Invisíveis

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A pobre e assustada menina vagava pelas ruas escuras e desertas da cidade, uma visão bem triste e comum das noites de ano-novo daquela região. Seu nome não importava. Era só mais uma andarilha desafortunada como centenas de outras.
Diariamente, escutava as conversas dos diversos tipos de pessoas que passavam por ela, ricas ou pobres, boas ou más. A maioria delas agia como se a pequena garota fosse invisível, por isso revelavam e faziam várias coisas absurdas na frente dela.
A menina se divertia com a ingenuidade e a seriedade desnecessária dos adultos a sua volta. Às vezes, quando conseguia comida dessas pessoas, geralmente um resto de sanduiche ou um pedaço de pão velho, compartilhava o que havia ganhado com as outras crianças que viviam na rua. Depois elas contavam as coisas bizarras que tinham escutado durante o dia e dormiam todas juntas em um grande cobertor remendado, em um beco escondido.
Essa noite, a garota não foi procurar seus amigos. Ela quis saborear a solidão do Luar no ano novo, enquanto tinha recordações da sua família que a abandonara a mais tempo do que conseguia se lembrar. Subiu no telhado da pequena igreja local depois de fazer uma breve oração pela sua família, da qual jamais guardou rancores. Depois disso, pegou seu colar de cruz, que ficava escondido em uma pequena fresta na parede do edifício e foi observar as estrelas.
Quando o sino da igreja bateu meia-noite, a menina admirou os fogos de artifício que coloriam o céu e ouviu as comemorações e todo o alvoroço que vinha em comitiva com o novo ano. Enquanto escutava essas coisas, lembrou de sua mãe, o único adulto que a amava no mundo e não a tratava como se fosse invisível.
Adormeceu ali mesmo, com as gotas finas e frias de chuva molhando seu rosto. Sonhou e como sonhou, com a felicidade que um dia haveria de brotar na sua triste vida. Um dia.

Contos para dias chuvososWhere stories live. Discover now