Capítulo 26 - O depoimento de Fabiano

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O despertador acordou o detetive às 16h30. Seu corpo estava dolorido, e seus músculos não haviam relaxado com o cochilo que dera. Tomou um banho rápido, preparou um café bem forte para tentar se manter o máximo que podia acordado e foi até a casa de Fabiano.

Chegou lá por volta das 17h15 e admirou a casa do melhor amigo do falecido Sr. Augusto. Diga-se de passagem, o lugar poderia ser considerado uma pequena mansão.

William estacionou o carro e foi até um interfone localizado próximo ao enorme portão de madeira. Quando acionou o botão, pôde ver uma câmera de segurança logo acima de sua cabeça. Um estalido pôde ser ouvido e uma voz metálica disse:

— Pois não?

— Sou o detetive William Guimarães Silva e gostaria de conversar com o Sr. Fabiano.

Após alguns segundos de silêncio, o empregado de Fabiano pediu que aguardasse. Um minuto mais tarde, o grande portão de madeira emitiu um barulho e começou a se mover para cima, tracionado por um motor. William foi até seu carro, manobrou, e entrou na garagem.

Fabiano o recebeu com cumprimentos desanimados e eles se instalaram na sala pouco iluminada, mas aconchegante. Depois de recusar todo tipo de bebida, como café, chá, suco, água, e até chocolate-quente, William pôs-se a fazer seu trabalho.

— Estou investigando os assassinatos do Sr. Augusto Gentil e de sua sobrinha Juliet Gentil. Como percebe, estamos lidando com um duplo homicídio.

— Entendo.

— Posso notar sua dor, mas gostaria que me ajudasse no caso. Estou interrogando todas as pessoas próximas à família Gentil, inclusive aquelas que aparecem em seu testamento.

Depois de enxugar os olhos lacrimejantes, Fabiano respondeu, encarando o lenço em suas mãos:

— Entendo perfeitamente. Ajudarei com tudo que eu puder.

O detetive seguiu com suas perguntas-padrão, como: 1. Onde estava por volta do horário dos assassinatos?; 2. O que fazia?; 3. Com quem estava?; 4. Tem algum álibi que comprove? 5. Como soube dos crimes? E assim por diante.

Fabiano respondeu a todas as perguntas. Disse que passara a tarde e a noite inteiras em sua casa, sem visitas, dormira um pouco mais tarde que o horário habitual, e que havia câmeras que comprovavam que não tinha saído de casa desde que chegara do almoço na mansão dos Gentil.

William preencheu a ficha que tinha tirado da mala com as respostas de Fabiano.

— Apenas cumprindo a burocracia do meu trabalho — disse, de forma amigável.

Fabiano deu um sorrisinho amarelo. Depois disso, o detetive relatou, de forma sucinta, os últimos acontecimentos.

— Agora que o senhor já sabe basicamente o que aconteceu, quero ser direto. Há alguma informação importante que pudesse me dar sobre o envenenamento do Sr. Augusto? Ou até mesmo sobre a pobre moça Juliet?

— Eu não sei bem o que dizer... Tudo parecia normal ontem. Almocei com Gu, perdão, com Augusto... e absolutamente nada de anormal ocorreu. Ele parecia perfeitamente bem.

— Alguma chance de ele ter sido envenenado neste almoço?

— Tomara que não. Se ele foi envenenado no almoço, todos nós morreremos, pois comemos da mesma comida. Como eu disse, tudo estava normal.

— Mas concorda que, dependendo da quantidade de raticida ingerida no almoço, o efeito pode ter sido lento?

— O que está sugerindo, detetive?

— Estou apenas raciocinando, Sr. Fabiano. Quero saber se o senhor não notou nada de estranho, mesmo que remotamente.

— Reafirmo minhas palavras. Não haveria chance de isso acontecer no almoço, a não ser que um dos empregados tivesse feito isso antes de servir a comida. Mas se tem alguma suspeita sobre mim, pode descartar, porque eu e Augusto éramos muito amigos.

— Claro. Já tomei conhecimento de que o senhor era amigo de infância do Sr. Augusto.

— Sim — concordou. — Sempre fomos grandes amigos.

Fabiano começou uma narrativa pomposa falando da amizade dos dois. Citou coisas pessoais e falou das dificuldades que passou por causa de dinheiro. Comentou sobre o afastamento deles e sobre o reencontro.

Era evidente que o reencontro, depois de décadas, tinha feito William ficar com uma pulga atrás da orelha. As engrenagens funcionavam a todo vapor em sua cabeça, embora o detetive parecesse um ghost-writter colhendo informações para escrever a biografia do velho Augusto e seu amigo reaparecido. Não parecia uma investigação.

Fabiano falou, chorou, sorriu, ficou sério, pensou, se calou e tornou a falar. Num momento mais voltado ao presente e com o testamento na cabeça, William lançou a pergunta mais direta daquele encontro:

— O senhor é ganancioso? Gosta de riqueza?

Deu para perceber o olhar de surpresa com o qual Fabiano recebeu a pergunta.

— Não vou mentir, detetive — pigarreou e se endireitou na poltrona de estilo retrô. — Eu era muito pobre. Meu amigo Augusto que me deu essa vida de riqueza. Nunca tive muito dinheiro, e quando me tornei rico, aprendi a viver como rico, não sei se me entende. Ganancioso é algo que não me define, mas sou apegado ao dinheiro. Acredito que todo mundo seja.

— Ao ponto de assassinar alguém?

— Acredito que existam muitos tipos de pessoas neste mundo. Pessoas que assassinam por dinheiro já viraram um assunto banal. — Fabiano desabotoou um botão da camisa para se sentir um pouquinho mais a vontade, como era corpulento, muito acima do peso ideal, sentia-se sufocado de maneira fácil e rápida, ainda mais naquela hora, quando o assunto era assassinato por dinheiro!

— Não seria novidade dizer que alguém diretamente, ou até mesmo indiretamente, assassinou os Gentil, não é mesmo?

— Sem dúvidas. Foi a primeira coisa que me ocorreu.

— Suspeita de alguém, Sr. Fabiano?

A dúvida apareceu nessa hora, seu olhar ficou distante, como se visse além da sala vintage.

— Não tenho suspeitas, senhor — optou por dizer.

Outras perguntas foram feitas, mas William classificou aquele interrogatório como "não produtivo". Anotou algumas coisas na ficha destinada ao depoimento de Fabiano Rosa Vieira e guardou em sua maleta.

Despediu-se após entregar seu cartão e foi à casa de Abilene. Falaria com Natan.

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora