Capítulo 5 (p.1/2) - Tentativas infelizes

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Valéria Gentil vivia na pacata cidadezinha chamada Vila Pequena, e era justamente isso que ela havia procurado naquela altura da vida, um lugar simples que a fizesse bem. Finalmente achara.

Trabalhava como professora na creche de Vila Pequena, e amava o que fazia. Os pequeninos a chamavam de "Tia Val", e ela se derretia toda com o carinho que emanava deles.

Num final de semana, como era de hábito, foi até a janela de sua sala para apreciar a simplicidade do lugar e ver o motivo de tanta correria e algazarra das crianças.

Estava quente, mas a visão ensolarada compensava o calor. Com um copo de limonada na mão, contemplou a rua, bebericando o suco e refletindo sobre a vida.

Valéria era uma mulher decidida e comprometida. Amava a simplicidade, embora anos antes não ligasse para isso tanto assim. Teve, e os aproveitou muito bem, seus momentos aventureiros e radicais, mas quando fez trinta anos, decidiu optar pela "paz", pelo sossego, e tirar um tempo só para ela. Foi quando se formou em Pedagogia e se aventurou na vida ao lados das crianças.

Quase todo mundo em Vila Pequena a conhecia e gostava dela, pois era uma pessoa do bem. Sempre ajudava os próximos, era ótima companhia para conversas e boa conselheira.

Desde nova, honrava sua independência. Havia se afastado dos irmãos em busca de algo novo. Não havia rixa ou qualquer tipo de rivalidade entre eles, mas as vidas que almejavam eram díspares demais. Eram sonhos diferentes. E nas andanças cheias de jovialidade, foi fazer de Vila Pequena a sua morada.

Mesmo aos trinta e quatro anos, nunca havia se casado, pois seus poucos romances não duravam muito. Ela não gostava de homens machistas e autoritários mas, talvez por azar, só conheceu homens assim.

Sou apaixonada pela minha profissão, e isso já me basta.

Mas ela sabia que não era bem por aí.

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Num determinado dia, Valéria caminhava pela praça central da cidade, com um vestido longo e florido que combinava com a paisagem primaveril. Sempre dava esses passeios para relaxar, e a praça oferecia um ambiente calmo e relaxante. Naquele dia, a pista de caminhada estava lotada. Do outro lado, ciclistas suados passavam, alguns arriscando pequenas manobras, executadas com perfeição. Ela ficou ali contemplando a paisagem mais um pouco. O vento surrava seus cabelos, que brilhavam com a luz do Sol. Levantou-se de seu banco favorito, e distraída, chocou-se com alguém. Seu corpo pendeu para trás, mas o homem agarrou sua cintura gentilmente e a ajeitou na posição correta. Quando ela fitou seus olhos, ficou admirada - esbarrara num homem alto, forte e bem vestido, quase um galã de televisão.

Foi dessa maneira desastrosa que conheceu o seu grande amor. Ricardo Talles, que passou a ser chamado de Rick.

De um esbarrão numa praça, a uma conversa na sorveteria (como pedido de desculpas), a jantares, ao compromisso de namoro e à concretização de um romance doce.

Ricardo se mostrou boa pessoa, além de conversar bem, pois, como era coach em administração de empresas, tinha muita desenvoltura em comunicação. Sua companhia era agradável. Ele era o tipo de pessoa fácil de lidar... porém, também era um apaixonado por seu trabalho e, como Valéria havia percebido, ambos davam mais importância à profissão do que à relação. Foi quando o romance esfriou, chegando até a ser considerado um empecilho na vida dos dois.

Decidiram se separar antes de dar o "passo do casamento" e interromper o plano de aumentar a suposta família. Sim, chegaram a pensar em ter um filho, mas ainda bem que desistiram, não é mesmo? Sabiam que não daria certo levar o noivado adiante.

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora