltrações nas paredes.
Ele entrou no único quarto da residência, cujo cheiro de mofo era mais forte do que em qualquer outro cômodo, e deitou no duro colchão que ele deveria chamar de cama. Por um longo período de tempo, pensou na sua mais recente e dolorosa perda, das incontáveis que ele havia vivido em sua tão curta vida. Sua esposa. Sua adorável e bela esposa. Toda vez que pensava nela ele fazia um esforço absurdo para não chorar, porque ela detestava vê-lo fazendo isso.
Olhando para as escuras manchas do teto, ele imaginava todo o passado deles e o brilhante futuro que teriam pela frente. Gostava de fazer isso acreditando que ela ainda estava ao seu lado, o abraçando do jeito intenso e apaixonado que só ela sabia fazer. Lembrava de seus cabelos castanhos e sedosos, que tinham cheiro de pêssego enquanto segurava seu vestido preferido, que era verde com uns laços, e também lembrava de como ela parecia ainda mais deslumbrante quando o vestia.
Remexendo uma antiga caixa onde a esposa costumava guardar seus pertences, achou uma carta um pouco amarelada pelo tempo, que ainda continha o cheiro do perfume que ela usava todos os dias, o primeiro presente que ele havia dado a ela. A carta era de quando ela tinha viajado para Londres e havia ficado um mês lá. Uma semana antes de descobrir que estava doente. Ele nunca soube da existência da carta.
"Querido Ollie*,

Aconteça o que acontecer, saiba que eu te amo. Como ninguém nunca te amou e jamais amará. Os votos que fizemos no nosso casamento, se renovam diariamente e eu sei que isso acontecerá eternamente. Nunca tive dúvidas do seu amor por mim. Lembro como se fosse ontem do dia que nos conhecemos, do nosso primeiro beijo... E quando descobrimos que eu estava grávida.
Não fique triste pelo fato de eu não ligar ou mandar notícias, saiba que eu sempre estarei com você em qualquer lugar que você for, na sua mente, nas memórias e principalmente no seu coração. Além disso, logo estaremos juntos novamente, com nosso bebê observando as nuvens e as estrelas.
Não se preocupe, eu vou estar sempre bem. Sou forte, não sou? Sei me cuidar muito bem e também sei que você está ciente disso. Mas por favor, não perca seu tempo pensando na minha segurança.Viva e seja feliz.

Com todo o amor, Jennifer."

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*Inspirado no filme Love Story.

Contos para dias chuvososWhere stories live. Discover now