Capítulo 7

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Recebi o primeiro envelope no mesmo dia em que Summer completou dois meses de vida. Naquela época, a realidade me atingia como um raio, uma vez que estava sozinha, com um bebê, e sem nenhum tostão. Tudo estava difícil e receber uma carta, vinda do Arizona, me tirou dos eixos.

Passei dois dias pra abrir o envelope, sofrendo por antecipação. Não vou negar e dizer que não imaginei que fosse uma longa carta de desculpas, mas o que eu podia fazer? Eu era uma menina que tinha sido jogada no mar da realidade e estava nadando contra a correnteza, um pouco - ou muito - de ingenuidade não fazia tão mal.

No entanto, nunca pensei que, ao abrir a carta, pudesse me deparar com algumas - muitas - notas de cem e cinquenta.

Foi um choque. Um puro e completo choque.

Por alguns vários segundos eu só fiquei encarando as notas verdes espalhadas pelo chão, me perguntando como alguém tinha mandado tanto dinheiro pra mim. E só dinheiro. Sem carta, bilhete, ou uma simples explicação ou motivo. As únicas coisas escritas eram o endereço do remetente, que era do Arizona, e as letras J.P. Acho que aquilo era bastante auto explicativo, certo?

Contudo, ao invés de ficar feliz por finalmente ter um dinheiro folgado pra um ou até dois meses inteiro, fiquei furiosa. Furiosa do tipo: rasguei o envelope inteiro. O motivo? Eu estava além de brava com a covardia de Jack. Ele não conseguia ligar pra mim, pra filha, mas me mandava dinheiro como algum tipo de consolo, algum tipo de "cala-a-boca".

E, além de brava, eu também estava confusa. O que diabos eu faria com todo aquele dinheiro? Meu orgulho jamais me permitiria usar aquele dinheiro, principalmente porque eu tinha dito pra ele que não queria ajuda, muito menos a dele, e que iria criar Summer sozinha. Então, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: juntei todos os pedacinhos do envelope rasgado do chão e os uni. Bem, uni da melhor forma que pude depois de ter tido um ataque de fúria, claro.

Depois que consegui remendar a carta, comprei outro envelope, pus o dinheiro do mesmo jeito que tinha chegado, e enviei pra o endereço do remetente, querendo dar um fim de uma vez por todas naquela palhaçada.

E eu dei. Até que, passada uma semana, a carta voltou pra mim do mesmo jeito que eu tinha enviado.

Eu pirei. Chorei o dia inteiro. De raiva, frustração, raiva, mais raiva, mais raiva ainda, saudade, e mais raiva. Eu desmoronei, e Summer pareceu sentir, porque chorou junto comigo. No entanto, passado o dia estressante, pensei com mais clareza e decidi fazer uma pequena vingança. Uma afronta pra Jack saber que eu não precisava dele. Muito menos do dinheiro dele.

Dividi a quantia que ele tinha mandado em dois e escolhi duas instituições de caridade que eu queria ajudar. Um abrigo em Jackson e uma ONG de médicos que davam assistência médica e humanitária a populações em situações emergenciais. Quando doei o dinheiro, mandei os recibos de doações no mesmo envelope de volta pra o remetente. Pronto, a afronta tinha sido lançada, e eu rezava pra ele se sentir tão frustrado e raivoso quanto eu.

E realmente pensei que eu tinha lhe dado um soco metafórico com aquilo, afinal, depois disso, passei dois meses sem receber outra carta. Até que, no dia em que Summer completou quatro meses, outra carta chegou, com um pouco menos de dinheiro que a anterior, mas fiz o mesmo que a primeira.

Chegava a ser cômico e trágico. Não trocávamos palavras, apenas dinheiro e recibos. As cartas costumavam vir de dois em dois meses, às vezes de mês em mês, mas sempre com uma alta quantia, e que, ao contrário do que pensam, não me dava qualquer remorso em doar, pelo contrário, eu me sentia muito bem.

Contudo, a última carta tinha vindo há quatro meses, e pensei que ele finalmente havia desistido. Então imaginem meu choque ao receber essa, com o endereço de remetente de Washington, e mesmo Jack estando de volta.

4 Years of StruggleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora