Capítulo 053

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Diego estava bastante satisfeito com o trabalho da nova estagiária que havia contratado recentemente. Jessye estava se saindo muito bem no teste de uma semana que ele havia proposto, recebendo até mesmo alguns elogios da equipe médica por sua eficiência. Uma pena tudo se tratar apenas de mais uma jogada recheada dos piores interesses.

Passado o teste, ela trabalharia com a equipe oncológica. A tarefa era simples: ficar responsável pelo controle da medicação dos pacientes, na tabela fixada na parede do posto 7.

- Aqui - Janet, a enfermeira chefe da oncologia estendida a ela dois comprimidos - É bom você levar um copo com água, por precaução.

- Tudo bem - ela murmurou um moxoxo.

- O quarto é o 42 e a paciente se chama Ísis - explicou apontando a tabela - É bom você a tratar com um pouco mais de delicadeza - alertou - O pai dela é o chefe geral da equipe médica aqui do hospital.

Jessye então voltou os olhos ao prontuário em frente a cama do quarto 42. Uma mulher morena de olhos azuis olhava para ela com gentileza enquanto a garota de cabelos loiros dormia.

- Se você quiser deixar os medicamentos sobre a mesa - apontou - Eu dou a ela assim que acordar.

- Se não for trabalho - Ruth negou.

- Não será trabalho algum.

Jessye então deixou os dois copos com a medicação sobre a mesa de mogno, olhando curiosa. Algo dizia que ela e aquela paciente ja se conheciam, de um passado não muito distante. Ela terminava de deixar as coisas sobre a mesa quando Diego entrou no quarto.

- Olá Ruth - a cumprimentou - Olá Jessye.

- Olá - lhe deu um sorriso tímido.

- Como Ísis está? - se aproximou da cama alisando os cabelos dela, o que deixou Jessye confusa.

- Dormiu quase o dia inteiro - sorriu - Só acordou pro jantar.

- Não vejo a hora de tudo isso acabar - suspirou.

- Esta perto - Ruth passou-lê confiança - Max me disse hoje que podemos iniciar o tratamento com as células-tronco assim que o Matheus nascer.

- Espero que tudo dê certo - sorriu ainda a olhando.

- Vai dar - Ruth tocou-lhe o ombro por cima do jaleco. Só então os dois se deram conta da presença de Jessye ainda ali, que observava a cena distraída.

- Bom, eu ja estou de saída - disse sem graça - Só não esqueça da medicação, por favor.

- Eu me encarrego disso Jessye, pode ficar tranquila.

E então ela saiu fechando a porta a suas costas. Tinha algumas medicações a fazer mas não antes de matar a curiosidade que já a consumia desde que dera de cara com aquela garota sobre a cama daquele quarto. Faltava apenas uma peça para que o quebra-cabeças estivesse montado, e ela não esperaria até o fim do plantão pra isso.

- Escuta Megan - falou com a recepcionista que lixava as longas unhas azuis bastante desinteressada.

- Pode falar - murmurou sem tirar a atenção do que fazia.

- Você sabe me dizer o nome completo da paciente do 42? - Megan quase riu. Novatas.

- Eu não posso passar informações dos pacientes docinho - explicou - São normas internas do hospital.

- Hmmm - pareceu pensar - Você gosta muito do Tom Cruise né?

- Tá brincando? Eu sou completamente apaixonada por ele - desatou a falar - Sabe naquela vez em que ele - Jessye a interrompeu.

- Então, eu tenho um amigo que podia descolar alguns ingressos pra pré-estréia do novo filme dele - sorriu insinuante - Isso custaria apenas a sua colaboração, o que acha?

- Eu não sei - a garota loira largara a lixa de unhas e a observava - Vai contra as normas do hospital.

- Qual é Meg? Ninguém precisa saber disso - sugeriu - Encare como sendo o nosso segredinho - sussurrou.

- Garota você vai me meter em problemas - maneou a cabeça rindo em sinal de reprovação.

- Eu já disse, ninguém vai saber.

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Ísis relaxava sobre a cama do hospital. A avó havia acabado de ir ao banheiro e ela estava sozinha vendo televisão quando acabou pegando no sono. Faziam mais de três meses que ela estava ali. Boa parte do começo do inverno havia presenciado pela grande janela de vidro que dava de frente para o Jardim do hospital.

Ela pensava em várias coisas. Nos trabalhos atrasados da faculdade, na saudade que sentia do próprio quarto naquele apartamento pequeno do pai no Upper East Side. Em como a mãe estava se virando com todo o lance da gravidez sem a ajuda dela.

Ela vestida de branco na casa de praia dos avós em Miami, a mesma onde os pais haviam se casado anos antes. A marcha nupcial soava, tocada apenas por um piano de caldas, o pai, elegante, a conduzia por um braço enquanto o avô a conduzia pelo outro até o altar. Os dois a entregavam a Diego que estava maravilhoso no terno Armani que usava. As bochechas fazendo covinhas com o sorriso que ele dava.

O irmão Matheus era quem levava as alianças, vestido como um legítimo pajem, pequenininho e a cara de Alfonso. A irmã Isadora segurava o buquê para ela ao lado da mãe, as duas sorridentes. Anahí bastante chorosa. O padre autorizava o beijo e os dois saíam pela porta da igreja sendo recepcionados por uma chuva de arroz liderada por Maite.

No jantar todos os amigos e familiares dos dois, a valsa dos noivos, o início do baile, até que na hora do corte do bolo ela caiu sobre o chão frio de mármore do salão de festas.

De repente acordou novamente em uma gélida e impessoal cama de hospital. Uma mão com unhas vermelhas seguravam-na firmemente pelo pescoço afim de asfixia-la. Ela se remexia, tentava se soltar mas era tudo em vão. Era como se suas mãos e pernas não a respondessem mais.

Então ela conseguiu abrir os olhos uma última vez e viu um par de olhos verdes tomados pelo ódio e o jaleco branco com a letra J na inicial do nome, que ela não conseguiu ler por completo porque segundos depois viu seu corpo desfalecer e ouviu o silêncio do coração deixando de bater.

- Ísis - a avó pedia assustada com a movimentação dela durante o sono - Querida, está tudo bem - a tranquilizou - Foi apenas um sonho.

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