Capitulo 16

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Acordei gritando de pavor, meus olhos demoraram a se ajustar a pouca luz do ambiente. Minha garganta estava seca e dolorida, meus olhos estavam molhados e arregalados, respirava ofegantemente e rasamente, parecia que eu não conseguia colocar bastante ar para dentro dos meus pulmões. Estava na minha cama, na minha casa e desejei ter ficado na casa e na cama de Li. Tinha tido aquele pesadelo com os meus pais novamente, meu coração estava acelerado, sangue corria apressadamente pelas minhas veias. Chorei, lagrimas que pareciam intermináveis, fazia bastante tempo que eu não acordava assim, o medo estava estalado em cada parte do meu corpo e eu estava paralisado, queria me levantar e fazer algo, mas não conseguia. Quando eu me acalmei o suficiente para me levantar e ir até a cozinha para beber um copo d'agua meus irmãos apareceram.

- Você esta bem, Chris? - A voz de Larissa estava enrolada, ela estava com sono. Seus cabelos loiros estavam amassados de um lado do rosto e seu pijama estava todo amassado - Ouvimos você gritar.

- Não foi nada - Minha voz saiu muito mais rouca do que o normal, tossi e tentei novamente - Foi apenas um pesadelo, vocês podem voltar a dormir.

O silencio constrangedor que já estava se tornando comum entre a gente se estalou no pequeno cômodo, eles me olhavam e eu encarava eles. Não demos nenhum passo, ficamos parados no mesmo lugar. Quando eu ia abrir a boca para mandar eles se deitarem novamente, Pedro falou antes de mim.

- Isso estar ficando insustentável - Ele deu um passo e se sentou em um das quatro cadeiras que ficavam ao redor da pequena mesa, quando ele já estava perfeitamente sentado gesticulou para nós três e depois para as cadeiras. Caio e Larissa se sentaram perto do irmão em uma das pontas e eu fiquei com a outra - Quantas vezes vamos ter que pedir desculpas?

- E quantas vezes eu já falei que vocês não precisam se desculpar?

Eles me olharam como se estivessem me olhando pela primeira vez, olhos em três tons de azul me encaravam e isso estava me deixando desconfortável. Subitamente e igualmente todos eles esticaram as mãos e prenderam nas minhas que estavam sobre a mesa, o movimento inesperado da parte deles me pegou desprevenido. As mãos de Caio e Pedro cobriam as minhas, as minhas mãos eram menor do que as de Larissa. Todos eles entrelaçaram os dedos nos meus e ficamos assim.

- Você estava tendo outro daqueles pesadelos de anos atrás, não estava? - Não foi exatamente uma pergunta, todos eles sabiam que esses pesadelos me assombravam a muitos anos.

- Sim, o mesmo de anos atrás - Respondi e vi Caio engolindo em seco, Pedro olhar para a mesa e Larissa morder o lábio inferior intensamente. Do mesmo jeito que eles sabiam que eu tinha esses pesadelos, eles sabiam de que eles se tratavam.

- É sempre a mesma coisa? - A voz de Caio saiu dolorida, por uns breves segundos eu consegui ver novamente a criança apavorada e cheia de dor que ele foi depois que nossos pais morreram, mas foram apenas segundos. Do mesmo jeito que eu busquei acalentar minha dor e tristeza depositando todo o meu tempo e amor neles, eles também construíram uma fachada durona, mas aqui, sentado nessa mesa eu conseguia ver as rachaduras nos murros que trancavam a dor deles.

- Sempre - Respondi - Eu, depois nossos pais e por ultimo vocês.

Eu tinha contado para eles sobre o teor dos pesadelos duas noites depois de eu acordar gritando, pelo simples fato que eles também tinham pesadelos. Quando morávamos com a tia Enestine e eles tinham pesadelos e acordavam no mais puro estado de terror, eu levava a surra no lugar deles. Nunca deixei ela tocar um dedo neles, ela podia ser uma tirana, mas ela foi a minha salvação.

- Os nossos não são assim - Larissa disse, vi seus olhos brilhando na luz bruxuleante do pequeno cômodo - O meu o trecho que meu pais diziam que me amavam, mas eles não estão mais aqui e isso é uma puta brincadeira do meu cérebro.

AbrigoWhere stories live. Discover now